O Brasil ainda é um país em que boa parte da população não tem educação financeira ou até mesmo conta em alguma instituição para colocar seu dinheiro. Mas esse cenário pode mudar com investimento em inclusão financeira por parte das empresas.
Em paralelo, ações do Banco Central como o PIX e o Open Banking, impulsionam essa inclusão ao aumentar a competitividade do mercado e, consequentemente, diminuir os custos do setor financeiro.
Porém, apesar desses movimentos, para a Organização para Cooperação e Desenvolvimento Econômico (OCDE), a inclusão financeira ainda é um desafio no Brasil. Isso porque, conforme a entidade, 30% da população economicamente ativa no país não tem conta bancária, ficando sem acesso a serviços como conta corrente ou poupança, cartão de débito e cartão de crédito.
Panorama da inclusão financeira no Brasil
Apesar da desburocratização ao acesso a serviços financeiros nos últimos anos, como a popularização das contas digitais e o surgimento de fintechs, ainda há um longo caminho a ser trilhado no quesito inclusão financeira.
De acordo com dados de 2019 do Instituto Locomotiva, 45 milhões de brasileiros ainda são considerados desbancarizados. Outro ponto da pesquisa que deve ser levado em consideração é que, apesar do acesso a uma conta bancária, 29% dos brasileiros declararam não ter feito nenhuma transação bancária nos últimos seis meses.
Este dado mostra um perfil peculiar, onde essas pessoas possuem conta em banco, porém não a utilizam ou o fazem com pouca frequência. E, dentro desta fatia, 34% sacam todo o saldo uma vez por mês, utilizando apenas dinheiro vivo para seu consumo.
Sendo assim, a falta de uso de serviços financeiros denota pouca adequação das contas correntes às necessidades reais da população. E a inclusão financeira só se materializa quando produtos e serviços financeiros se adequam às necessidades das pessoas. Isso tem avançado com a pandemia, situação que tem tornado o consumidor mais digital, mas ainda falta muito caminho para percorrer.
A importância da inclusão financeira para o mercado
Desenvolver a inclusão financeira significa atuar em diferentes frentes e vai muito além de abrir uma conta no banco. Estar incluído financeiramente é ter acesso a serviços e produtos financeiros, assim como saber usar esses serviços, tornando-os relevantes para a vida diária do consumidor.
Essa inclusão é benéfica não apenas para o cidadão, mas também para a sociedade brasileira como um todo, pois impacta esferas sociais, políticas e econômicas, refletindo em pilares de crescimento para o país.
Ao promover a inclusão financeira, cidadãos conseguem ter acesso a serviços antes inacessíveis, como compras on-line. Além disso, proporciona uma economia de tempo e de recursos para o cidadão poder pagar contas ou enviar e receber dinheiro sem se locomover.
Para as empresas, funcionários com conta em instituições financeiras representam redução de custos operacionais, além de maior segurança ao lidar com menos dinheiro vivo. Com isso, o país consegue intensificar a rastreabilidade financeira, ajudando a combater a corrupção e a dirimir a evasão tributária.
Novos ecossistemas financeiros no Brasil
Além dos players financeiros como os bancos tradicionais, bancos digitais e fintechs, grandes varejistas estão começando a oferecer serviços relacionados às finanças, como as carteiras digitais, e se tornando grandes ecossistemas.
Esse movimento tem mudado o cenário atual do Brasil, visto a tendência de que empresas também podem oferecer serviços financeiros, como transferências, pagamentos de contas, investimentos, saques, crédito, compras com cartão ou seguros.
Leia também: A evolução das fintechs no Brasil: elas ganham cada vez mais espaço
Os maiores varejistas do Brasil já perceberam essa oportunidade e estão se movimentando para oferecer uma experiência completa aos consumidores.
Há um ano, o Magazine Luiza lançou o MagaluPay. Segundo a rede varejista, o aplicativo funciona como uma carteira digital, com a possibilidade de fazer depósitos nas mais de mil lojas da rede, além de compras nas lojas ou no aplicativo, pagando com o saldo do MagaluPay. O cliente também pode transferir dinheiro para outros amigos que tenham o aplicativo, assim como pagar contas.
Na ocasião do lançamento do aplicativo, a direção do Magalu disse ainda que pretende lançar o serviço de cartão de crédito para clientes da conta digital. Por enquanto, não são cobradas taxas ou tarifas nas operações.
Já a Pernambucanas inovou com a Carteira Digital Pernambucanas. O tradicional cartão da loja, que antes era private label (só podia ser usado para compras no próprio estabelecimento), agora permite diversos serviços financeiros.
Para isso, o cliente precisa fazer o cartão na loja ou baixar o aplicativo da marca. Administrada pelo braço financeiro da Pernambucanas, a fintech Pefisa, a Carteira Digital Pernambucanas habilita de recargas de celular a compras de gift cards ou vouchers para uso em serviços como Uber e Spotify.
Além disso, o limite do cartão ou da carteira digital permite que o usuário utilize o saldo para pagamentos fora da rede varejista. É possível adicionar dinheiro na conta por meio de boleto bancário ou depósito em espécie diretamente nas caixas das lojas Pernambucanas em todo o país.
A empresa garante que nenhuma tarifa será cobrada pela utilização do serviço, bastando que o titular esteja com os pagamentos em dia.
A influência da pandemia no acesso digital
Segundo dados da Associação Brasileira das Empresas de Cartões de Crédito e Serviços – ABECS, o uso dos meios digitais cresceu exponencialmente durante a pandemia, diante da necessidade de isolamento social. Por esse motivo, os meios de pagamento digitais movimentaram R$ 52,6 bilhões, provenientes do auxílio emergencial em 2020.
Esse salto na digitalização impactou diretamente na inclusão financeira no Brasil, já que o auxílio emergencial promoveu a inclusão digital, por meio do aplicativo da Caixa Econômica Federal, no qual o benefício foi pago.
Os reflexos disso estão expressos pelos números da ABECS: compras remotas com cartão subiram mais de 30%, e o pagamento por aproximação cresceu 469,6%, movimentando R$ 41 bilhões.
Para acompanhar essa nova demanda, empresas tornaram-se cada vez mais aptas a receber por meio tecnologias como QR code e aplicativos.
Por isso, a previsão da ABECS é de que as transações com cartões devam representar metade do consumo das famílias no Brasil em 2021, sendo o setor de cartões o principal responsável pela transformação da economia para um mundo cada vez mais digital.
+ Notícias
Empatia, conexão e tecnologia: os novos pilares do brand experience
Modelo de acesso à saúde por assinatura é alternativa aos planos