O que o açúcar e uma academia tem em comum? Se considerarmos o fato que um inibe o outro em uma esteira ou na bicicleta ergométrica, trata-se de uma relação distante, quase improvável. Mas a história de Edgard Corona, fundador da rede de academias Smart Fit, passa por esses dois momentos distintos ao longo da vida desse empreendedor.
Em uma palestra inspiradora no Conarec, Edgard conta que herdou uma usina de cana quase falida lá pelos anos de 1990. Foi então que ele empregou técnicas de gestão empresarial, melhorou a saúda da companhia e a transformou na 13ª maior produtora no país. Mas, no meio do caminho, um problema societário o afastou da companhia. Era o fim da carreira como usineiro.
No entanto, ele não se abateu com os problemas ocorridos na empreitada anterior. Corona olhou com carinho para a pequena academia que pertencia a família e altamente conectado com o seu maior hobby: a natação. Naquele momento, lembra ele: “Quero tentar transformar a academia em um grande negócio”.
Daquele momento em diante, houve uma intensa mobilização corporativa de tentativa e erro. Naquele momento, não havia um modelo bem acabado de academia, mas pequenas empresas administradas de maneira quase amadora no país. Faltava um “benchmark” no Brasil. Assim, o jeito foi recorrer a outras fontes.
Ele ouviu especialistas em negócios, que sugeriram academia com piscina, espaços com circuitos de treino… e nada parecia surtir efeito. Um belo dia nos EUA, ele foi apresentado a um consultor que sugeriu uma solução chamada metanoia, uma ideia totalmente estranha para o empenhado executivo. Corona quis saber sobre a ideia, mas isso teria um custo: módicos R$ 90 mil. Corona surtou. Naquele momento, ele questionou o consultor com um “você vai me cobrar isso e sequer vai me dizer o que é metanoia?”.
O consultor garantiu que Corona teria o retorno esperado para o seu negócio e, dessa forma, os milhares de reais foram pagos. Assim, o empreendedor descobriu o significado de metanoia e a sua relação com uma mudança com o perfil de liderança corporativa. Em outras palavras, trata-se de uma gestão hierárquica cuja ideia é estimular o processo participativo de todos os funcionários, buscando assim resultados mais expressivos. Ouvir mesmo o seu funcionário seria a chave do negócio. E mais uma vez ele testou a ideia.
Em paralelo a essa iniciativa, ele absorveu informações sobre o seu negócio. Em 2003, ele foi para os EUA para um congressos de academias (um mercado gigantesco) e ouviu os mais diferentes depoimentos sobre o setor. Um deles dizia que uma das preocupações das academias americanas seria o possível avanço de grandes players sobre os pequenos negócios. E uma dessas empresas era a gigante alemã Planet. Planet… afinal, qual era o segredo germânico? Seria um novo “7 a 1”, agora em gestão?
No fim, não era bem isso. Corona ouviu a Planet e não se animou com o modelo alemão. “O que a gente oferece é o que a gente oferece. Mas não damos serviço”. Em outras palavras, não há uma orientação empresarial focada no cliente. Corona duvidou dessa estratégia. “Isso está errado. Eu vou bater cabeça, mas não vou concordar com isso. Eu quero pensar em um modelo de academia que tenha uma grande oferta de serviço e que tenha qualidade”. E lá foi ele implantar e testar.
No fim, todo esse aprendizado, em maior ou menor grau, foi importante para a criação do esqueleto que daria origem a Smart Fit. Surgia ali um modelo de democrático de academia, padronizando ao máximo o estilo das academias. Seriam locais com dois ou três layouts de padrões e que conferiria uma iluminação cenográfica quase motivacional. Mais do que isso, patrão e empregado poderiam usufruir do mesmo espaço por causa do valor bem ajeitado aos diversos bolsos (R$49 ou quase um Netflix das academias).
E foi assim que surgiu a rede, mas nem isso pareceu apaziguar a ambição por novos testes de Corona. Se o seu espaço foi democratizado, falta agora o ecossistema de treino. Aos poucos, ele trabalha ofertas de produtos acessíveis e até uma linha de roupas próprias a um custo aderente ao orçamento. Em tese, não seria necessário usar a velha camiseta promocional ou a bermuda surrada. Se vai dar certo? Essa é uma outra história, talvez outro Conarec.