*Por Jacques Meir – Enviado especial ao Cannes Lions
Muito além da criatividade publicitária, que deu origem ao evento, hoje o Cannes Lions celebra um grande conjunto de disciplinas que interferem e constroem a criatividade nos negócios e na cultura: a linguagem publicitária, as tecnologias, as mídias sociais, a inovação, a economia colaborativa, as disrupções, ciência, neurociência. Um espetacular conjunto de insights que devem ser descobertos e ajudam a orientar uma nova visão do quanto a criatividade pode interferir positivamente nos negócios e na sociedade.
Um bom exemplo foi o painel “Meet the disruptors: how Tinder coupled technology with human experience”. Um painel que foi apresentado por Bill Kanarick, Senior VP, Chief Marketing Officer da Sapient Nitro, responsável por apresentar o contexto social no qual o fenômeno Tinder se insere, seguido por um debate entre Caroline Daniel, Editora do Financial Times Weekend do Financial Times; Sean Rad, Fundador e Presidente do Tinder.
O Tinder é um dos fenômenos dessa era digital, funcionando como uma plataforma efetivamente voltada para a criação de relacionamentos entre pessoas. Vulgarmente pode ser considerado um aplicativo de paquera. Maas o fato é que o Tinder transcendeu essa denominação simples e tornou-se uma central de interações entre milhões de pessoas que procuram outras pessoas. Já são 6 bilhões de swipes, interações que indicam quando usuários estão ou não interessados em outras pessoas. Passa dos 12 milhões o número de combinações, onde pessoas se “curtem” todos os dias! Em resumo, mais de 300 conexões são realizadas por segundo, entre seus mais de 50 milhões de usuários ativos.
O Tinder foi uma ideia surgida criativa, que se desdobra em novas ideias criativas, relativas às formas pelas quais as pessoas se relacionam e buscam interações. Segundo Sean Rad, o Tinder veio para resolver um problema de forma alegre, divertida e interativa. Ele é quase um jogo, no qual os participantes entram cerca de 11 vezes ao dia (!), consumindo mais de 8 minutos em cada sessão.
Seu potencial comercial deriva justamente dessa característica de engajar o público ativo por muito tempo todos os dias. Sean defende que a beleza do Tinder é a sua diversidade, a capacidade de criar conexões e de aprimorar estas conexões continuamente, entre pessoas muito diferentes entre si. Ele diz que a plataforma cria oportunidades para as marcas se relacionarem com as pessoas, predispostas que estão em um ambiente desenhado com essa característica.
Uma grande ideia que permite a criação de novos negócios e novas formas de socialização entre pessoas e marcas, pessoas e pessoas, empresas e pessoas.
Será o Tinder um indicativo de uma nova tendência social?
Sean Rad defende que sim. Ele não qualifica essa nova forma de socialização. “Não sei se é boa ou ruim mas é nova”. A característica de se basear em fotos e de propiciar que os indivíduos contem histórias próprias de si mesmos é envolvente e confere transparência entre as pessoas. Caroline Daniel questionou como fica a questão da transparência nesse contexto de super exposição pessoal ou de “histórias reais sobre pessoas reais”. Sean disse que essa redução de privacidade é uma espécie de preço a pagar diante do que o acesso à plataforma oferece.
A questão é polêmica, sem dúvida. Afinal, há um algoritmo estabelecendo com quem pessoas diferentes podem compartilhar afinidades. Isso significa oferecer pedaços da vida pessoal para assegurar que o app torne-se mais efetivo inclusive na colaboração com marcas que buscam justamente tornarem-se mais próximas de seus clientes, de forma mais natural.
Onde está a criatividade nesse cenário? Em lugares e disciplinas as mais distintas possíveis. O fato é que a natureza humana é hoje o grande campo da criação de inovação e de negócios disruptivos. Conquanto tragam mais eficiência para diversas “tarefas” do cotidiano, o fato é que estamos diante de uma nova era de combinação de fatores e elementos para criar conceitos que façam mais sentido para a aventura humana.
Uma boa reflexão para começarmos a aventura da criatividade em Cannes.
*Jacques Meir é Diretor de Conteúdo e Conhecimento do Grupo Padrão.
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