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Consumo Consciente – Sem embalagem, nem desperdício

Consumo Consciente – Sem embalagem, nem desperdício

Com forte apelo ambiental, o novo conceito de supermercado venderá produtos sem embalagem na Alemanha. A prática, que já ocorre em pequenas lojas de alimentos em alguns países, especialmente na Europa, está ganhando adeptos cada vez mais comprometidos com a redução da produção de resíduos e do desperdício.

Um supermercado em que o consumidor leva seus próprios recipientes e compra os produtos na medida certa para seu próprio consumo, evitando desperdício de alimentos e de embalagens. É assim que o Original Unverpackt, um supermercado que será inaugurado em Berlim até setembro deste ano, é apresentado ao público. As sócias Sara Wolf e Milena Glimbovski afirmam que será o primeiro supermercado da Alemanha sem embalagens. O pano de fundo do projeto é a questão ambiental. ?Acreditamos que a atual forma de comprar não é sustentável?. Elas afirmam que cada pessoa produz 250 quilogramas de lixo por ano, e que somente na Alemanha 16 milhões de toneladas de embalagens se tornam lixo todo ano. Entende-se, assim, por mais que haja a reciclagem de muitas delas são energia e custo que podem ser reduzidos.

Diante disso, o Original Unverpackt propõe a mudança por meio de uma nova experiência de compra, porém, oferecendo variedade de produtos, assim como os supermercados tradicionais. As sócias garantem que, além dos produtos alimentícios, que devem contar com fornecedores locais, haverá uma seleção de não alimentícios, de limpeza e de produtos de beleza.

E como vai funcionar? Sara e Milena explicam que os alimentos ficarão dispostos em grandes containers verticais que são preenchidos de cima para baixo e contam com a ajuda da gravidade para funcionar. Quando o cliente vier com o recipiente dele, basta pressionar uma peça do contêiner e encher o pote com a quantidade que se pretende comprar. O produto é pesado, pago e já vai para casa na vasilha de uso. Porém, quem esquecer os recipientes não fica sem comprar. É possível pegar uma vasilha emprestada com o estabelecimento ou receber sacolas de papel reciclável.

As sócias não são muito claras sobre a quantidade que deve ser armazenada diariamente nos containers para evitar perdas dos produtos e sobre como devem expor a data de validade. Entretanto, afirmam que todo processo é estritamente higiênico e que o projeto foi desenvolvido junto com as autoridades em saúde.

Com uma estratégia de marketing bem estruturada, o projeto já está envolvendo os futuros consumidores. Para a realização da primeira loja em Berlim, as sócias contaram com investidores privados e com um crowdfunding ? prática de financiamento de um projeto ou empreendimento, levantando diversas pequenas quantias de dinheiro a partir de um grande número de pessoas, geralmente por meio da internet. Com o crowdfunding, elas conseguiram arrecadar ?115 mil e quatro mil apoiadores em 40 dias. Embora ainda nem tenham inaugurado a primeira loja, já planejam entrar no sistema de franquias.

Lojas são mais comuns

O que a proposta tem de mais novo é que oferece um supermercado com diversidade de categorias de produtos sem embalagem e gera curiosidade como realmente vai funcionar. Contudo, o mercado pequeno, ou loja, que vende produtos alimentícios sem embalagem não é tão novidade na Europa. A francesa Mari Delaperrière, por exemplo, inaugurou em fevereiro deste ano a mercearia Unverpackt na cidade de Kiel, também na Alemanha.

A empresária conta que a ideia surgiu depois que leu uma matéria no ?Le Monde? falando sobre o livro ?Zero Waste Home? (Casa do Lixo Zero), de Bea Johnson. Ele conta a história da senhora Johnson que viveu com sua família de cinco pessoas por três anos sem produzir lixo.?A matéria me impressionou muito. Naquele momento, eu fui infectada pela ideia de buscar novas alternativas?, conta. Inspirada, fez algumas pesquisas e verificou que já havia algumas lojas que vendiam produtos sem embalagem na França, no Reino Unido, nos Estados Unidos e no Canadá e resolveu implantar a ideia na cidade em que mora, na Alemanha.

Mari oferece mais detalhes sobre como o estabelecimento funciona. Segundo ela, a maioria dos produtos é entregue à loja em embalagens de 25 quilos, mas alguns produtos chegam em pacotes de cinco quilos. Eles são abertos pelos funcionários da loja e colocados nos grandes contêineres ? do mesmo tipo que o supermercado Original Unverpackt se propõe a ter ? e disponibilizadas aos consumidores. A data de validade mínima é colocada nos contêineres para que o consumidor possa verificar antes de comprar. ?Na etiqueta está o nome do produto, a origem, a lista de ingredientes e a data de validade. A cada 14 dias nós fazemos a checagem da data mínima de validade?, explica Mari.

Como a maioria dos produtos vendidos tem validade longa, não há necessidade de calcular uma quantidade diária de produtos que são abertos. Para frutas, verduras e legumes e pão a loja conta com um fornecedor que faz entregas em pequenas quantidades. Se sobrar algo que não seja mais possível vender, a comida é doada para instituições que recebem alimentos que ainda têm condições de consumo.

Mari relata que, no início, foi complicado encontrar fornecedores que oferecessem os mantimentos na quantidade ideal porque a ideia de vender sem a embalagem era nova para eles, mas que, aos poucos, foi encontrando o que precisava. ?O mais difícil ainda é conseguir produtos em grandes embalagens. Alguns gostaríamos de ter em quantidade maior, mas não é possível. Apenas poucos fornecedores estão preparados para repensar e ir para caminhos diferentes?, diz.

Apesar de algumas dificuldades iniciais, ela está satisfeita com os resultados. ?Podemos perceber que não temos um público-alvo especial, mas composto de estudantes a idosos ? claro, cada um com uma motivação diferente ? que estão comprando na Unverpackt?, afirma. Convencida de que esse é um novo ramo do varejo, assim como faz o Original Unverpackt, Mari está estruturando sua loja para se tornar um franqueador.

Sustentabilidade como diferencial competitivo

Envolvendo a comunidade desde o início do projeto, as fundadoras do Original Unverpackt, Sara Wolf e Milena Glimbovski, apostaram nos seguintes diferenciais:

  • Todos os produtos serão vendidos a granel. Para isso, o consumidor leva o seu recipiente, compra a quantidade que precisa, e pesa.
  • Quando não levar embalagem, o consumidor pode comprar na loja ou utilizar sacolas recicláveis.
  • Os produtos serão disponibilizados em contêineres com dispositivos na base para se retirar a quantidade desejada.
  • Para o setor alimentício, o supermercado contará com fornecedores locais.

Unverpackt é viável no Brasil?

A proposta de vender produtos sem embalagem e esperar que o cliente trará os próprios recipientes conta com a consciência e a responsabilidade do consumidor. Na Alemanha, como em outros países da Europa, isso é viável porque os consumidores já estão acostumados a levar as próprias sacolas reutilizáveis, carrinhos de compras ou mochilas para os supermercados.

Lá os estabelecimentos não disponibilizam sacolas gratuitas. Quem não tem ou esqueceu, tem que comprar a sacola, que é reutilizável. Mas e no Brasil, onde os consumidores ainda não conseguiram se adaptar a uma realidade sem as sacolas plásticas não retornáveis nos supermercados, o conceito seria viável?

Para Melissa Szuster, diretora-executiva do Sustentrends, empresa que trata de sustentabilidade no varejo, a proposta das lojas e supermercados sem embalagem para produtos a granel não é novidade no Brasil. ?Não é nada revolucionário em termos de prática comercial, é uma coisa que, pelo contrário, é o primórdio do comércio?, afirma. Ela lembra que, mesmo hoje, muitos comércios no País, especialmente nas periferias, assim como os mercados municipais e as feiras livres vendem a granel e o consumidor leva seus próprios carrinhos ou sacolas re
tornáveis para acomodar os produtos. Empresas de cosméticos também já vestiram a camisa há um tempo, como o caso da Lush, que vende xampu e condicionador em barra, por quilo. Fora os produtos de limpeza, que seguem sendo vendidos a granel, anunciados por vans nas ruas da periferia, no grito: ?Olha a cândida, desinfetante, amaciante, sabão de coco líquido, detergente…?.

?A grande novidade, na minha avaliação, é que isso foi embalado em um visual merchandising, com apelo de ponto de venda e de marketing que tem a relação com a sustentabilidade, a economia da embalagem e a não geração de resíduos, e uma prática mais consciente?, afirma Melissa, que apoia a iniciativa.

Por considerar que a venda a granel é comum no Brasil, acredita que uma loja sem embalagem teria adeptos por aqui, desde que se gere a cultura nos consumidores. Para a diretora do Sustentrends, se o consumidor brasileiro for estimulado a ter um novo comportamento, ele adere. Ela lembra de 2012, quando temporariamente as sacolas plásticas não retornáveis deixaram de ser oferecidas de forma gratuita pelos supermercados aqui. Na visão dela, muitos consumidores se adaptaram e passaram a ir às compras com seus carrinhos ou sacolas retornáveis. Porém, com a suspensão da medida, muitos se acomodaram. ?A questão da sacola plástica é que ela está muito fácil ao consumidor, tem em abundância e está à disposição. Com isso, o cliente não precisa se preocupar com as próprias sacolas?, explica.

Marcio Milan, vice-presidente da Associação Brasileira de Supermercados (Abras), também acredita que quando o consumidor brasileiro é estimulado, por meio de mídias, a usar as sacolas retornáveis e a ser mais consciente, ele reage positivamente. Porém, sem a comunicação mais intensa sobre a necessidade de ser mais consciente, a maioria acaba relaxando. Para ele, a adaptação do brasileiro a um mercado sem embalagem pode acontecer, mas deve demorar um pouco.

Contudo, acredita que o consumidor pode se tornar mais consciente com o Plano Nacional de Resíduos Sólidos, que está previsto para ser implementado este ano, e faz parte da Política Nacional de Resíduos Sólidos (PNRS), instituída em 2010. Milan diz que isso trará uma nova consciência ao consumidor em relação à produção de resíduos, porque exige que todos os envolvidos na cadeia ? as empresas, o governo e o consumidor ? compartilhem a responsabilidade. Segundo ele, a discussão das medidas que devem ser implantadas, como a erradicação dos lixões e o maior envolvimento da população na coleta seletiva, vai trazer uma consciência maior de todos.

O vice-presidente da Abras diz, ainda, que um bom caminho para formar um consumidor mais envolvido com a necessidade de reduzir resíduos e de cuidar do meio ambiente é levar essas questões para o âmbito da educação, na formação de jovens e crianças. ?Quando a criança aprende isso na escola, chega em casa e cobra da família atitudes em relação ao que ela aprendeu?, observa.

O Plano Nacional de Resíduos Sólidos contempla os diversos tipos de resíduos gerados, alternativas de gestão e gerenciamento passíveis de implementação, assim como metas para diferentes cenários, programas, projetos e ações correspondentes

    Os materiais mais descartados no Brasil

  • 51,4% matéria orgânica
  • 16,7% outros
  • 13,5% plástico
  • 13,1% papel, papelão e longa vida
  • 2,4% vidro
  • 2,3% aço
  • 0,6% alumínio
  • Fonte: IPEA 2010

    Coleta e geração estimada de resíduos sólidos no Brasil

  • 193.642 Lixo gerado (ton/dia)
  • 169.300 Lixo coletado (ton/dia)
  • 87,4% Cobertura da coleta de lixo
  • Fonte: SNIS (2010), Censo 2010, LCA

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