De início, os executivos reunidos na manhã desta quarta-feira (8) em uma sala do Hotel Pullman, em São Paulo, pareciam tímidos. Mas só foi o assunto ser colocado na roda que a sala fria esquentou. O tema? Gente. “Como engajar os colaboradores para desenvolver um varejo de sucesso”: este foi o debate deste mês do Ciclo de Encontros promovido pela plataforma NOVAREJO e que reuniu executivos da área de Recursos Humanos de redes varejistas.
Mediado pelo diretor de Conhecimento e Inteligência de Negócios do Grupo Padrão, Jacques Meir, e pelo consultor de Desenvolvimento de Lideranças do GPTW (Great Place to Work), Cauê Oliveira, o debate começou acalorado e filosófico. ?Nossa discussão aqui não é de RH, mas de negócios?, enfatizou Oliveira. ?Tanto em momentos de bonança como em momentos de adversidade é importante colocar o colaborador em perspectiva. Mas é responsabilidade da empresa fazer com que seus funcionários sejam felizes??, lançou Meir no início do encontro.
A resposta inicial foi o silêncio, quebrado nos segundos seguintes pela ânsia de encontrar uma resposta. ?Colocar o ser humano no centro da estratégia é a grande sacada, mas acho até perigoso colocar essa expectativa de que é a empresa que faz o colaborador feliz. É como dar o controle remoto da minha vida para outra pessoa apertar o botão. A nossa grande missão é mostrar que cada um é responsável pela própria felicidade?, afirmou Welington Lopes, gestor executivo da Contém1g, rede de franquias de beleza. ?Não é uma responsabilidade exclusiva da empresa, que tem foco em resultado, mas ela pode contribuir para que o funcionário seja mais feliz ou mais infeliz?, completou Adélia Amaro, diretora de RH do Sonda Supermercados.
A gerente de RH da marca de joias Antonio Bernardo, Rita Ferraz, pondera e lembra que as empresas têm um papel social. ?Temos de proporcionar elementos para as pessoas se desenvolverem, porque a profissão é uma das áreas da vida que nos realiza?, disse. ?Um bom começo é fazer uma seleção criteriosa e pensar como a empresa pode fazer para que as pessoas caminhem para terem uma realização pessoal?, avaliou. Lopes, da Contém1g, acredita na missão que a empresa tem de ajudar o colaborador naquilo a que ele se propõe fazer e, para isso, aposta na criação de um clima que ajude os funcionários a atingir suas potencialidades.
Elaine Rodrigues Barbosa, analista de RH do Shopping Iguatemi, concordou: ?Não dá para a empresa ser responsável pela felicidade do colaborador?, disse. Contudo, ter um processo assertivo de recrutamento auxilia na manutenção da motivação. Para ela, é preciso recrutar pessoas alinhadas aos valores da empresa. Essa visão é compartilhada por Rosane Bolognesi Rivera, gerente de RH da Contém1g. ?Existem ?n? outros fatores que faz o indivíduo ser feliz ou não, mas se você contratou errado, o jogo está quase perdido?, disse. Para criar um ambiente que ajude a colocar o sorriso no rosto do funcionário, as redes apostam na criação de um ambiente amigável e colaborativo, livre para iniciativas e geração de ideias.
Essa iniciativa, acredita Oliveira, do GPTW, tem trazido bons resultados no clima das empresas. E bom clima se reverte em rentabilidade. É o que mostrou as 24 empresas varejistas reconhecidas como as melhores empresas do setor para se trabalhar em 2014, segundo iniciativa do GPTW com a revista NOVAREJO. Enquanto o mercado varejista cresceu pouco mais de 4% em 2013, as empresas premiadas cresceram 16% no mesmo período. Quando se fala em ambiente, fala-se em conceitos intangíveis como respeito, confiança e imparcialidade. ?Esses pilares formam o ambiente de uma empresa que é a melhor para se trabalhar?, considera Oliveira. Esses valores têm sido o foco das companhias que buscam construir um clima que gere resultados e, como causa e consequência, felicidade.
O compartilhamento de valores é caminho adotado pela JK Iguatemi, segundo Erica Oliveira, gerente de RH do shopping. ?A gente precisa conhecer as pessoas que queremos ter na empresa, porque muitas vezes o funcionário pode estar em um ambiente que não é propicio para ele desenvolver o potencial que tem?, disse. ?Precisamos estar mais preparados para a mudança, ouvir mais, porque o mundo muda e temos de mudar também?, disse Camila Consolo, analista de RH do JK Iguatemi. É o que ocorre também na Shoestock, segundo Sueli Faria, consultora de RH da varejista. ?Tudo começa com a análise sobre o que a empresa é e o que ela quer ser, porque ela existe e como ela quer existir?, disse. ?Com essas respostas, você tem condições começar a se conectar com as pessoas e é essa proximidade que cria o pertencimento?.
Pertencimento, afirma, eleva a motivação e o engajamento ? palavras-chave na construção dessa tal felicidade. A Fnac aposta na cultura do ouvir. Segundo o diretor de RH da varejista, Fabiano Mathias Costa Molina, ter uma escuta sincera é um bom ponto de partida para a construção de um ambiente que gere felicidade. ?Temos de ser um agente facilitador, pensar o que a empresa quer, quais valores ela têm, buscar colaboradores que têm a ver com isso e deixar tudo muito claro?, considerou. Nessa escuta, é importante estar atento aos diversos momentos do funcionário, porque a conexão com os valores pode se manter, mas as perspectivas mudam.
?Ao longo da vida, as pessoas passam por momentos diferentes e precisamos dar espaço na organização para repensar a forma de trabalhar e considerar esses diferentes momentos de vida?, disse Thiago Quaresma Veras, gerente de desenvolvimento organizacional da Netshoes. Vivian Alvo, head de desenvolvimento do Groupon, reforça que essa escuta precisa ser verdadeira para trazer resultados. ?Isso porque motivação é algo individual e pode ser uma algo tão pequeno, que está no nosso alcance. A felicidade pode ser individual, mas a empresa tem de dar subsídios para criar um ambiente de camaradagem, porque o ambiente de trabalho ruim pode adoecer as pessoas. É uma corresponsabilidade?, disse.
A felicidade no ambiente de trabalho foi apenas uma das discussões do grupo durante o Ciclo de Encontros NOVAREJO. O seleto grupo também debateu o conflito de gerações, as ações que adotam para o desenvolvimento de pessoas e lideranças e também o impacto que o cenário político tem nos investimentos de desenvolvimento de pessoas. A cobertura completa sobre todos os temas abordados durante o encontro você confere na próxima edição da revista NOVAREJO.
As inscrições para o reconhecimento Melhores Empresas para se Trabalhar GPTW NOVAREJO 2015 já estão abertas no site do Great Place To Work. As varejistas que quiserem participar da próxima edição devem responder a pesquisa online e entregar o culture audit até 30 de junho. Aqueles que quiserem responder a pesquisa via papel, devem fazê-lo até 30 de maio.
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