Esta é a primeira de uma série de três reportagens sobre digitalização dos bancos. Confira a segunda parte e a terceira parte
“Não precisamos de bancos. O que realmente importa são os serviços bancários, mas não as instituições financeiras”. Se, ainda hoje, ideias deste tipo podem causar certa estranheza, imagine em 1994, quando foi feita por ninguém menos do que Bill Gates, fundador da Microsoft e um dos homens mais ricos do mundo.
Com tantas fintechs surgindo, a fala de Gates começa a fazer mais sentido. Para pagar boletos, pedir empréstimos e fazer transações corriqueiras, o consumidor tem hoje à sua disposição empresas que sequer existiam nos últimos quatro ou cinco anos. Mas apesar do crescimento acelerado dessas empresas, engana-se quem pensa que as grandes instituições financeiras ficarão para trás.
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É bem verdade que o avanço tecnológico derrubou gigantes nos últimos tempos. Que o diga a Blockbuster, que já estava mal das pernas, mas desapareceu por completo após a criação da Netflix. Os bancos, no entanto, se mexem (e muito) para que a fala de Gates não se torne uma profecia.
Um estudo realizado pela consultoria E-Consulting e divulgado com exclusividade pela Consumidor Moderno mostra que, apesar do avanço das startups, as instituições bancárias continuam na vanguarda da tecnologia.
Para ilustrar as mudanças e desenhar o futuro do setor no Brasil, além do grau de digitalização dos bancos, a E-Consulting analisou as cem maiores instituições registradas no Banco Central, excluindo as estrangeiras sem operações de varejo, e levantou as principais fintechs do País. Feito isso, classificou essas empresas em diferentes categorias, em uma espécie de darwinismo setorial (veja quadro abaixo).
Para complementar as informações, a Consumidor Moderno fez uma série de três reportagens especiais a respeito da digitalização dos bancos. O resultado você pode ver nos próximos dias.
Tudo o que puder ser digital, será
Vivemos um momento em que são pouquíssimas as inovações que surgem sem a participação ativa do consumidor. Ou seja, não é todo ano que vai surgir uma espécie de iPhone para causar uma reviravolta no mercado. O mesmo acontece no setor bancário. As inovações e as ferramentas são criadas a partir de uma necessidade ou de uma vontade do cliente. Por isso, é imprescindível que as empresas tenham uma visão única dele. Só assim, conseguirão ser bem-sucedidas na jornada que leva ao autosserviço, ao autoconsumo e ao autoatendimento.
Estudar os hábitos de consumo dos brasileiros, acompanhar e, principalmente se antecipar a eles, são tarefas que exigem investimentos. E nesse quesito os bancos brasileiros saem mais uma vez na frente.
Dados da consultoria Gartner mostram que, no ano passado, as instituições bancárias foram as que mais investiram em tecnologia em todo o País: R$ 18,6 bilhões ao todo. Esse montante representa 14% de tudo o que foi aportado, um percentual bem similar ao que é investido pelo Governo Federal. Essa, aliás, é uma característica bem local: em outros países, é o governo que costuma liderar os investimentos em TI.
Os investimentos são facilmente entendidos quando analisamos os números do setor. Em um universo digital, as ferramentas precisam funcionar 24 horas por dia, sete dias por semana, 365 dias por ano. Portanto, a usabilidade é algo que sempre precisa ser melhorada. E os consumidores compraram essa ideia, como mostra estudo da Federação Brasileira dos Bancos (FEBRABAN).
De acordo com o levantamento, a evolução das transações bancárias por canais digitais saltou de R$ 12,2 bilhões, em 2011, para R$ 36,7 bilhões no ano passado. Se considerarmos apenas o volume transacionado pelos celulares, o aumento é ainda mais gritante. Há seis anos, apenas R$ 100 milhões foram movimentados via mobile banking. Hoje, esse valor ultrapassa os R$ 22 bilhões.
A evolução bancária
Movimentar cifras bilionárias por meio do celular, no entanto, é apenas uma vírgula dentro de todo o avanço do setor bancário. O estudo da E-Consulting mostra muito bem todas as fases que os bancos precisaram ultrapassar para chegar nesse nível de serviços – e o valor que as instituições foram agregando com essa evolução.
Antigamente, antes mesmo da internet, o banco era somente físico, evidentemente. O foco era muito mais voltado aos resultados e a preocupação era vender o que era mais conveniente para o negócio.
Com a chegada da internet, algumas instituições médias começaram a entender a importância de se comunicarem com os clientes de maneira mais próxima. Ao mesmo tempo, os bancos maiores perceberam que, se não se mexessem, ficariam para trás.
Foi quando partiram para a criação do conceito, segundo Daniel Domeneghetti, CEO da E-Consulting, de banco físico/digital. Aquele em que o cliente poderia resolver grande parte dos seus problemas por meio de um computador. As grandes instituições incrementaram uma ideia que começou pelos bancos médios e logo exerceram um domínio ainda maior no mercado.