As perdas no varejo representaram 2,31% do faturamento líquido do setor em 2013, segundo levantamento apresentado hoje (4) pelo Ibevar (Instituto Brasileiro de Varejo e Mercado de Consumo), realizado em parceria com a Academia de Varejo.
Este é o maior nível da série histórica do Instituto, que libera os números a partir de 2002. Desde 2010, o indicador tem crescido: em 2010, o percentual era de 1,75% e aumentou para 1,76%, 1,83% e 2,31%, ano a ano.
Ao comparar o índice atual com dados internacionais, o Brasil supera o indicador global, que é de 1,36%. Na América Latina, as perdas representam 1,6% do faturamento líquido do setor. Ao comparar com outros continentes, a distância fica maior ainda: na Ásia Pacífico é de 1,16%, na Europa é de 1,27% e na América do Norte o índice alcança os 1,49%.
Segundo o professor Claudio Felisoni, presidente do Ibevar e do Provar (Programa de Administração de Varejo), da FIA (Fundação Instituto de Administração), o aumento deve-se a melhor apuração das empresas com relação às suas perdas. Outro motivo é que as medidas de controle dessas perdas não acompanharam o ritmo de consumo.
Isso, sem contar as questões sociais, que envolvem investimentos em segurança pública para diminuir os índices de furtos e roubos, e também questões culturais, que faz as empresas não darem a devida atenção ao tema.
Diante do cenário econômico mais instável, com queda no consumo, aumento do endividamento e consequente aperto nos investimentos por parte das empresas, é possível que a curto prazo este índice aumente. “O ambiente é de aumento do problema
e o desafio será dobrado”, enfatiza o professor Nuno Fouto, diretor de pesquisas do Provar.
“Este ano vai ser difícil, por conta dos juros altos, da inflação, da maior preocupação com o emprego e com incertezas em relação aos rumos futuros. Por isso, o varejo agora precisa olhar mais para dentro, e aumentar os cuidados para prever estas perdas”, avalia Felisoni.
Para o professor, o Brasil sofre de uma “mentalidade de caixa”, ou seja, é imediatista em suas ações e não pensa a longo prazo. “Isso está ligado a uma cultura dos ganhos rápidos, o que não é compatível com os investimentos que se faz para prevenção”, avalia Felisoni.
MPEs
O Ibevar mensurou quatro setores para identificar o quanto do faturamento eles perdem por diversos motivos, como furtos internos e externos, fraudes de terceiros, quebras operacionais, erros operacionais dentre outras razões.
De todos eles, e por razões quase óbvias, está a categoria MPEs (Micro, Pequenas e Médias Empresas), cujo índice foi apurado em parceria com o Sebrae e chegou a 6,8% do faturamento líquido em 2013. Ao menos, houve uma queda em relação a 2012, quando o índice era de 7,2%.
A falta de estrutura, planejamento e recursos dessas empresas justificam o alto índice. Ao todo, foram 229 entrevistadas e quase a totalidade é de micro e pequenas empresas.
Dos segmentos, papelaria, perfumaria, óticas e moda puxam a média do índice de MPEs para cima, por terem, respectivamente, 23,3%, 10%, 9,3% e 9,2% do faturamento líquido comprometido com perdas. O alto índice de papelarias, segundo Felisoni, deve-se a maior quantidade de miudezas nas lojas – produtos pequenos, de fácil furto.
Supermercados
Para avaliar o índice de perdas do setor de supermercados, o Ibevar fez parceria com a Abras (Associação Brasileira de Supemercados). Foram ouvidas cerca de 200 redes – ao todo, foram 2.854 lojas consultadas. O setor, de praxe, segue com percentual acima da média geral, de 2,52%. Em 2012, o percentual era de 1,95%.
O dado que mais assusta, no entanto, é a identificação dessas perdas. Do total, 57% são de perdas não identificadas, ou seja, aquelas que o varejista não sabe como se perdeu e onde foi parar.
Em relação ao percentual de perda identificada (43%), grande parte, 35%, é resultado de furto, seja de funcionário, seja de cliente.
Farmácias e Drogarias
O Ibevar conseguiu mensurar o índice de perdas do setor com base em pesquisa com quase 1.900 lojas. E o percentual é “aceitável”, de 1,37%, perto do índice global. Em 2012, esse indicador foi de 0,33%.
No setor, as quebras operacionais respondem por 29% – são danos gerados no produto por clientes e funcionários, ou mesmo itens com validade vencida. Na mesma linha, 24% dessas perdas são resultados de erros operacionais e os furtos externos, de clientes, por exemplo, respondem por 23% das perdas das farmácias.
Material de construção
Segundo o estudo, 1,41% do faturamento líquido da empresa foi perdido em 2013. O índice foi mensurado em parceria com a Anamaco (Associação Nacional dos Comerciantes de Material de Construção) e é resultado da pesquisa com 130 lojas do segmento.
As quebras operacionais respondem por 32% das perdas; erros operacionais representam 28% do índice e furtos internos, 18%.
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