Até o começo de 2020, o teletrabalho parecia algo distante da maioria dos profissionais no Brasil. Com a chegada da pandemia de Covid-19, as empresas se viram obrigadas a buscar alternativas para continuar operando, e muitas delas adotaram o trabalho remoto, com a possibilidade de contratar profissionais de outras cidades ou até países.
Porém, o isolamento social e a plena adoção do trabalho remoto pelas empresas resultou em um quadro preocupante: no primeiro ano da pandemia, casos de ansiedade e depressão aumentaram em 25%, de acordo com um resumo científico divulgado em março pela Organização Mundial da Saúde (OMS). “As informações que temos agora sobre o impacto da Covid-19 na saúde mental do mundo são apenas a ponta do iceberg”, afirmou Tedros Adhanom Ghebreyesus, diretor-geral da OMS em março deste ano.
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Agora, com o avanço da vacinação e a diminuição das restrições, o panorama do “pós-pandemia” fica cada vez mais claro. Os modelos de trabalho remoto e híbrido ganharam força e mostraram que vieram para ficar. Mas qual o impacto do home-office na saúde mental dos colaboradores?
Mais pressão, menos desempenho
Durante a pandemia, muitas preocupações rondaram a mente dos trabalhadores: a pressão emocional, a crise financeira e a transformação do mercado geraram insegurança. “O discurso nas corporações é de que ‘precisamos mudar, nos reinventar, criar coisas novas’. É tudo para ontem. E isso leva ao ponto de falta de reconhecimento profissional, pois, ao mesmo tempo em que existe o estresse e a pressão por inovar, o esforço dos colaboradores não está sendo reconhecidos pela gestão” aponta Patricia Punder, advogada e CEO da Punder Advogados.
Nesse período, houve a transformação no entendimento das pessoas sobre o que é o trabalho e até que ponto estão dispostas a vestir a camisa da empresa: “Até que ponto os colaboradores estão dispostos a dar o melhor de si ou, em situações extremas, chegar à Síndrome de Burnout se a gestão não parece enxergar os colaboradores nem adota uma cultura positiva no ambiente de trabalho?”, indaga a advogada.
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Segundo Patricia Punder, uma cultura corporativa tóxica não está apenas no assédio moral ou no excesso de horas trabalhadas. Está no chefe que não xinga, mas não olha e nem fala com os colaboradores, na empresa que não dá voz para que seus funcionários opinem sobre os caminhos do próprio trabalho, na cultura que despersonaliza o indivíduo e privilegia ainda mais aqueles que já são privilegiados.
Como oferecer apoio aos colaboradores?
Com as mudanças radicais na rotina e na forma de trabalho, foi preciso adotar medidas emergenciais para garantir a segurança de quem exerce o trabalho remoto. Sergio Rodrigo Russo Vieira, advogado especialista em gestão empresarial e sócio-diretor do Nelson Wilians & Advogados Associados, revela quais ferramentas têm sido aplicadas para a saúde mental de colaboradores em home office durante a quarentena:
1. Acompanhamento psicológico
Disponibilizar psicólogos para acompanhar os colaboradores em teletrabalho, oferecendo suporte durante o isolamento, com atendimento psicológico e sessões de terapia, pode diminuir episódios de estresse e aumentar a produtividade.
“Não adianta cobrar dos colaboradores que produzam bem se a mente deles estiver atribulada com incertezas e ansiedade. É fundamental garantir o bem-estar e a saúde mental dessas pessoas”, ressalta o advogado.
Além do apoio psicológico, Sergio Vieira aponta que supervisores ajudam a monitorar o andamento dos trabalhos e dão suporte operacional aos colaboradores: “Cada grupo de colaboradores em teletrabalho tem um supervisor, que acompanha a rotina e faz o papel de microgerenciamento, no qual ao fim do dia ou do período estipulado, revisam-se as metas que foram estabelecidas e mensuram-se os resultados obtidos. Isto tem funcionado muito bem pra os colaboradores em teletrabalho e nos ajuda também a verificar o sucesso do modelo de home office”.
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2. Tempo de pausa
Outra medida que colabora com a saúde mental é investir em sessões de meditação e relaxamento durante o horário de trabalho. Isso ajuda os colaboradores a descansar a cabeça por um momento, retomando o foco e a serenidade para lidar com suas questões internas também, alcançando melhor produtividade.
3. Formato de trabalho flexível
Atendidas as questões de produtividade e metas, o colaborador pode ter a liberdade de decidir se irá trabalhar no escritório, se ficará em home office ou se irá fazer um misto dos dois.
“O teletrabalho irá se manter nas empresas por tempo indeterminado, e o colaborador pode experimentar trabalhar em diversos locais à sua escolha, sendo acompanhado por um supervisor e dispondo das ferramentas de métrica de produtividade”, comenta Sergio Vieira.
A questão é chegar em um ponto de equilíbrio entre empresa e trabalhador, no qual ambos definam conjuntamente o modelo de trabalho a ser utilizado, onde as trocas sejam justas, respeitosas e saudáveis.
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