Em 2014, o setor de material de construção cresceu 2,8% em termos reais e faturou cerca de R$ 60 bilhões. O desempenho, porém, poderia ter sido melhor não fosse um problema ainda crônico do setor, o atendimento, segundo o presidente da Anamaco (Associação Nacional dos Comerciantes de Material de Construção), Cláudio Conz. “Nosso problema é muito simples: diminuir o espaço entre o sonho que o consumidor tem e o pesadelo que a gente entrega”, avalia.
Conz reconhece o impacto do cenário macroeconômico nas vendas do setor, porém, nega discurso pessimista e afirma que o ano será de muito trabalho, mas que é possível aproveitar oportunidades do mercado. As crises hídrica e energética podem ser algumas dessas oportunidades, segundo o presidente da associação. “Elas passam pelas lojas de material de construção”, diz. Caixas d’água, lâmpadas mais eficientes e outros materiais estão com alta demanda e se o lojista souber aproveitar, pode crescer mais neste ano.
Pesquisa realizada pela associação com 530 lojistas do setor das cinco regiões do País mostra que cerca de 80% deles ainda não estão aproveitando essas oportunidades, porque não possuem qualquer estratégia. O percentual é maior entre as grandes empresas, de 91%. Dos poucos que têm estratégia, 95% consideram o aumento de estoques de produtos – como caixas d’água, aquecedor, cisternas, produtos de baixo consumo – como estratégia; 13% destacam e aumentam a divulgação de caixas d’água, tubos e conexões; e 15% realizam promoções.
Arte: Fernanda Pelinzon / Conhecimento e Inteligência Grupo Padrão
2014
“Se você somar as manifestações populares, a Copa do Mundo e as eleições, o varejo de material de construção teve 30 dias a menos de trabalho. E isso para quem fornece material para obra faz muita diferença. Se você tirar esses 30 dias, o crescimento apresentado foi bastante plausível considerando o cenário. Não tem como 2015 ser pior do que 2014”.
Uma questão de necessidade
“Reforma e construção é uma compra pensada. Quando a pessoa resolve reformar e construir não é por impulso, é algo pensado. E quem decidiu fazer isso em 2015, já estava pensando nisso desde 2013, 2014. É algo pensado, planejado, e muitas vezes é uma necessidade, por isso ele compra. Como é uma necessidade, a pessoa economiza de um lado para fazer, cortando gastos com automóvel e viagens”.
O peso do crédito
“O financiamento continua rodando normalmente. O CDC – Crédito Direto ao Consumidor para material de construção representa 1% do nosso negócio. Crédito imobiliário está rodando a toda e são créditos altos, e é esse o crédito que roda nosso negócio, porque mais de 60% do crédito imobiliário vai para imóvel usado, que precisa de reforma. São cerca de 60 milhões de casas precisando de algum tipo de reparo. A redução de lançamento de imóveis que estamos vendo agora, terá impacto em material de construção daqui a dois ou três anos”.
Oportunidades para lojistas
“Mais de 80% dos lojistas dizem que não está aproveitando este momento. Ele precisa fazer com que os produtos que estejam na loja conversem com o consumidor e fazer algum tipo de ação para que isso aconteça. Tendo uma estratégia, a gente amplia a possibilidade de crescimento. Material de construção tem o tal do ‘já que’. Já que vou trocar a pia, troco o piso, e etc. O material de construção tem essa característica e as lojas são competentes para estimular isso. A loja precisa conversar com os clientes e também com seu entorno”.
Momento para expandir
“Hoje temos 148 mil lojas de material de construção no Brasil e nos últimos dez anos foram entre 5 mil e 6 mil novas lojas. É um mercado em que as lojas estão fortemente focadas nas melhorias dos seus produtos e layouts. Vejo muita gente se preparando para aproveitar este mercado e aquele que não fizer vai ficar pelo caminho”.
2015
“A crise hídrica e energética passam pelas lojas de material de construção, porque elas estão mudando uma cultura e a forma de tratar água e energia jamais será a mesma depois dessa crise. Há uma infinidade de produtos que só lojas de material de construção vendem. E sem dúvidas os lojistas estão aproveitando essa oportunidade. 2015 para material de construção é um ano de quebrar e refazer. A economia melhorando, a gente cresce – não tem muito segredo. Não temos nada a ver com Lava Jato e dólar. Se tívessemos desemprego recorde…mas não é o caso. Tirando esta linha, nosso problema é muito simples: diminuir o espaço entre o sonho do consumidor e o pesadelo que a gente entrega. Temos de trabalhar mais em 2015 do que trabalhos em 2014. Do jeito que está, vamos crescer em termos reais 6% neste ano”.