A movimentação global de pessoas com patrimônio líquido superior a US$ 1 milhão atingirá um marco histórico em 2025. De acordo com o Henley Private Wealth Migration Report 2025, elaborado em parceria com a New World Wealth, cerca de 142 mil milionários devem se mudar do País até o fim do ano. O número é considerado recorde desde que o monitoramento desses fluxos começou. O estudo revela não apenas para onde essa elite econômica está indo, mas, sobretudo, os motivos por trás de escolhas que moldam a geopolítica do capital privado.
Entre os destinos mais procurados, os Emirados Árabes Unidos lideram com folga, com uma previsão de entrada líquida de 9.800 milionários. O país se consolidou como o principal hub de atração de riqueza privada do mundo, resultado de uma combinação de políticas fiscais favoráveis, como isenção de imposto sobre herança, segurança, estabilidade política e programas eficazes de residência por investimento. Logo em seguida, os Estados Unidos devem receber 7.500 milionários. Um dos destaques mais surpreendentes do ranking é a Arábia Saudita, que verá um salto expressivo no número de milionários que escolhem o país como residência: 2.400 em 2025.
A Europa do Sul também tem se beneficiado da reconfiguração dos fluxos de riqueza. Itália (+3.600), Suíça (+3.000), Portugal (+1.400) e Grécia (+1.200) figuram entre os maiores receptores líquidos de milionários em 2025. Esses países oferecem, além de qualidade de vida e patrimônio cultural, regimes fiscais atrativos e políticas amigáveis para estrangeiros de alta renda. Destinos menos tradicionais, como Tailândia (+450), Costa Rica (+350) e Panamá (+300), também estão no radar de milionários em busca de ambientes mais estáveis, acessíveis e com alta qualidade de vida.
Segundo o Dr. Juerg Steffen , CEO da Henley & Partners, essa divergência acentuada destaca a crescente influência da migração estratégica de riqueza nas mudanças de poder econômico global. “2025 marca um momento crucial. Pela primeira vez em uma década de monitoramento, um país europeu lidera o mundo em saídas de capital de milhões. Não se trata apenas de mudanças no regime tributário. Reflete uma percepção cada vez mais profunda entre os ricos de que as maiores oportunidades, liberdade e estabilidade estão em outro lugar. As implicações de longo prazo para a competitividade econômica e o apelo de investimento da Europa e do Reino Unido são significativas”, comenta.
Países que perderão seus milionários
Na contramão desse movimento, alguns países enfrentam um êxodo acentuado de riqueza. O caso mais dramático é o do Reino Unido, que deverá perder 16.500 milionários em 2025, o maior número já registrado. A China, por sua vez, continuará a registrar saídas significativas, com a perda estimada de 7.800 milionários. Apesar da desaceleração desse êxodo nos últimos dois anos, questões como o aumento do controle governamental, tensões geopolíticas e restrições de mobilidade de capitais ainda impulsionam a saída de pessoas de alta renda.
Outros países com perdas relevantes incluem Índia (-3.500), Coreia do Sul (-2.400), Brasil (-1.200), Reino Unido (-16.500), França (-800), Espanha (-500) e Alemanha (-400).
O que impulsiona a migração de milionários?
Entre os principais fatores que impulsionam essa migração global estão a busca por segurança jurídica, estabilidade econômica, regimes tributários favoráveis, qualidade de vida, acesso à educação e saúde de alto nível. Além disso, o relatório aponta que os programas de residência e cidadania por investimento se tornaram ferramentas estratégicas para diversos países que desejam atrair capital estrangeiro qualificado.
O movimento crescente de milionários ao redor do mundo sinaliza mais do que uma simples preferência por um estilo de vida. Ele representa uma transformação estrutural na distribuição global da riqueza, com implicações diretas em mercados imobiliários, políticas fiscais, diplomacia e investimentos em infraestrutura. Países que souberem criar um ambiente favorável à permanência ou atração de pessoas de alto patrimônio tendem a colher frutos de longo prazo em desenvolvimento econômico, inovação e competitividade global.
Por que essa mudança importa?
Esses migrantes de elite representam uma fonte estratégica de crescimento econômico para os países que os recebem, contribuindo significativamente para a geração de divisas, a criação de empregos e o fortalecimento de mercados-chave.
Uma das contribuições mais imediatas é a receita cambial. Ao transferirem sua fortuna para o novo país de residência, esses milionários injetam diretamente recursos na economia local. Um único migrante que leva consigo US$ 10 milhões, por exemplo, tem o mesmo impacto econômico que uma exportação no mesmo valor. Assim, esses fluxos de riqueza privada operam como um motor paralelo às exportações tradicionais.
Outro aspecto relevante está na criação de novos negócios. Estima-se que cerca de 15% dos milionários migrantes sejam empreendedores e fundadores de empresas. Ao se estabelecerem em novas localidades, muitos abrem empresas, fomentando o ambiente empreendedor e contribuindo para a geração de empregos e inovação.
Além disso, esses milionários costumam atuar ativamente no mercado de capitais. Seja por meio de investimentos diretos em ações ou pela abertura de capital de suas empresas nas bolsas locais, sua presença fortalece o ecossistema financeiro e contribui para o crescimento do mercado acionário.
O impacto mais significativo, no entanto, pode estar na geração indireta de empregos. O alto poder de consumo desses migrantes impulsiona setores de alto valor agregado, como hotelaria de luxo, gastronomia premium, varejo de alto padrão, moda sofisticada, tecnologia de ponta, imóveis de luxo, gestão de fortunas e family offices. A demanda gerada por esse público fomenta a criação de milhares de vagas bem remuneradas, contribuindo para dinamizar a economia local.
Esse fenômeno gera ainda um efeito multiplicador. A chegada de um grupo inicial de milionários pode desencadear um ciclo de valorização de ativos e atração de novos residentes ricos. Por exemplo, a migração de 100 pessoas de alto patrimônio pode, com o tempo, resultar no acréscimo de mais de 200 novos milionários ao país receptor. Esse aumento eleva os preços de ativos como imóveis e ações, ampliando a riqueza também entre os moradores locais.
Por fim, essa movimentação de capital privado contribui diretamente para impulsionar a classe média. Os empreendimentos criados por essas pessoas geram uma cadeia de empregos qualificados e bem remunerados, promovendo mobilidade social. O caso da Microsoft ilustra bem esse impacto: fundada por um bilionário, a empresa gerou milhares de empregos nos Estados Unidos e consolidou o protagonismo do país no setor global de tecnologia ao longo das últimas décadas.
