Esta é a segunda de uma série de cinco reportagens sobre Millennials. Veja todos os capítulos publicados
Os jovens são vistos como quebradores de barreiras e paradigmas. Apesar dissoApesar de serem vistos como quebradores de barreiras e paradigmas, a crise vem alterando a forma como os Millennials enxergam o risco. Afinal, há contas a pagar.
No estudo da MindMiners e do CIP, 37% dos respondentes colocam as grandes corporações, geralmente associadas a empregos de pouca mobilidade na carreira, mas com maiores salários e baixo risco, como local onde gostariam de trabalhar.
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Eles estão menos propensos a tomar riscos, ainda mais em um período de escassez de crédito e mercado de trabalho fragilizado.
Os programas de trainee exprimem exatamente a vontade latente de parte dos Millennials em trabalhar em grandes empresas. Nos últimos anos, algumas delas vêm batendo recordes de inscritos. O efeito da crise, claro, foi preponderante para esses números.
A Whirlpool, por exemplo, recebeu 19.000 inscrições para as cem vagas disponíveis. Entre os benefícios oferecidos pela fabricante de linha branca estão uma ampla série de treinamentos, disponibilização de mentor e coach e até experiência internacional para aqueles que se destacarem.
Outra empresa tradicional que é cobiçada pelos jovens é a incorporadora Cyrela. Mesmo em um momento complicado pelo qual passa o mercado da construção civil, a relação chegou a 1.700 candidatos por vaga.
Bancos ainda cobiçados
O mesmo movimento pode ser visto na subsidiária brasileira Citibank.O setor bancário, com a sua obrigatoriedade de uso de terno e gravata, por exemplo, é um dos símbolos do sonho do consumo e de status de gerações passadas.
Mesmo assim, o banco, que teve a operação de varejo vendida ao Itaú, em outubro de 2016, continua sendo procurado por jovens. “Recebemos mais de 12.000 currículos para trainees neste ano”, diz Hélio Magalhães, ex-COO do Citi.
Hélio Magalhães, ex-COO do Citi
A relação de candidato por vaga chega a 500. O executivo explica essa procura com a internacionalização da instituição. Presente em 97 países, a oportunidade de fazer carreira fora do Brasil acaba sendo um chamariz para alguns jovens, que sonham em morar no exterior.
“Mas percebemos que atraímos talentos quando lhes damos desafios, pois é uma geração que gosta de pensar em soluções para grandes problemas”, diz Magalhães.
Empreendedorismo: coragem ou medo?
Apesar de muitos Millennials ainda desejarem trabalhar em grandes corporações, o sonho da maioria (49,2%) é ter o negócio próprio ou conquistar uma vaga em empresas de tecnologia (48,2%), consideradas mais disruptivas, como a principal fonte de renda. Mas o atual momento atrapalha os planos.
Segundo um estudo da Fundação Estudar, ligada ao empreendedor e bilionário Jorge Paulo Lemann, 36,6% dos jovens entrevistados afirmam que querem montar uma empresa, mas aguardam mais sinais positivos da economia. Cerca de 22% sequer pensam em empreender.
Existem casos em que o empreendedorismo é visto como a única saída. Danilo Vieira, de 26 anos, é um desses exemplos. Ele ainda não teve a oportunidade de cursar uma graduação, mas sempre teve a carteira assinada.
Apaixonado por motocicletas, trabalhou como motoboy até alguns meses atrás, quando foi demitido. Diante da crise e da dificuldade de recolocação, decidiu abrir o próprio negócio.
“Estou começando a minha empresa de motoboy e quero isso para minha vida a partir de agora”, conta. “Estou tendo algumas dificuldades porque não é fácil começar algo sozinho, mas o sonho de ser meu próprio chefe existe desde criança”. A crise, de maneira indireta, criou esse incentivo.
Quero ser empresário
Também não faltam exemplos de Millennials que largaram carreiras bem encaminhadas para começar algo do zero. Formado em economia pela PUC-RS, André Fauri era o tipo de sujeito que poderia se orgulhar de suas conquistas no mercado financeiro. Ele passou por grandes empresas – a última delas, a Avon. Na empresa de cosméticos, foi promovido diversas vezes.
André Fauri, da LAIOB (Foto: Douglas Luccena)
Nesse meio tempo, Fauri fez um curso na New York University. Mal sabia ele que essa experiência mudaria a sua vida – e não foi apenas pela oportunidade de aprender.
O economista percebeu, naquela ocasião, a dimensão da burocracia (e do preço) que era preciso enfrentar para conseguir estudar fora do País.
“Eu tive de cumprir um cronograma complexo e ao mesmo tempo era um curso muito caro”, diz. “Ao fim do processo burocrático, tive ainda de investir no curso à vista e em dólar”.
Responsável, na época, pelo planejamento financeiro da área de marketing da empresa em nível global, Fauri sentiu a necessidade de criar um negócio que facilitasse esse processo, tanto em termos de pagamento quanto de burocracia.
“Eu queria possibilitar que mais brasileiros tivessem essa experiência e a facilitação do processo foi a forma que encontrei”.
Foi então que ele decidiu pedir demissão para se dedicar exclusivamente ao Latin America Institute of Business (LAIOB), empresa que ele começou a tocar de forma paralela. “Pensei em como fazer com que mais pessoas, não só de alta renda, pudessem fazer cursos fora do Brasil”, lembra.
O LAIOB tem, hoje, parceria com quatro universidades americanas e oferece bolsas de até 100% para alunos brasileiros. Três meses antes de sair da multinacional, Fauri havia sido promovido. “O que me fez mudar foi o propósito”, explica. “No momento em que formei as primeiras turmas, senti que precisava impactar as pessoas”.