Conhecido por seu grande potencial de inovação, o setor de startups vem ganhando cada vez mais força e investimentos para atuar no mercado. Um levantamento do fundo de venture capital Atlantico mostrou que apenas na primeira metade de 2021 as startups latino-americanas já tiveram uma soma de US$9,3 bilhões investidos e as estimativas mostram que o ano pode fechar em US$ 18,6 bilhões, valor quase quatro vezes maior do que o de 2019.
Apesar do significativo crescimento, outro relatório, focado nas startups brasileiras (que já somam mais de 12 mil no total), mostrou que ainda há uma discrepância de gêneros dentro do mercado, o que reflete também no número de investimentos em empresas lideradas por mulheres.
Assine a nossa newsletter e fique atualizado sobre as principais notícias da experiência do cliente
As mulheres nas startups
O relatório que mostra essa diferença no setor é o Female Founders Report, levantamento feito pela Distrito, Endeavor e B2Mamy, empresas de inovação e empreendedorismo, sendo a última focada em capacitar e conectar mães ao ecossistema de inovação.
De acordo com o documento, apenas 4,7% do ecossistema de startups foi fundado exclusivamente por mulheres e 5,1% contavam com mulheres como fundadoras, junto com homens. Outro dado destacado é o fato desse número não ter aumentado significativamente com o tempo, pois há dez anos os números eram 4,4% e 3,5% respectivamente.
“[Em 2011], startups fundadas exclusivamente por homens eram 92,1% do mercado. Em 2020, o número foi 90,2%. Quando os quadros societários são analisados, a presença feminina é um pouco maior: 29,5% das startups brasileiras possuem mulheres entre os sócios”, indica o levantamento.
A pesquisa também mostrou uma divisão entre os setores de atuação das mulheres dentro do ecossistema de inovação das startups. “O levantamento mostra que elas têm uma presença consideravelmente maior nas fashiontechs, como são chamadas as startups voltadas para a moda. Mais de 60% das empresas inovadoras neste ramo foram fundadas por mulheres”, indica o estudo.
Depois, setores de RH & Gestão de Pessoas, Negócios Sociais e Alimentação seguem como os com maior presença feminina. Jurídico, TI e Indústria 4.0 são os que menos contam com mulheres como fundadoras. Entretanto, segundo os organizadores da pesquisa, isso não quer dizer que elas estejam apenas voltadas à moda, com preferência a isso. “Olhando para o universo das empreendedoras isoladamente, vê-se que elas estão mais concentradas em startups voltadas para a Saúde, seguido por Educação e Serviços Financeiros”.
Assine a nossa newsletter e fique atualizado sobre as principais notícias da experiência do cliente
Mulheres na liderança
A discussão sobre a presença de mulheres como fundadoras e líderes de startups não vem de hoje. Na verdade, é uma pauta bastante discutida inclusive no mercado de inovação. Para Thaísa Batista, co-fundadora do abler, startup de plataforma de recrutamento, é preciso também falar sobre o fato de que muitas empresas e startups contam com mulheres em suas lideranças, mas elas não estão nos “holofotes”.
“Precisa-se evidenciar o potencial de startups que tem como líderes mulheres e de trazer mais competitividade, no sentido de equidade, de mostrar que existem muitas empresas com mulheres como líderes. Muitas vezes a mulher não é a CEO, não está nos holofotes, mas é uma cofundadora, a maior líder da empresa. Enfim, acho que precisamos mostrar isso para o mercado e mostrar que suas empresas são competitivas e que merecem esse investimento”, afirma.
Ana Caroline Gonçalves, CEO da Telehybrida, startup na área de telessaúde, comenta que mulheres em cargos de liderança têm o mesmo objetivo dos homens: gerar valor e propagar com maestria o propósito daquele negócio. “Essa é a liderança ideal, independente se o líder é homem ou mulher”, diz. Para ela, o maior desafio de uma mulher como gestora é se posicionar em um ambiente altamente competitivo. “É preciso mostrar seu valor através de atitudes. Existe um provérbio centenário de um escritor francês que motiva todos os dias: ‘actions speak louder than words’”, completa.
O setor das startups, focado em inovação e futuro, também é visto como um ambiente propício para mulheres, que muitas vezes contam suas represálias sofridas em outros setores. “As startups são uma excelente opção para mulheres pois são ambientes que proporcionam um aprendizado riquíssimo e têm uma flexibilidade maior, que acaba sendo interessante para as mulheres com filhos, por exemplo, que precisam disso”, comenta Thaísa Batista.
Quanto ao perfil das mulheres líderes no mercado de startups, o levantamento mostrou que 76,5% delas são brancas, 87,5% se declaram heterossexuais e quase metade afirma não ter filhos.
Assine a nossa newsletter e fique atualizado sobre as principais notícias da experiência do cliente
O investimento em startups com mulheres
Segundo os dados do relatório Female Founders, as startups lideradas só por mulheres receberam apenas 0,04% dos mais de US$ 3,5 bilhões aportados no mercado em 2020. Entre as razões para isso, a validação do modelo de negócio (56,4%), a falta de boas conexões (44,6%) com investidores, mentores e outros empreendedores e a dificuldade em captar investimentos (38,8%) foram as mais apontadas pelas mulheres entrevistadas.
O baixo número de investimentos, de acordo com os organizadores da pesquisa, também acontece pelo menor número de startups lideradas apenas por mulheres. De acordo com os dados, quase 65% das empresas com lideranças femininas surgiram apenas nos últimos cinco anos, sendo que o mercado de startups já vem crescendo há mais de uma década, com a maior parte das empresas lideradas por homens. Por serem startups recentes, mais de 50% delas ainda estão em fase de validação de produto ou em início de operações, o que ainda não as torna atraentes ao mercado.
“Nesse contexto, o relatório mostra, por exemplo, a importância de aumentar a presença feminina na própria indústria de venture capital, como forma de reduzir essa assimetria. Hoje, 74% dos fundos não têm mulheres entre seus fundadores, nem mesmo conselhos. E apenas 3% têm apenas mulheres entre as fundadoras”, aponta o levantamento.
Estar em estágio inicial ou ainda em validação é um dos fatores que pode afastar investidores, apontam as duas fundadoras de startups. “O principal fator atrativo para investimento é o impacto do negócio e seus resultados ou quando é uma ideia disruptiva com uma validação comprovada”, explicam.
Para Thaísa Batista, “um ponto relevante é evidenciar a participação das mulheres na liderança das empresas. Nem sempre isso é um diferencial para algum fundo de investimentos, mas existem alguns que têm o interesse em investir em empresas com lideranças femininas, então deixar claro pode atrair mais investimentos, seja no momento ou no futuro, com a startup já validada”, orienta a co-fundadora do aber.
Além dos aspectos de business ligados às mulheres nas startups, a CEO da Telehybrida acredita que é preciso também estimular uma mudança de mindset para que mais delas tenham espaço para entrar no mercado de inovação e startups. “As mulheres precisam se unir mais unidas e se tornarem grandes apoiadoras umas das outras. Encoraje uma mulher empreendedora, independente de qual seja o seu negócio, isso também faz a diferença no mercado”, conclui.
+ Notícias
Iniciativa ajuda a recolocar mulheres refugiadas no mercado de trabalho
O mercado dos longevos: como incluir a geração +50 nos negócios