Que coisa mais antiga, a ética! Daquelas que nem na velha prateleira do velho armazém encontramos. Podemos procurar em vão por horas no antiquário da esquina, no museu já empoeirado que tentava contar a história da humanidade. A busca se perde em um lento labirinto de ideias ultrapassadas, ideias que passaram. Onde a ética se perdeu? Esses pensamentos vieram a minha mente enquanto escolhia o tema deste artigo. Tantos assuntos para escrever. Todos fugiam e permanecia um, dos mais difíceis, a ética. Será que ainda é possível escrever sobre um tema tão nada do momento? Vamos lá.
Tempos passados, a ética se relacionava com a imitação da conduta dos pais e avós. Ser correto significava atender as tradições da família de forma a manter a dignidade de toda sua linha de criação. Agir sem ética atacava, antes de tudo, os antepassados.
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Na modernidade, agir com ética significava lutar pelas transformações sociais, pela justiça, por uma sociedade mais equânime. Ser correto significava acusar as injustiças sociais. Agir sem ética atacava, antes de tudo, o sonho por um mundo melhor.
E na pós-modernidade? Nossa sociedade pós-moderna trocou a ideia da ética por dois valores culturais básicos: a felicidade e a eficácia.
Todos nós queremos ser felizes. Mais ainda: todos nós precisamos ser felizes. E o que é pior: todos nós somos felizes, custe o que custar. Quando é esse o tipo de pensamento que organiza nossas ações, algo salta aos olhos: não se tratar mais de sermos felizes juntos, pois a felicidade passa a ser uma conquista individual, egoísta. Não olho mais o outro enquanto outro. Ele é apenas um meio para a obtenção dos meus fins: a felicidade plena. O resto que se dane se eu conquistar minha felicidade.
Todos precisam ser eficazes para o bem da sociedade. Rapidez e lucros imediatos. O tempo e o espaço são comprimidos em prol dos resultados. As distâncias e os lugares não existem mais no mundo virtual. Tudo precisa ser agora e aqui. Se mesmo que por apenas alguns momentos, estou fora do mundo tecnológico me sinto lá longe e antes. Meu tempo passou. Meu lugar foi ocupado. E juntos morrem a felicidade e meus lucros econômicos. Por isto mesmo preciso colaborar para a eficácia da organização social. O resto que se dane se eu lucrar com minha eficácia.
As perguntas que voltam são: existe algum lugar para a ética no mundo pós-moderno? Existe a possibilidade de um olhar lento para o outro? Consigo enxergar alguém que merece respeito e que está além da minha felicidade?
Está difícil. A inércia nos leva no caminho de um hedonismo pós-moderno. A ética foi substituída pela feliz eficácia.
Mas continuo achando que vale a pena agir com ética. Nas pequenas coisas, nos pequenos olhares. É assim que começa. Se educarmos nossos filhos a devolverem o estojo do colega, talvez eles se portem bem se chegarem um dia no Congresso Nacional ou na Presidência da República. Mãe e pais, mãos à obra. Como diria o poeta Manoel de Barros: “Eu penso renovar o homem usando borboletas”.