De acordo com a pesquisa do Serasa Experian houve uma redução no indicador de consumidores devedores no Brasil em 2013. Seguindo esta informação, é possível supor que o décimo terceiro salário tenha sido utilizado para saldar ou para reduzir as pendências, contribuindo para a redução obtida. Outro indicador positivo é sobre a poupança, que no ano passado registrou mais depósitos do que saques. Como resultado surpreendente, o que reforça a tese de que o brasileiro, lenta e gradativamente, está educando-se financeiramente.
Mas nem tudo é animador. Uma pesquisa realizada pelo Serviço de Proteção ao Crédito (SPC Brasil) e pela Confederação Nacional de Dirigentes Lojistas (CNDL) apontou que o consumidor médio brasileiro gasta mais do que ganha, não guarda dinheiro e não planeja o futuro, o indicativo mostra que oito em cada dez entrevistados (81%) possuem pouco ou nenhum conhecimento sobre como fazer o controle das despesas pessoais.
O levantamento feito com 656 consumidores em todas as capitais brasileiras com o objetivo de identificar como eles enxergam a própria relação com o dinheiro, como agem e o conhecimento que dispõem das questões financeiras.
Os resultados do levantamento revelam que somente 18% dos entrevistados têm conhecimento total sobre o fluxo de receitas e despesas no orçamento pessoal. A maioria (71%) tem apenas conhecimento parcial de suas finanças e outras 10% um baixo ou nenhum conhecimento.
Quando associamos as informações, reforçamos a hipótese, pois se a inadimplência caiu e a poupança subiu em captação líquida no ano passado, representa de um lado uma intenção de colocarem a vida financeira em dia e do outro uma conscientização sobre a importância da formação de reserva. A dúvida é: será que essa nova etapa seguirá um ritmo de consolidação de um novo comportamento de consumo, mais consciente, sustentável e com uma visão voltada para garantir o futuro?
Na avaliação da economista do SPC Brasil, Luiza Rodrigues, os dados reforçam a ideia de que a educação financeira está ligada ao comportamento e não necessariamente à renda dos indivíduos.
Descontrole financeiro
Para a efetivação de qualquer mudança comportamental a fase de manutenção é indispensável. Uma persistência na adoção de posturas e atitudes positivas em relação ao uso dos recursos financeiros, com maior cautela e reflexão prévia. Há uma parcela significativa (28%) de pessoas que não utiliza um método organizado e faz o controle financeiro de “cabeça”. A economista Luzia Rodrigues avalia que o consumidor não deve ter vergonha de utilizar o bom e velho caderninho de anotações na hora de colocar tudo na ponta do lápis.
A pesquisa detectou uma série de comportamentos de risco o que demonstra a falta de planejamento dos consumidores. Mais de um terço (36%) admitiram não saber o valor exato das contas a pagar no mês seguinte e 57% afirmaram não saber com precisão o quanto terão de desembolsar no próximo mês, fato que dificulta o planejamento e o controle financeiro do próprio orçamento.
Consequências do consumo imediatista
Um dado preocupante é o que demonstra que 56% dos entrevistados chegaram ao fim do último mês sem ter conseguido poupar nenhum centavo. Na avaliação dos especialistas do SPC Brasil, a constatação é reflexo do “consumo imediatista” que direciona o pensamento de muitos brasileiros. Para piorar, quatro de cada dez consumidores (36%) admitem que costumam adquirir produtos mesmo não tendo condições de compra-lo, ainda que esporadicamente.
O resultado, em decorrência do comportamento imediatista e pouco poupador, é que em uma situação de dificuldade, como perda de emprego ou problemas de saúde, 20% dos entrevistados admitem que não conseguiriam se manter financeiramente nem por um mês.
Vale reforçar que a educação financeira não se resume ao simples ato de poupar dinheiro, trata-se de adotar uma atitude consciente ao impor critérios na utilização dos recursos financeiros e saber planejar as próprias contas para um período de longo prazo. E para enfatizar a importância na mudança no comportamento de consumo dos brasileiros, é que na contramão das boas notícias, no ano passado obtivemos o pior resultado na criação de empregos com carteira assinada dos últimos dez anos (CAGED) e o mercado de trabalho segue no gargalo. O que alerta para que essas mudanças ocorram antes dos tropeços financeiros.
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