A equidade de gênero no mundo corporativo tem muitas facetas que precisam de uma análise cuidadosa. Uma delas está relacionada ao volume de trabalho, conforme aponta o estudo Retrato das Desigualdades de Gênero e Raça com base em séries históricas de 1995 a 2015 da Pesquisa Nacional por Amostra de Domicílios (Pnad), do IBGE. As mulheres trabalham, em média, 7,5 horas a mais que os homens por semana. Em 2015, a jornada total média das mulheres era de 53,6 horas, enquanto a dos homens era de 46,1 horas.
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A dupla jornada se mantém: em relação às atividades não remuneradas, mais de 90% das mulheres declararam realizar atividades domésticas – proporção que se manteve quase inalterada ao longo de 20 anos, assim como a dos homens (em torno de 50%).
“É importante ressaltar que o fato de exercer atividade remunerada não afeta as responsabilidades assumidas pelas mulheres com as atividades domésticas, apesar de reduzir a quantidade de horas dedicadas a elas. As mulheres ocupadas continuam se responsabilizando pelo trabalho doméstico não remunerado, o que leva à chamada dupla jornada”, destaca Natália Fontoura, especialista em políticas públicas e gestão governamental e uma das autoras do trabalho.
Nesse quadro, as mulheres de renda mais baixa sentem ainda mais esses efeitos. Quanto mais alta a renda, menor a proporção das brasileiras que afirmaram realizar afazeres domésticos: entre aquelas com renda de até um salário mínimo, 94% dedicavam-se aos afazeres domésticos, contra 79,5% entre as mulheres com renda superior a oito salários mínimos. Em situação inversa estão os homens. A parcela dos que declararam realizar trabalho doméstico é maior entre os de mais alta renda: 57% dos que recebiam de cinco a oito salários mínimos diziam realizar esses afazeres, proporção que cai a 49% entre os que tinham renda mais baixa.
Quadro racial
Se a equidade de gênero é um peso sentido pelas mulheres, entre as mulheres negras ele é ainda maior. Apesar de, proporcionalmente, o rendimento das mulheres negras ter sido o que mais se valorizou entre 1995 e 2015 (80%), e o dos homens brancos ter sido o que menos cresceu (11%), a escala de remuneração manteve-se inalterada em toda a série histórica: homens brancos têm os melhores rendimentos, seguidos de mulheres brancas, homens negros e mulheres negras.
O estudo também destaca a diferença da taxa de desocupação entre sexos: em 2015, a feminina era de 11,6%, enquanto a dos homens atingiu 7,8%. No caso das mulheres negras, ela chegou a 13,3% (e 8,5% para homens negros).
Essa diferença racial também é identificada nos números sobre a escolaridade brasileira – mesmo com alta, a desigualdade é evidente. Entre 1995 e 2015, a população adulta negra com 12 anos ou mais de estudo passou de 3,3% para 12%. Entretanto, o patamar alcançado em 2015 pelos negros era o mesmo que os brancos tinham já em 1995. Já a população branca, quando considerado o mesmo tempo de estudo, praticamente dobrou nesses 20 anos, variando de 12,5% para 25,9%.
Mulheres trabalham 7,5 horas a mais que os homens por semana
Além de encarar um alto volume de trabalho, as brasileiras ainda lidam com a jornada dupla – situação se agrava quando somada à questão racial
- Raisa Covre
- 3 min leitura
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