A escassez de água afeta o Brasil mais do que a maioria dos países. Depois da China, o somos o maior produtor mundial de energia hidrelétrica. Três quartos da energia do país são produzidas em usinas hidrelétricas. E o consumo está crescendo ? no ano 2050, o Brasil precisará de três vezes mais eletricidade do que hoje.
A seca atual está ameaçando especialmente as regiões e as cidades densamente povoadas no sudeste do Brasil: Rio de Janeiro e São Paulo. O sistema Cantareira atua com menos de 7% de sua capacidade. Por todo o país, 17 das 18 usinas hidrelétricas mais importantes estão registrando níveis de água mais baixos do que em 2001, o ano da última crise de energia, ou melhor, da crise hídrica.
A mudança climática significa que o Brasil está ameaçado por períodos de seca ainda mais frequentes. Catorze dos 15 anos mais quentes ocorreram desde o ano 2000. Segundo dados da Organização Mundial da Meteorologia (OMM), 2014 foi o ano mais quente desde que os registros climáticos começaram a ser feitos.
À medida que o ar aquece as temperaturas oceânicas também sobem, e isso pode ter um impacto considerável sobre o clima local e mais ainda sobre a precipitação de chuva. Algumas regiões tiveram chuvas torrenciais e inundações, enquanto outras regiões tiveram seca.
O problema não se restringe à região sudeste do país. Em 2009, a Allianz e o WWF já haviam alertado sobre o ressecamento da floresta tropical amazônica no relatório sobre o clima intitulado ?Pontos de Virada?. A conclusão do relatório é de que, no futuro, as secas regionais poderão ser dez vezes mais frequentes e também mais prolongadas, e isso se tornará a norma no ano 2050.
A ocorrência de tais ?pontos de virada? pode levar a mudanças irreversíveis com consequências dramáticas dentro de um curto período. As florestas atraem umidade, refrescam o ar e promovem precipitação de chuva. A imensa floresta tropical amazônica é considerada o ?pulmão verde? do planeta. No final deste século, períodos mais prolongados de seca poderão ameaçar até 70% da bacia amazônica. O desmatamento e os métodos de derrubada do tipo corta e queima aumentam ainda mais esse risco.
Não só o Brasil, mas também outras regiões do mundo estão sendo seriamente ameaçadas pela seca. Nos Estados Unidos, o sul da Califórnia, em particular, está em situação de risco. Nos últimos três anos, essa região recebeu um volume de chuvas anormalmente reduzido. Incêndios florestais devastadores se espalharam com velocidade apavorante no terreno extremamente seco.
No entanto, lá as autoridades investiram desde o início em outras formas de geração energética além da hidrelétrica, de modo que o abastecimento de energia ao menos não foi diretamente afetado pela estiagem. Para Karsten Loeffler, CEO da Allianz Climate Solution, para sobreviver à crise, o Brasil precisa investir em parcerias público-privadas, com o intuito de desenvolver projetos inovadores.
Segundo ele, o país tem um enorme potencial para gerar energia solar durante o dia e trabalhar com as hidrelétricas apenas à noite. Esta opção garantiria a distribuição de energia mesmo em períodos em que a demanda por água e energia são maiores do que o normal.
A crise que está chamando atenção agora é a de energia. Isso porque a maior parte dela é proveniente das hidrelétricas. Diante disso e da possível realidade de novos apagões, a Associação Brasileira da Indústria de Iluminação ? Abilux ? mobilizou suas associadas para buscar alternativas que contribuam para o menor consumo de energia.
A iluminação representa cerca de 20% da energia elétrica consumida atualmente no Brasil. Diante dessa informação, o diretor técnico da entidade, Isac Roizenblatt, apresentou dez medidas para a redução do consumo de energia, nesta quinta-feira, 12, em São Paulo.
Impossível ignorar que os reservatórios estão com um volume médio de 17% de sua capacidade (menos do que em 2001 no apagão) e que as usinas térmicas projetadas para operar em emergências estão em funcionamento direto, colocando os geradores sob stress para ao qual não foram projetados.
Caminhos para auxiliar o país existem. Além de pedir a São Pedro por chuva, o uso de equipamentos eficientes pode reduzir drasticamente a carga energética utilizada em iluminação. É possível reduzir a utilização de produtos que levam mercúrio em sua composição, por exemplo.
Uma das soluções apontadas pela Abilux é o uso do LED. Aplicada em luminárias modernas e de alto rendimento juntamente com equipamentos de controle de luz eletrônicos somados a sensores de presença e nível de iluminação. Eles proporcionam a mesma quantidade de luz, quando não mais, consomem cerca de 85% menos energia que as lâmpadas incandescentes, 65% menos do que as fluorescentes compactas, 40% menos do que as fluorescentes tubulares comuns, 70% a menos que as a vapor de mercúrio e 50% menos que as a vapor de sódio normalmente utilizadas na iluminação das cidades.
Curto, médio e longo prazos contribuirão para a redução do consumo de energia
? Trocar os cerca de cinco milhões de pontos de iluminação pública existentes com lâmpadas a vapor de mercúrio por luminárias modernas com LEDs: a economia será de cerca de 70% da energia consumida. A iluminação pública consome cerca de 3,5% da energia elétrica no país e a mudança sugerida representa cerca de 0,8%, ou seja, 3,7 TWh ano, algo como 440 milhões de reais ano ao custo marginal de energia;
? Modificar o programa da ANEEL: distribuidoras de energia elétrica de subsídios ou gratuidade na substituição de lâmpadas incandescentes, (14 lumens por Watt) com a entrega de lâmpadas fluorescentes compactas (50/60 lumens por Watt) por lâmpadas LED (80/100 lumens por Watt) minimizando o custo de energia para o consumidor menos favorecido e maximizando o resultado para o país;
? Entregar casas do programa Minha Casa Minha Vida e programas similares estaduais e municipais já com o ponto de luz com luminárias e lâmpadas eficientes e de longa vida instalado;
? Tornar o Programa Brasileiro de Etiquetagem de Edificações compulsório de imediato para edifícios a serem construídos e em reforma, obtendo eficiências máximas de equipamentos e mínimas de consumo por metro quadrado;
? Tornar compulsório a obrigação dos governos federal, estadual e municipal com relação à compra apenas de produtos com os selos PROCEL/INMETRO, que garantem um mínimo de eficiência, desempenho e segurança;
? Programar que num período de quatro anos todos os edifícios federais, estaduais e municipais façam uma auditoria energética e modernizem seus equipamentos de iluminação;
? Tornar obsoletas até 2020 as lâmpadas a vapor de mercúrio, de luz mista e de indução magnética, por possuírem lâmpadas substitutas mais eficientes e devido ao seu conteúdo de mercúrio, e por estarem na programação do Acordo de Minamata, assinado pelo Governo Brasileiro. Desde já aumentar a alíquota de impostos destas lâmpadas devido a ineficiência e uso de mercúrio;
? Tornar obsoletos os reatores magnéticos para lâmpadas fluorescentes, pois os eletrônicos economizam cerca de 70% de energia;
? Criação de linhas de financiamento a produtos e projetos de iluminação eficiente para as cidades para Iluminação pública, prédios públicos e edificações em geral;
? Reduzir a carga tributária em todos os níveis de produtos que utilizem LEDs como lâmpada, módulos e luminárias.
O custo da energia
Em 2014 houve um aumento de cerca de 20% no custo de energia e nos primeiros meses deste ano teremos um aumento de mais 40%, ou seja, numa inflação oficial de 6,5% em 12 meses, temos em menos de seis meses 60% de aumento no preço da energia. Temos uma das energias mais caras do mundo.
O presente e o futuro
A Abilux alerta para o fato de que deveriam ser acelerados os programas de substituição de produtos menos eficientes por outros mais eficientes dentro dos trabalhos da ANEEL/PROCEL/INMETRO, retirando os obsoletos como o fazem, por exemplo, os países da Comunidade Econômica Europeia, EUA, Japão, Coreia do Sul, Austrália e China.
Há necessidade de uma política industrial dedicada ao setor de iluminação, pois a luz elétrica está em todos os lugares e é responsável pela nossa segurança, produtividade, estudos, saúde, lazer e conforto. Essa atitude poderá atender ao mercado local de forma competitiva, gerar empregos, desenvolver tecnologias e trazer divisas pela exportação de produtos.
Leia mais:
Os negócios ameaçados de extinção pela crise da água