Para 2025, a Inteligência Artificial (IA) é apontada como uma das três principais prioridades estratégicas por executivos ao redor do globo. No entanto, enquanto os países desenvolvidos avançam com investimentos em IA, o Brasil ainda se encontra atrás quando o assunto é alocação de recursos para a tecnologia.
De acordo com o estudo From Potential to Profit: Closing the AI Impact Gap, do Boston Consulting Group (BCG), apenas 14% das empresas no Brasil pretendem investir mais de US$ 25 milhões em IA neste ano. Embora esse valor seja significativo na moeda brasileira, ele ainda é baixo quando comparado ao cenário global. Em países como Japão (47%), EUA (41%) e Reino Unido (35%), uma parcela bem maior das empresas planeja investir nessa faixa.
Apesar da postura mais cautelosa do Brasil em relação a investimentos acima de US$ 25 milhões, o estudo revela que 86% dos executivos brasileiros ainda pretendem destinar até esse montante para a tecnologia ao longo do ano.
Gap de investimento e a falta de metas claras
Caio Guimarães, diretor-executivo e sócio do BCG, destaca que as empresas líderes no tema estão investindo mais de 80% de seus recursos em IA para transformar funções centrais e criar novas ofertas. Contudo, o estudo aponta uma lacuna: 60% das empresas globais ainda não definem ou monitoram KPIs financeiros para suas iniciativas de IA, o que resulta em um ROI 2,1 vezes menor em comparação com aquelas que estabelecem metas claras.
No Brasil, a situação é similar. Embora 72% das empresas planejem aumentar seus investimentos em IA (em patamares mais moderados comparados com a média global), 42% dos respondentes não monitoram o valor gerado por essas tecnologias. “Um desafio crítico é o modelo de atuação entre Tecnologia e Negócios. Muitas empresas ainda tratam IA como um projeto tradicional de TI, com ciclos lineares e previsíveis, ignorando sua natureza experimental e iterativa. Para garantir sucesso, as organizações precisam repensar a colaboração entre essas áreas, criando estruturas de governança eficazes, definindo incentivos adequados e priorizando um modelo de trabalho ágil e orientado a valor”, explica Guimarães.
Na visão de Guimarães, para superar essa barreira, as empresas brasileiras precisam definir objetivos claros e mensuráveis para IA, garantindo que o tema seja parte integral da estratégia do negócio, e não apenas uma pauta de TI .“Isso exige envolvimento direto dos líderes de negócio, tanto quanto de CIOs e CTOs, para alinhar investimentos em IA com impactos financeiros e operacionais concretos. A chave está na definição e monitoramento de KPIs relevantes, que demonstrem o retorno da IA de forma tangível”, pontua.
Confiança na IA e capacitação de talentos
Outro ponto crítico destacado pelo estudo é a confiança nas soluções de IA. No Brasil, 79% dos executivos expressam insegurança em relação à tecnologia, principalmente por questões envolvendo privacidade e segurança de dados (74%), falta de controle sobre as decisões tomadas por algoritmos (44%) e barreiras regulatórias (41%).
Para Caio Guimarães, esta insegurança é até certo ponto bem justificável. “As empresas devem de fato ser cautelosas e agir de forma proativa com os riscos críticos da IA – riscos estes, que se acrescentam à lista longa de desafios já existentes em tecnologia. Para isso, será necessária uma abordagem mais holística e estruturada para a gestão de riscos”, explica. “Demonstrar casos de uso bem-sucedidos e impactos positivos da IA reforçará sua credibilidade e utilidade dentro da organização”.
A falta de profissionais qualificados também é uma preocupação crescente. De acordo com o estudo, 75% das empresas no Brasil enfrentam dificuldades em atrair ou requalificar seus times para lidar com as novas demandas tecnológicas. Apenas 20% das organizações têm mais de 25% de sua equipe treinada em IA.
“Outro limitante importante tem a ver com o contexto macroeconômico atual do Brasil. Com taxas de juros altas, o custo de financiamento para empresas cresce, tornando investimentos de maior incerteza e potencial retorno de longo prazo – como inovação – menos atrativos. A IA, por ser uma tecnologia de inovação, de adoção gradual e retorno ainda considerado incerto, pode sofrer com cortes de orçamento e adiamento de projetos.”, destaca.
Impactos e o futuro da IA nas empresas
Em relação à força de trabalho, a maioria dos executivos brasileiros acredita que a IA terá um impacto positivo em termos de produtividade e ressignificação das funções atuais, sem uma redução significativa no número de colaboradores. Apenas 7% preveem cortes devido à automação, enquanto 8% acreditam que a IA pode até gerar mais vagas, trazendo novas habilidades para o mercado de trabalho.
Para liberar todo o potencial da IA, o estudo do BCG sugere que os CEOs adotem uma prática mais estratégica, com foco em iniciativas de grande impacto. O estudo recomenda, entre outras ações, a necessidade de repensar as formas de trabalho e os modelos organizacionais, direcionar esforços para oportunidades estratégicas e monitorar rigorosamente os resultados financeiros e operacionais gerados pela IA.
GenAI e as expectativas de 2025
Baseado em uma pesquisa com 1.803 executivos C-level em 19 países – incluindo o Brasil – e 12 setores, o levantamento também revelou que, embora a IA seja uma das três prioridades estratégicas para 75% dos respondentes globais, apenas um quarto deles relata ver valor significativo da solução em suas iniciativas.
Nacionalmente, 80% das empresas priorizam a tecnologia na sua estratégia e 62% dos executivos veem a IA como promissora, mas ainda sem valor tangível. Por conta disso, o BCG projeta um aumento de 60% nos investimentos em IA nos próximos três anos.
O estudo também revela que muitas empresas ainda têm objetivos modestos em relação à IA, priorizando iniciativas de menor escala e focadas na produtividade. Já as empresas líderes, que alocam mais de 80% de seus recursos em IA, estão reformulando funções essenciais e criando novas ofertas de produtos e serviços, com um foco maior na transformação do negócio.