A Faber-Castell vem reescrevendo a sua estratégia. Se até então era vista como fabricante de lápis, agora, a companhia quer ser conhecida também por promover a criatividade. Para tanto, a empresa de origem alemã desenvolveu uma metodologia de ensino em parceria com o famoso instituto Massachusetts Institute of Technology (MIT) e já está aplicando os resultados nos colégios Dante Alighieri e Mackenzie. A ideia é expandir a iniciativa para outras instituições privadas do País e fazer um piloto em uma escola pública, segundo Eduardo Ruschel, diretor de marketing e inovação da Faber-Castell. Além disso, lançou, na terça-feira, 4, um espaço voltado para a criatividade que vai receber 160 estudantes por dia — de segunda a sexta-feira — e será aberto ao público aos fins de semana no Shopping Market Place (na Livraria Cultura). “Vamos usar metodologia de design thinking para estimular a criatividade das pessoas”, diz Ruschel, acrescentando que a companhia vai vender seus produtos em uma loja ao lado.
No Espaço Faber-Castell de Criatividade e Inovação, uma série de atividades apoiadas na metodologia de aprendizagem criativa e com alinhamento pedagógico com a Base Nacional Curricular (BNCC) será disponibilizada para crianças e jovens de 6 a 14 anos. Eles serão desafiados a propor soluções em equipe para desafios. Na sequência, usando materiais e equipamentos disponíveis como impressoras 3D, montam um protótipo. Por fim, gravam um vídeo para compartilhar suas experiências. A metodologia faz uso de ferramentas como storytelling, design thinking e atividades mão na massa, e o objetivo da marca é que as crianças, enquanto se divertem, desenvolvam habilidades de raciocínio, capacidade de atuar em grupo, comunicação e, claro, a criatividade.
Veja a seguir os principais trechos da entrevista:
Consumidor Moderno: A estratégia da Faber-Castell é se aproximar mais dos consumidores?
Eduardo Ruschel: Estamos indo ao encontro dos clientes. É quase como se estivéssemos abrindo a porta do escritório e indo para o mundo entender movimentos, tendências e comportamentos das pessoas. Há cerca de três anos, a gente percebeu que a Faber-Castell precisava ter um papel maior na sociedade. Ao entender isso, passamos a ver a marca como promotora da criatividade.
CM: Qual é a importância da criatividade no dia a dia?
ER: A gente vive em um mundo de mudanças constantes. A gente tem muita incerteza em relação ao futuro. O que antes era uma receita para resolver problemas, agora, não faz mais sentido; e a gente entende que a criatividade acaba sendo fundamental nesse mundo moderno. Até porque temos visto tecnologias de inteligência artificial se sobressaindo em muitas atividades. Então, a criatividade passa a ser uma das poucas vantagens competitivas dos seres humanos em relação às máquinas.
CM: Mas como a Faber-Castell pretende promover a criatividade?
ER: A gente entende que todas as pessoas são criativas ao nascer e, à medida que vão crescendo, vão tolhendo sua própria criatividade. É como se a vida ensinasse a não serem criativas. No entanto, podemos atuar para evitar isso, seja dentro da sala de aula, seja ajudando os pais a estimular a criatividade dos filhos. Aí que começamos a entrar em novo mundo, passando de fabricante de lápis à estimuladora de criatividade.
CM: Qual foi o ponto de partida dessa nova fase da empresa?
ER: Uma das causas para a queda criativa das pessoas é o sistema de ensino. Hoje, as escolas estão mais abertas e sabem que precisam se reinventar, mas muitas vezes não sabem como. Então, procuramos o MIT para desenvolver uma metodologia de aprendizagem criativa. A ideia é sistematizar o pensamento criativo por meio do design thinking em um espaço que vai receber 80 crianças por turno de segunda a sexta-feira. Aos sábados e domingos, vai receber crianças e pais. O grande objetivo é ser um templo de criatividade.
CM: Qual é o público da Faber-Castell?
ER: Atualmente, estamos focados na faixa etária de 5 a 14 anos, mas entendemos que o público é muito maior: tem adultos e até terceira idade. A febre de livros de colorir que invadiu o País há uns anos confirma isso.
CM: O que é o projeto Fora da Caixola?
ER: É uma iniciativa muito próxima ao que fazemos no espaço. Hoje, os pais não sabem como estimular seus filhos de forma criativa. Por isso, entregamos uma caixa com livro e uma história com início e meio. Quem escolhe o final é a criança de forma a empoderá-la. É a primeira vez que enviamos materiais para os clientes como clube de assinaturas.
CM: A ideia é ter mais canais de venda?
ER: Temos que ter soluções e entregá-las da melhor forma possível para os diversos públicos. Precisamos ter clube de assinaturas, podemos desenvolver e-commerce ou até nos aproximar mais dos varejistas. Vamos abrir a primeira loja própria ao lado do espaço.