JBS, Odebrecht, OAS, UTC, Sete Brasil, LBR, BR Pharma, EBX. O que essas marcas têm em comum? Facilmente o leitor pode associá-las ao apogeu de uma era de excessos, na qual riquezas foram geradas de modo artificial e milhões de brasileiros foram enganados por conta de uma onda de crescimento anabolizado por meios heterodoxos. Como poderia o Brasil crescer 7,5% no emblemático ano de 2010, sem elevação de produtividade, com mão de obra despreparada e investimentos que mal chegavam a 20% do PIB?
Mas essas marcas, na verdade, representam algo mais além da famigerada e felizmente encerrada política de “campeões nacionais”. São exemplos de uma forma de fazer negócios baseada não nas disputas de mercado, no talento, na capacidade de inovar, propor modelos de negócios diferentes, no desenvolvimento de estratégias consistentes. Não, essas marcas representaram a mais desleal e perniciosa forma de atuação em qualquer mercado: a simbiose desavergonhada com um sistema político que, de costas para a realidade, acreditava poder se eternizar por meio de um doping de corações e mentes. Um doping baseado em injeções maciças de crédito e estímulo despudorado ao consumo de qualquer artigo, sem nenhuma contrapartida do lado da produção. Uma farra que produziu salários altos demais para uma estrutura econômica carcomida e antiquada como a nossa.
Por outro lado, para anestesiar críticas e ganhar votos, malas de dinheiro e interlocução com políticos substituíram regras de gestão e governança corporativa. Pleitos estratégicos junto a bancos de fomento substituíram planos de negócios voltados para a expansão orgânica; assim como a conquista de clientes pela qualidade de produtos e serviços tornou-se mero discurso retórico. Muito mais fácil criar uma legislação que favorecesse o modus operandi viciado para ganhar mercado e vantagens competitivas.
Neste site – consumidormoderno.com.br, procuramos entender e repercutir o comportamento do consumidor. Queremos ajudar as pessoas a diferenciar marcas fortes e sólidas de marcas vaporosas, criadas por uma Medida Provisória (MP), um subsídio qualquer e milhões em propaganda protagonizada por celebridades globais. Estamos atrás de notícias, curiosidades, matérias, pesquisas, informações que mostrem como melhorar a experiência do cliente, exemplos de boas práticas, inovação, ao mesmo tempo em que criamos conteúdos voltados para o consumo consciente – é possível consumir melhor e não simplesmente consumir mais, para evitar inadimplência e endividamento, chagas que hoje corroem a confiança do mercado e das pessoas, reflexo justamente da farra consumista – e gostamos muito de discutir a defesa do consumidor. Esse é o nosso trabalho diário. E nesse nosso cotidiano, sempre nos perguntamos a causa de tantos conflitos de consumo. Por que afinal o país apega-se tanto a judicializar causas de consumo? Por que nosso mercado parece às vezes tão imaturo nas relações de consumo?
Arrisco aqui uma hipótese: em que ponto a ascensão artificialmente induzida de empresas como a JBS e a LBR (Leites Brasil, para quem não lembra), para não falarmos do mítico conglomerado “X” de Eike Batista, não se conecta com o panorama atual das relações de consumo, machucado pela judicialização, por serviços incongruentes e por um padrão que desnivela a competição e joga empresas e consumidores diante de pressões desnecessárias e virtualmente inexistentes em mercados maduros? Simplificando: os anos de consumo anabolizado não criaram uma forma de fazer negócios na qual a construção de relacionamentos sólidos com os clientes importava menos que o relacionamento interesseiro com as autoridades de plantão, nos corredores de Brasília e nos palácios de governos estaduais e municipais?
Este é um bom ponto de partida para estudiosos e pesquisadores intelectualmente honestos trabalharem. Essa fase pela qual estamos passando, onde negociações escusas, práticas nefastas e desconstrução política imperam, pode ter a virtude de sanear a paisagem corporativa, trazendo para primeiro plano as empresas realmente decididas a competir de maneira mais justa, a conquistar clientes pelo seu esforço, talento e capacidade inovadora e não simplesmente comprando mercados e pessoas, com marcas fortes derivadas de capacidade de comunicação, engajamento, histórias verdadeiras e não à base de tráfico de influências.
O mercado brasileiro estará maduro quando empresas como a JBS não possam crescer inacreditáveis 4.000% em 10 anos (de R$ 4 bilhões em 2006 para R$ 170 bilhões em 2016, ou mais que a Apple! Nem toda a carne do mundo junta pode fazer um negócio crescer mais que uma empresa de enorme capital intelectual, que literalmente mudou e moldou o mundo em que vivemos.
Pense nisso quando vir o próximo comercial estrelado por uma celebridade global falando na TV ou no YouTube sobre uma marca vaporosa, surgida do nada.