De repente, ao longo do sábado, 10 de março, uma energia começou a tomar conta dos corredores do Austin Convention Center, hub principal do SXSW. Elon Musk confirmou sua presença para palestras no domingo, 11/03. Um “zum zum zum” percorria a downtown Austin e a ansiedade tomou conta de milhares de congressistas.
Elon Musk não desapontou. Conversando com Jonathan Nolan, roteirista de Interestelar, o empreendedor e CEO da Tesla falou primeiramente sobre Marte. “Estamos fazendo grandes progressos para criar espaçonaves que possam voar tão longe”. Ele acredita que a exploração interplanetária permitirá a perpetuação da civilização humana, na medida que poderemos obter recursos de que necessitamos. Haverá, sem dúvida, pessoas que queiram ser colonizadores do planeta Marte e da Lua. “Pessoas que viverão novas aventuras, que morrerão, mas que deixarão sua marca na história humana”, arrisca Musk.
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O empreendedor fala de maneira um tanto insegura, comedida, medindo as palavras. Parece saber que trata de assuntos espinhosos e delicados. A Space X está pesquisando intensamente formas de desenvolver materiais que possam reduzir dramaticamente os custos das viagens. É necessária uma nave enorme capaz de transportar pessoas, equipamentos e suprimentos em uma quantidade que a permita navegar por meses ou anos a fio. Ainda não há fontes de energia que durem tanto para sustentar uma nave como essa.
Ver o mundo de longe
Carl Sagan disse, há décadas, como é sábio poder enxergar a Terra de longe é isso faz parte da inspiração de Elon Musk em sua aventura espacial. Ele é um líder que procura trabalhar junto com a sua equipe, particularmente com os times de design. Vejam a beleza dos carros da Tesla, por exemplo. Ele valoriza a qualidade de sua equipe que “trabalha como louca para nos levar adiante e é satisfatório ter um time como esse”.
Investir contra o convencional
O que levou Elon Musk a investir em disrupção contra indústrias tradicionais como a de automóveis e de combustível fóssil? A Tesla tem um modelo de negócio distinto, carros elétricos e tecnologias digitais que levaram o conceito de montadora a outro patamar. “Acredito que precisamos mudar a forma de pensar nos automóveis, em torná-los parte de uma forma de fazer o mundo melhor, de pensar além do carro como um veículo que nos conduza de um ponto a outro”, afirmou o empreendedor. No caso da Space X, Musk olhou para o site da NASA e perguntou: “onde está Marte?” e aí resolveu criar a empresa para colonizar o planeta vermelho.
Quanto custa um foguete?
O que fascina na visão de Musk é a abordagem singela do problema: qual é o custo de um foguete que consiga ir para Marte e voltar? Por que nunca pensamos em reduzir esse custo? Tem que haver uma forma de tornar viável o custo de produção de um foguete (ou uma frota deles). É muito difícil colocar um foguete para funcionar? Por quê?
Para Musk, ir à Marte é um problema técnico e não um desafio desproporcional ou uma ideia visionária. Em sua mente faz sentido e por isso sua abordagem dimensiona e enquadra o problema na amplitude que permite encontrar soluções melhores. Ir à Marte é um problema técnico e, como tal, há soluções. O fato de apenas uma pequena parte do foguete retornar ao planeta e todo o restante ser descartado é um problema e é aí que reside um universo aberto para inovar: o foguete precisa ir e voltar inteiro.
O executivo falou das dificuldades de levantar financiamento, tocando o sonho da Space X e tentando viabilizar e tornar a Tesla saudável financeiramente. Em 2008, com a crise financeira, a empresa quase quebrou, mas conseguiu seguir em frente.
Carbono alterado
Jonathan e Musk abordaram então a questão do desenvolvimento das Inteligências Artificiais. Para Musk, o investimento nessa área é correto, mas precisa ser feito com muito cuidado. Energia sustentável para ele é uma questão mais crucial. “Há uma distorção nesse mercado, na medida em que os preços existentes não são corretos. Essencialmente, pessoas e governos precisam efetivamente reduzir a emissão de carbono na atmosfera e essa emissão precisa ser taxada. O motivo é simples: a emissão tem baixo custo”.
Musk também falou sobre a diferença entre Inteligência Digital e Inteligência Artificial e a interação entre computação e cérebro humano, para podermos ser ciborgues ou organismos cibernéticos. Novamente, Musk encara a questão como um problema técnico, no qual a transferência de nossa mente para um corpo ou cérebro cibernético seria uma extensão digital de nós mesmos, o sistema límbico, o córtex cerebral, tudo seria então uma extensão digital.
Outro campo de estudo é levar a internet para o espaço, algo que lembre o princípio da Skynet, do filme “Exterminador do Futuro”, mas voltada para oferecer superconectividade para todos.
Finalmente, Musk foi questionado sobre que tipo de governo uma Marte colonizada teria. Jonathan perguntou se teríamos um Musk I. Para o empreendedor, contudo, a melhor resposta seria a democracia baseada em princípios simples, com um sistema legal compreensível e justo.
Da Vinci moderno
Em resumo, Elon Musk apresentou ideias, visões e inquietações que espelham e explicitam um homem consciente de sua posição e que está à procura de soluções para os problemas humanos. Guardadas as devidas proporções, Musk é um Leonardo da Vinci dos tempos modernos, com mais dinheiro e a mesma ambição. Contraditório ou polêmico, é gente como Musk que faz a humanidade avançar.
Quantos de nós poderiam fazer o mesmo? Mais do que ter oportunidade de ser um visionário que se propõe a deixar um legado, Musk é um homem que se propõe a ser o melhor que pode ser e a fazer o melhor que pode com os recursos que tem em mãos.