A crise econômica chegou forte nos lares brasileiros. Desde 2014, os consumidores estão preocupados com os impactos no bolso. Uma pesquisa nacional do Serviço de Proteção ao Crédito (SPC Brasil) e da Confederação Nacional de Dirigentes Lojistas (CNDL) mostra que quase metade dos brasileiros inadimplentes (46,5%) não têm condições de pagar suas dívidas em atraso nos próximos três meses.
As principais causas são: desemprego, diminuição de renda, falta de controle financeiro e de planejamento no orçamento, e o empréstimo do nome para compras feitas por terceiros.
Segundo o levantamento, seis em cada dez entrevistados acreditam que a situação financeira piorou em comparação ao ano passado.
Nos últimos anos, a recessão, o desemprego e os efeitos da inflação enfraquecem o poder de compra das pessoas. Reflexo disso é que apenas uma em cada cinco pessoas entrevistadas tem intenções de pagar e reúne condições para quitar as dívidas integralmente nos próximos 90 dias.
Prioridades
Os principais gastos são com serviços básicos de água e luz (57,6%), cartão de loja (47,5%), contas de telefone (41,9%) e cartão de crédito (40,4%).
No entanto, os compromissos que mais se encontram em dia, são o aluguel (94,9%), o plano de saúde (91,8%) e o condomínio (91,3%). Por outro lado, considerando as contas em atraso, as principais são relacionadas a serviços de crédito como empréstimo em bancos ou financeiras (89,6%), parcelas do cartão de loja (83,9%), cartão de crédito (74,9%) e contas de crediário e carnês (68,7%). No geral, todas essas pendências em atraso estão nessa situação há mais de um ano.
“A pessoa não tem como pagar tudo; então, elege prioridades como o aluguel e o plano de saúde, por exemplo. Já o pagamento das contas relacionadas ao crédito bancário, por terem, em geral valores mais altos e por conta do momento econômico desfavorável, pode ser adiado. Além disso, os juros dessas despesas são os mais altos, contribuindo para aumentar rapidamente o valor total da dívida do consumidor”, analisa a economista-chefe do SPC Brasil, Marcela Kawauti.
A economista afirma que, além da maior dificuldade do consumidor em arcar até mesmo com as contas básicas em meio à crise econômica, as empresas que prestam esses serviços de água, luz e plano de saúde mostram cada vez mais disposição em negativar os inadimplentes, como forma de acelerar o recebimento dos compromissos em atraso. “Tem sido mais comum que essas empresas negativem o CPF do residente antes de realizar o corte no fornecimento ou a interrupção do serviço prestado”, explica.
O estudo mostrou também que 71% dos entrevistados ficaram com o nome sujo pela primeira vez no último ano.
Os grandes vilões
O levantamento do SPC Brasil e CNDL também revela que os principais produtos e serviços que os consumidores compraram e que os levaram às dívidas e à inadimplência foram: roupas (45,0%), calçados (25,8%) e eletrodomésticos (17,4%).
A pesquisa mostra que alguns hábitos de consumo também favoreceram a inadimplência. Considerando os entrevistados que alegaram descontrole financeiro como causa do nome sujo, os principais motivos são a vontade de aproveitar promoções sem avaliar o orçamento (31,7%) e não negociar bem no momento da compra (29,3%).
“Analisando os itens mais citados como responsáveis pela dívida que levou à inadimplência, podemos afirmar que há certo desequilíbrio por parte do consumidor. Embora alguns destes itens possam ser considerados de primeira necessidade, chegar à inadimplência por causa disso sugere que houve exagero ou falta de planejamento nas compras”, aponta o educador financeiro do SPC Brasil, José Vignoli.
“Para muitos brasileiros, é um desafio frear o ímpeto de ir às compras e agir racionalmente diante de tantos apelos e vontades, mas é preciso considerar que a queda no poder de compra, neste momento, é generalizada, sem distinção de classe social. Todos, portanto, devem adotar cautela extra na gestão do orçamento mensal, a fim de evitar desequilíbrios e problemas financeiros”, conclui Vignoli.
Como sair dessa?
Para 47,3% dos inadimplentes, o acordo com os credores continua sendo o meio preferido para limpar o nome. Em seguida, estão a geração de renda extra, por meio de bicos (22,9%) e fazer economias no orçamento (21,1%). Considerando esses inadimplentes que pretendem economizar para pagar as dívidas (21,1%), os principais cortes no consumo serão no lazer (46,6%), compra de roupas e calçados (36,2%) e alimentação fora de casa (34,5%).
“A situação se torna ainda mais preocupante quando se analisa o cenário econômico atual, caracterizado pelo achatamento do poder de compra, pela inflação elevada e pelo crescimento dos níveis de desemprego”, afirma o presidente do SPC Brasil. Para Roque Pellizzaro, o momento econômico do país pede especial atenção aos hábitos de consumo adquiridos nos últimos 20 anos.
Ainda assim, apesar do cenário atual negativo, tanto na economia quanto na vida financeira de cada brasileiro, os inadimplentes se mostram otimistas com relação ao futuro: 52,3% acreditam que sua situação financeira irá melhorar em um horizonte de seis meses.
Vale lembrar que não importa o tamanho da renda, o importante é saber guardar uma parte todos os meses, pois essa atitude pode fazer a diferença nas horas difíceis”, alerta Kawauti.