O executivo Roberto Medeiros, presidente da Multiplus, tem como missão aumentar a fidelidade dos seus clientes. Sem trocadilhos. E o CEO sabe muito bem que a sua missão será muito mais complicada se os seus funcionários não tiverem a mesma devoção que ele espera dos seus consumidores.
Por isso, o executivo tem aquele estilo de profissional aberto e no melhor estilo startup. Gosta de conversar e aprender com os funcionários da companhia, independentemente do cargo, além de entender os problemas pelos quais eles estão passando. Vai que ele pode ajudar.
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Na entrevista a seguir, Medeiros fala sobre como chefes ruins e chefes bons influenciaram o seu estilo de liderança e os desafios de comandar uma empresa com filiais em diversos países. “Não enxergo maus chefes de todo o ruim na carreira, pois eles mostram o que não fazer em posições de liderança”, diz ele.
CM – Como você definiria o perfil de liderança da Multiplus?
Roberto Medeiros – Na Multiplus, tomamos cuidado até com as coisas mais simples, a começar pelas salas. Não existe conceito de isolamento e nem de tomar decisões isoladas. E isso começa no próprio prédio. Todos os executivos, inclusive eu, estão próximos das pessoas. Seja em reuniões formais ou reuniões informais. Com esse espaço aberto, cobramos muito mais participações das pessoas.
CM – E como funciona essa cobrança?
RM – Eu acho que a pessoa pode ter ideias boas e ser criativa em vários lugares, até levando os filhos na escola. Isso tem que ser estimulado e essa liberdade precisa ser adotada. Eu sempre acreditei que, quando você contrata alguém, você aposta que trata-se de uma pessoa boa. Logo, você tem que dar ela a chance de criar e não podá-la. Não vejo esse tipo de liderança, que não estimula ideias, como positiva. Você tem que dar liberdade.
CM – O quanto os seus chefes influenciaram no seu estilo de liderar?
RM – Eu tive bons chefes e chefes ruins. Um chefe ruim, para mim, é aquele que não te dá orientação quando você precisa. No entanto, não enxergo maus chefes de todo o ruim na carreira, pois eles mostram o que não fazer em posições de liderança. Isso ficou muito claro na minha carreira. Eu não quero que colegas meus tenham dificuldades, muito pelo contrário. Quero facilitar a vida deles.
CM – E os bons chefes?
RM – Tive ótimos chefes na minha vida. Eles sempre me disseram que eu precisava priorizar a minha vida e não uma reunião. Tive um funcionário que estava escalado para ir em uma reunião comigo, mas a mãe não estava bem. Ele, constrangido, me perguntou se poderia chegar atrasado. Eu o liberei, pois a companhia não pode ser mais importante do que você. Aprendi isso com um chefe espetacular. Passei por um caso similar a esse.
CM – Como foi?
RM – Há 20 anos, tinha uma reunião no mesmo horário que uma apresentação da minha filha. Perguntei o mesmo para ele, que logo rebateu: “daqui a 20 anos você não vai lembrar dessa reunião, mas a sua filha vai lembrar que você não estava na apresentação.” Fui para a apresentação e depois voltei para a reunião e foquei nos temas. E isso é o que precisamos ter cada vez mais. É possível aliar a vida pessoal e profissional de maneira saudável e isso traz melhores resultados. Os Millennials estão mostrando isso.
CM – Existe alguma história ou alguma liderança que te inspira no dia a dia?
RM – Tem uma história em particular que eu vi do Bernardinho que ganhou a medalha de ouro na Olimpíada de 2016. Ele mudou completamente a forma de lidar com a equipe. Um repórter perguntou porque ele estava tão diferente, tão calmo. Ele respondeu que essa nova geração não funcionava no grito – eles perderiam performance se ele fizesse o mesmo que fez com os times anteriores. Ou seja, é necessário motivar o time de acordo com o momento e o estilo da equipe.
CM – A Multiplus está expandindo por diversos países, tanto na América Latina quanto na Europa. O que muda na hora de gerir equipes multiculturais?
RM – Liderar estrangeiros é um grande desafio. O mais importante é você valorizar a cultura local. Não adianta pensar que o que deu certo no Brasil vai dar certo lá fora. É necessário respeitar e aproveitar o que cada cultura tem de mais poderoso e aglutinador para melhorar a performance.
CM – Poderia dar algum exemplo de situação que o sr. aprendeu liderando estrangeiros?
RM – Por exemplo, na Argentina é senso comum que existem temas que é melhor não discutir. Fazer brincadeiras de futebol e da seleção, por exemplo, não é bem visto. Aqui, as pessoas levam as brincadeiras de maneira mais tranquila. Lá não é assim. Se a Argentina perde um jogo, o país inteiro fica deprimido. São coisas que podem afetar até a hora de fechar um negócio.
CM – Como o sr. enxerga o perfil do CEO do futuro?
RM – O perfil do CEO do futuro é que ele precisará ser o mais adaptativo possível. Claro que resultado sempre vai ser importante. Mas, tirando isso, não há verdade absoluta. O líder precisa estar disposto a aprender sempre, seja em universidades ou com os próprios funcionários.
CM – Existem outras funções que um CEO precisa exercer, na sua opinião?
RM – Também acredito que o CEO precisa cuidar do aspecto social. Eu, por exemplo, sou conselheiro do GRAAC com prazer. Dedico meio dia a cada quinzena para ir ao hospital. Lá, opino e participo. Sou um ativista na busca de recursos para o hospital. O CEO que não devolve para a sociedade a felicidade que ele teve e o que ele aprendeu é pouco ambicioso. Ele pode aumentar e muito o impacto positivo.