A forma como os membros de uma organização se comportam, realizam suas atividades e interagem com o público, é resultado de um conjunto de valores, normas e comportamentos ensinados e praticados no dia a dia de uma empresa. Esse conjunto é chamado de cultura organizacional, um conceito surgido na metade do século passado que ainda hoje pode ser considerado um dos pilares para o sucesso de qualquer empresa.
“A cultura equivale ao modo de vida da organização em todos os seus aspectos, como ideias, crenças, costumes, regras, técnicas e outras”, explica Idalberto Chiavenato no livro “Gestão de Pessoas: e o Novo Papel dos Recursos Humanos nas Organizações”.
Para o autor, a cultura organizacional é a forma como os membros de uma empresa percebem as características da organização e as colocam em prática, construindo um perfil que difere uma empresa de outra.
Se bem definida, a cultura promove o alinhamento entre os objetivos da empresa e os comportamentos esperados dos colaboradores. Esse alinhamento é essencial para garantir que todos trabalhem em direção aos mesmos objetivos, aumentando a coesão e a eficiência dentro da organização.
Além disso, em um mercado altamente competitivo, reter talentos é um desafio constante. Uma cultura organizacional atraente e bem estruturada é um diferencial importante para atrair e reter os melhores profissionais. Colaboradores que se identificam com os valores e a missão da empresa são mais engajados e menos propensos a buscar outras oportunidades.
Como construir uma cultural organizacional sólida?
Para Melina Záccaro Garcia Gil, psicóloga, gestora de recursos humanos e MBA em Gerenciamento Estratégico de Recursos Humanos e ESG, uma cultura organizacional sólida é aquela que vai além do que está escrito nos sites ou informações empresariais. “É aquela que é vivenciada no dia a dia através das políticas e processos e principalmente com o comportamento e atitudes dos colaboradores independentes de seu nível hierárquico”, diz.
Cinco pontos são importantes para a construção de cultura que realmente faça parte do cotidiano da empresa:
1. Liderança exemplar
A liderança desempenha um papel crucial na formação e manutenção da cultura organizacional. Para Idalberto Chiavenato, os fundadores da organização são os que têm maior impacto sobre a cultura inicial da empresa, pois são eles que transmitem a visão do que a organização deve ser.
Essa visão deve ser passada para os líderes, que no dia a dia devem ser exemplos vivos dos valores da organização, demonstrando através de suas ações e decisões o que é esperado de todos os colaboradores. A consistência entre o discurso e a prática da liderança fortalece a credibilidade e a adesão à cultura organizacional.
2. Definição clara de valores e missão
O primeiro papel da liderança na construção uma cultura organizacional sólida é a definição clara dos valores e da missão da empresa. Esses elementos devem ser autênticos e refletir o cotidiano desejado para a empresa e seus objetivos de forma realista.
A missão e os valores não podem ser apenas palavras bonitas colocadas em um quadro, precisam ser declarações sérias e inspiradoras. Depois de definidos pela direção da empresa, missão e valores devem ser comunicados de maneira eficaz a todos os níveis da organização e incorporados em todas as suas práticas e políticas.
3. Envolvimento dos colaboradores
Para que a cultura organizacional seja eficaz, é fundamental envolver os colaboradores em sua construção e manutenção. Criar canais de comunicação abertos, incentivar feedback e promover a participação ativa dos funcionários em iniciativas culturais são práticas essenciais. Isso não só reforça o compromisso dos colaboradores com a cultura da empresa, mas também permite ajustes e melhorias contínuas.
4. Recompensas e reconhecimento
Estabelecer sistemas de recompensa e reconhecimento que estejam alinhados com os valores da empresa é outra estratégia vital para manutenção de uma cultura sólida.
Reconhecer e recompensar comportamentos que exemplificam a cultura desejada incentiva os colaboradores a adotarem esses comportamentos, reforçando a cultura organizacional de forma prática e tangível.
5. Adaptação e evolução
É importante lembrar que a cultura organizacional não é estática. Ela deve evoluir à medida que a empresa cresce e se adapta às mudanças da sociedade.
“A cultura não pode ser engessada. Uma empresa que tenha 50 anos não pode continuar cultivando os mesmos valores da época da sua fundação. A revisitação da cultura, do que move a empresa, tem que acompanhar as evoluções pelas quais a organização passa, as mudanças do mercado e as novas exigências que surgem”, diz Melina Záccaro Garcia Gil.
Manter-se atento às novas tendências e estar disposto a fazer ajustes quando necessário é crucial para garantir que a cultura organizacional continue sendo relevante e eficaz.
Consumidor pode se alinhar a uma cultura sólida
“Basta entrar em qualquer empresa e a primeira coisa que se nota é a cultura corporativa – a maneira como as pessoas se vestem, como se dirigem umas às outras e como cumprimentam os clientes”, escrevem Philip Kotler, Kevin Keller e Alexander Chernev na edição de 2024 de “Administração de Marketing”. Ou seja, a cultura é um movimento interno que é percebido dentro e fora da organização daí sua importância vital para o negócio.
O livro cita o case famoso da Southwest Airlines, desde 2003 a maior companhia aérea nacional dos Estados Unidos e a maior operadora de baixo custo do mundo, conhecida pela excelência no atendimento, ponto chave da sua cultura. “Acreditamos que se tratarmos nossos funcionários direito, eles tratarão nossos clientes direito, o que resultará em mais negócios e mais lucros, o que deixa todos felizes”, diz a empresa aérea, de acordo com os autores.
A lógica exposta pela Southwest Airlines é uma realidade. O consumidor sente quando a empresa possui uma forma consistente de atuar no mercado e se torna um cliente quando é impactado positivamente por essa cultura.
Segundo Melina Záccaro Garcia Gil, o impacto acontece porque de uma forma crescente, as pessoas buscam um alinhamento em relação aos seus próprios valores e princípios com as empresas ou organizações das quais elas decidem se relacionar ou consumir.
“Os consumidores naturalmente buscam alinhar seus valores com as marcas com as quais quer se relacionar”, diz a gestora de recursos humanos. “A tecnologia neste caso, é aliada tanto da empresa que quer demonstrar seus valores e propostas, como do consumidor”, complementa.
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