Há muita gritaria em torno de uma “ascensão populista” que ameaça a tranquilidade das democracias pelo mundo. Essa gritaria vem sempre acompanhada da constatação de um espasmo autoritário e de “retrocessos” dos mecanismos democráticos. O Web Summit não se furtou a encampar esse debate e reuniu Mamuka Bakhtadze, ex-primeiro-ministro da Georgia, George Arson, Fundador da Shift, marketplace de automóveis, Joe Pounder, CEO da Bullpen Strategy Group e Joseph Menn, repórter de tecnologia da Reuters (mediador).
Em pauta, a polêmica sobre o enfraquecimento da democracia. Será real, ou apenas uma mistificação que qualifica “participação no processo político” como democracia – quando encaixada nos padrões de uma certa visão intelectual – e populismo – quando os cidadãos resolvem votar de uma maneira contrária à tal visão intelectual, como bem afirma Nassim Taleb em seu extraordinário livro Arriscando a própria pele.
“Fabricantes de conteúdo”, é assim que Joe Pounder enxerga os estrategistas políticos atualmente. Ele considera que as campanhas estão cada vez mais agressivas, procurando criar pautas que fogem à compreensão e ao alcance das mídias convencionais.
A informação tornou-se muito democratizada e ao mesmo tempo, mais difícil de ser compreendida em sua totalidade. O papel da mídia continua relevante, apesar de perder muito da capacidade de interpretar o que está acontecendo na atualidade, diante da imensa quantidade de informação. Os políticos, como Trump, Elizabeth Warren e no Brasil, o presidente Jair Bolsonaro, criaram câmaras de eco de seus pensamentos e comentários. Essas câmaras procuram pautar as discussões e ao mesmo tempo sentir a temperatura da sociedade.
Mamuka Bakhtadze, que governou a Georgia, contou sobre sua experiência à frente da república do leste europeu.
“Em minha opinião, é necessário entender a democracia como um fenômeno de tomada de decisões. Em nosso país, o Facebook tem muita força e à sua maneira contribui para fortalecer a democracia, mas foge do controle por conta do conteúdo que gera e o tipo de discussão que provoca. É importante que o processo de tomada de decisão da população não seja tão enviesado pela mídia social”
Para ele, a questão mais complicada é como as instituições irão lidar com o poder crescente das Inteligências Artificiais e o quanto elas irmão desconstruir valores das sociedade, particularmente a ocupação das pessoas. Elas hoje são uma ameaça real às democracias.
Sem dúvida, esse é um problema intrínseco a toda democracia. A resposta não está, obviamente, no aumento dos investimentos em educação, mas na mudança da gestão desse recurso, para preparar melhor a população para uma realidade social onde empregos e ocupações serão descartados pelas IAs.
Joe Campbell destaca o poder que o Twitter ganhou nas eleições americanas. É uma plataforma politicamente influente e a democracia não pode lavar as mãos diante dela. Ele questiona se as redes sociais estão dispostas a fazerem parte de um programa de revitalização da democracia, se os políticos que investem milhões no Facebook estão aptos a questionar o direcionamento que a rede social faz do conteúdo e o quanto ele estimularia fraturas na democracia.
De um lado, temos um mal-estar com a representação política. Os cidadãos preferem realmente políticos que correm riscos, que não têm medo de se mostrar como são e de contestar os protocolos e as mesuras que caracterizaram chefes de estado no último meio século.
Lembremos que Winston Churchill, o maior estadista do século XX, ditava cartas memorandos fumando charutos na banheira… Não se trata exatamente de um comportamento tido como “normal” segundo a opinião corrente.
Talvez a democracia esteja na verdade ganhando vitalidade ao permitir e incorporar pessoas diferentes como líderes. Pessoas que correm riscos por serem autênticas, espontâneas e fieis às suas crenças. Estaremos vendo o ocaso dos políticos vendidos para consumo de massa, bonitinhos, educados e francamente anódinos e incapazes de assumirem posições firmes sobre o que quer que seja?
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