Ainda estudante de psicologia tive a oportunidade de conhecer e devorar o livro ‘Autoengano’, do Eduardo Giannetti. Muitas de minhas convicções foram pelo espaço – ou voltaram ao espaço, e passei a revisitar com maior frequência as histórias, pois aprendi que nosso passado não é estático.
Sabe aquela estória de que não podemos mudar o passado? O autor meio que derruba, pois deixa claro que quando revisitamos o passado, podemos, sim, mudar a história, os sentimentos e consequentemente MUITO de nosso presente e futuro.
Sim, isso mesmo: MUDAR O PASSADO!
“É por isso que tudo o que vivemos, ou seja, toda a nossa experiência passada e a imagem que temos de nós mesmos são na melhor das hipóteses construções provisórias, sujeitas a revisões mais ou menos drásticas de acordo com o caráter do que vamos descobrindo e vivenciando ao longo de nossa trajetória pessoal. A literatura mostra e a vida comum confirma que experiências críticas em nossos percursos – uma doença grave, uma perda sentida, uma conversão espiritual, uma crise afetiva, um acidente, um grande desafio profissional, uma terapia profunda – PODEM NOS LEVAR A REVER PROFUNDAMENTE O VALOR E O SENTIDO DO NOSSO PASSADO E AS CRENÇAS QUE ALIMENTAMOS SOBRE NÓS MESMOS. “ (Autoengano, p.55)
Achei transformadora essa reflexão. Informações que no passado ou não tínhamos acesso, maturidade, ou a conexão; podem mudar nosso passado. Episódios são esclarecidos – nem sempre com o final que gostaríamos, mas histórias são montadas, recontadas e revisitadas todos os dias.
E o que tomamos como certo, o passado – descobri que podia ser mudado!
Possivelmente menos poético do que o texto acima, a prefeitura de São Paulo, acredito que em mais um período de falta de verbas, decidiu revisitar o passado daqueles cidadãos que em algum momento conseguiram comprar um imóvel comercial.
E, endereçaram como se fosse algo “normal” uma dívida retroativa de 5 anos do IPTU, com o simples argumento de que reclassificaram os imóveis e, portanto, nós cidadãos que já pagamos uma fortuna mensalmente para eles ainda devemos mais IPTU, pois eles resolveram subir o valor venal do imóvel, valor que foi atribuído por eles mesmos no momento da compra!
Imagino o caixa que pretendem fazer com esta arrecadação em São Paulo. Elegeram alguns bairros e baixaram a caneta. Sem explicação, sem direito a conversa, simplesmente assim.
Óbvio que não repassei ao inquilino, tenho vergonha, tenho valores e inclusive inteligência, voz e liderança para conscientizar os outros proprietários de que temos de fazer algo.
Quase como se resgatasse as notas dos serviços que prestei nos últimos 5 anos e avisasse meus clientes de que decidir revisar o passado e reclassifiquei o valor dos projetos, portanto eles têm uma dívida ativa com minha empresa!
Penso no CX, enquanto as empresas estão se empenhando cada vez mais no desenho, melhorias, contratações, treinamento e manutenção da excelência na experiência do consumidor os serviços públicos – que deveriam estar aqui para servir aos cidadãos são os primeiros a calar nossa voz, agir na surdina e impor cobranças que embora divulgadas nos diários oficiais, não me parecem honestas, muito menos justas.
Órgãos públicos deveriam dar o exemplo, atuar em prol dos cidadãos e da melhoria da vida comunitária. E o mais triste é que quando revisito o passado atrelado às experiências neste domínio, são memórias estagnadas, de relações unidirecionais, impositivas, autoritárias e, que, infelizmente, não só foram muito precárias como continuam sendo nos dias de hoje.
Para que pensar em revisitar o passado quando temos uma máquina pesada, ultrapassada comandando a cidade e agindo como se não tivesse compromisso com o cidadão e como se ainda vivêssemos no século passado.
Acorda, Prefeitura! Não lembre do cidadão somente nas eleições. Tome a iniciativa, seja útil, comece a construir uma relação de confiança, amistosa com a população; pois isto não se faz de um dia para o outro e requer seriedade, constância e verdade no propósito. Aprenda a conter e planejar seu orçamento feito com o dinheiro do contribuinte ao invés de entregar aleatoriamente a revisão da classificação do imóvel, imputar uma dívida de IPTU de 5 anos e achar que está tudo bem!
Volte para a escola, recicle, descubra o que é CX, valores, deveres e direitos.
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*Por Evelyn Rozenbaum, psicóloga, pesquisadora, consultora e professora de MBA de inteligência de consumo e marketing e CEO da Usina de Pesquisa.
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