Até a semana passada, Protonmail era o nome de uma empresa que tinha como principal serviço a oferta de um e-mail criptografado usado por aproximadamente 70 milhões de usuários. O serviço virou um sucesso, principalmente após o avanço do debate mundial sobre a segurança cibernética e a proteção de dados e que normalmente tem como vilões as big techs.
Nesta quarta-feira, muita coisa mudou na empresa, inclusive o nome. Agora, a companhia atende pelo nome de Proton. Além disso, ela anunciou que o seu propósito é tornar a internet um lugar menos vigiado e, para isso, topa combater as práticas comerciais utilizadas por empresas como o Google.
A construção de uma nova superfície
Embora a empresa não diga oficialmente, o fato é que a Proton já é apontada como uma espécie de antítese do Google em quase tudo. E nada disso é um chute da imprensa americana ou algo acidental. Há realmente um plano de negócios orientado a oferecer serviços digitais criptografados, o que realmente evitaria uma vigilância das big techs.
Na prática, a ideia seria construir uma nova superfície da internet com camadas de privacidade, algo que, em tese, contraria a rede mundial acessada e organizada no Ocidente pelo Google.
Para isso, além do nome, a empresa também anunciou novidades no portfólio da companhia. Um deles é um serviço por assinatura que inclui e-mail, calendário, banco de dados e serviço de mensagem mensagens. Tudo, claro, criptografado. Há, inclusive, uma rede VPN.
Discurso forte
Com exceção da VPN, esses são serviços justamente oferecidos gratuitamente (ou nem tanto assim) pelo Google. Se até aqui o antagonismo ainda parece turvo para muita gente, as diferenças ficam ainda maiores no discurso da Proton em seu site.
Nele, o discurso é feroz e claramente direcionado para as big techs, embora nenhuma delas seja efetivamente citada. Fica claro que se existe empresa orientadas ao propósito ambiental, a motivação da Proton é combater o mau uso corporativo dos dados pessoais.
“Desde que foi criada no CERN, em 1991, a World Wide Web revolucionou nossas vidas. No entanto, para muitos de nós, a única maneira de se beneficiar da internet hoje é entregar grandes quantidades de dados pessoais a empresas que priorizam os lucros em detrimento da privacidade. Em muitas partes do mundo, os governos abusam desses dados para limitar a liberdade de seus cidadãos.”, afirma a Proton em seu site.
O discurso da companha fica ainda mais eloquente quando a própria história da companhia é contada.
A Proton foi fundada por pesquisadores do CERN, o gigantesco acelerador de partículas subatômicas localizado nas fronteiras entre a Suíça e a França que, como bem lembrou a empresa, foi o local do surgimento da internet como a conhecemos. No fundo, quem viu o surgimento e o desenvolvimento da internet de perto, saberia bem os efeitos colaterais que viriam em um segundo momento.
CEO cita big techs
Mas se toda essa rivalidade ainda deu a impressão de ser circunstancial, existe o discurso do próprio fundador e CEO da companhia, Andy Yen, sobre o tema. E as recentes entrevistas delas são bem mais diretas.
Em uma delas, concedidas nesta semana a Wired, ele acusou a Apple de tentar “monopolizar a privacidade” ao redor dos seus produtos. “O que a Apple está basicamente alegando é que você precisa nos deixar continuar usando as práticas da loja de aplicativos porque somos a única empresa no mundo que pode obter a privacidade correta. É uma tentativa de monopolizar a privacidade, o que não acho que faça sentido.”
Já contra o Facebook, a acusação é um pouco mais trivial: a tal proteção de dados. “Se você olhar para o processo da FTC contra o Facebook, a teoria é que privacidade e competição são dois lados da mesma moeda. Se você não está satisfeito com as práticas de privacidade do Facebook, qual é a mídia social alternativa que você pode acessar além do Facebook e Instagram? Você realmente não tem muitas opções. Precisamos de mais jogadores por aí. Se eles tivessem que competir, então a competição forçaria a privacidade a ser um ponto de venda.
E, como não poderia ser diferente, sobrou até para o Google. “Hoje, o Google controla o sistema operacional Android, que é usado pela maioria das pessoas, e eles podem pré-carregar todos os seus aplicativos como padrão em seus dispositivos de usuário. Portanto, eles já têm uma enorme vantagem porque os usuários não alteram os padrões”, afirma.
Pelo jeito, a ideia de serviços voltados para a construção de uma internet sem vigilância deve ser o negócio do futuro. E a Proton parece ser uma forte candidata a liderar esse movimento.
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