A agilidade e eficiência com que governo, empresas e pessoas de um país se apropriam da tecnologia para gerar novas riquezas é um ativo valioso. E numa lista de 20 economias avaliadas sob essa ótica, o Brasil ficou em 17º.
É o que mostrou um estudo feito pela consultoria e provedora de serviços digitais Accenture, que criou um índice para medir essa relação de cada economia com a tecnologia – o NAC Index (“Capacidade de Absorção Nacional”, na sigla em inglês).
Com uma escala que vai de zero a 100 pontos, o Brasil recebeu 32,4; à frente apenas de Itália (31,3), Índia (29,9) e Rússia (21,3). Na outra ponta, Estados Unidos (64), Suíça (63,9) e Finlândia (63,2) se revelaram os países mais ágeis e efetivos em converter recursos digitais em ganhos econômicos.
Para Armen Ovanessoff, diretor geral do braço de pesquisas da Accenture e coordenador do estudo, as razões que seguram o Brasil para baixo são velhas conhecidas dos brasileiros, como baixos níveis de educação, infraestrutura e produtividade. Mas Ovanessoff é otimista: em uma economia que será cada vez mais digital, o Brasil leva larga vantagem. “Não sabemos quais serão os trabalhos do futuro, mas sabemos que criatividade, emoção e empatia serão habilidades valiosas; e isso vocês têm como ninguém”, diz.
No entendimento da Accenture, a revolução digital por que passa o mundo é uma oportunidade sem precedentes para os países darem um salto em desenvolvimento, conforme tecnologias novas e antigas se unem, se espalham e se tornam mais simples, baratas e acessíveis. Internet das coisas, redes sociais, analytics, nuvem e inteligência artificial são algumas delas. “Vivemos uma revolução como a invenção da energia elétrica, só décadas depois de seu surgimento pudemos entender o que ela mudaria em nossas vidas. E não chegamos lá ainda para saber.”
Original da Inglaterra mas vivendo em São Paulo há dois anos, Ovanessoff participou da Futurecom 2016, que acontece entre os dias 17 e 20 de outubro na capital paulista. Entre uma palestra e outra, conversou com a Consumidor Moderno e falou sobre o potencial digital brasileiro, startups e tecnologia. Veja os principais trechos.
A que você credita a pontuação ruim do Brasil em aproveitamento digital?
Fizemos um estudo grande sobre o Brasil há alguns anos, e a conclusão foi toda sobre como sua principal limitação é a produtividade. Isso embute questões como educação, investimentos, infraestrutura; o que não é nenhuma surpresa. A surpresa é como o Brasil sobreviveu várias décadas sem mexer nisso. Mas, do ponto em que está agora, não tem nenhum outro caminho possível além de investir em produtividade. Por sorte, este é o momento para fazer isso. Há uma série de tecnologias, muitas das quais sempre estiveram por aí, e que agora são muito mais fáceis e acessíveis. E, se por um lado o Brasil tem deficiências, por outro tem ingredientes tão próprios e que não se acham em muitos países.
Quais são esses ingredientes?
Os brasileiros têm um apetite inacreditável por tecnologia. Estão entre os maiores mercados do mundo em mídias sociais e outras coisas desse gênero. Há também uma organização da economia, as coisas chegam a acontecem muito rápido. Mercado de consumo é um dos pontos-chave da economia digital, e o Brasil é intensivo nisso. Outra coisa que me impressiona é a comunidade de startups que há aqui, ela é muito viva e dinâmica. No futuro, muitos novos tipos de trabalho que ainda não conhecemos vão surgir, ligados à tecnologia. Muitos também vão se perder, mas sabemos que criatividade, emoção e empatia serão habilidades valiosas; e isso vocês têm como ninguém.
Por que você diz que o ambiente de startups no Brasil te impressiona?
Há coisas fascinantes acontecendo, e não é só em São Paulo, mas em várias capitais. A Accenture tem um laboratório no Brasil onde compartilhamos experiências com startups e grandes companhias; e vemos esses empreendedores indo para fora, para o Vale do Silício, levar seus aplicativos e projetos. Porque eles são bons. São pessoas jovens, versáteis, dispostas a se internacionalizar. Contrasta com as grandes empresas tradicionais do Brasil, que se internacionalizaram bem menos do que outras na China ou na Índia. Para elas, o Brasil já é um grande mercado e acabam ficando aqui. Mas se internacionalizar não é só uma questão de ganhar vendas. É sobre acessar outras habilidades e tecnologias para trazer de volta e vender mais no Brasil mesmo.
Com nossas deficiências, como aproveitar esse “bônus digital”?
Há o lado técnico da questão, que exige políticas voltadas para educação e formação, mas há muito o que as empresas podem fazer também, no que diz respeito à adoção dessas tecnologias. O que vemos hoje são empresas correndo atrás de resolver diversos problemas diários, o que toma tempo e gasta dinheiro. Com a tecnologia, elas podem acompanhar e avaliar em tempo real se o que está sendo feito funciona ou não, e evitar perdas futuras. Quer dizer, não é só uma questão de recursos, é questão de cultura também.