O Dr. Consulta é uma dessas raras boas novas em serviço de saúde privado que surgiu nos últimos anos. Agendamento de uma série de especialidades via aplicativo, preço aderente ao bolso do consumidor, entre outras características. No entanto, o assunto é controverso no meio da oferta de saúde privada. Há quem diga que o Dr. Consulta mereceria um olhar mais atento do Ministério da Saúde e até deveria ser alvo de alguma regulamentação do Congresso Nacional. Mas será que esse realmente é o melhor caminho?
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Uma das ferrenhas defensoras de um olhar mais atento ao modelo de negócio do Dr. Consulta é Solange Beatriz, presidente da FenaSaude (Federação Nacional de Saúde Suplementar). Ela afirma que a saúde suplementar no país é regido pela lei 9655/98, que estabelece uma série de regras que os planos de saúde devem seguir.
A principal regra prevista na norma é a oferta integral dos serviços de saúde, ou seja, o plano deve incluir exames, consultas, eventuais cirurgias, internações, entre outros custos. Por outro lado, esse não seria o objetivo de modelos como o Dr. Consulta. “Penso que esse serviço não tem nada a ver com o plano de saúde, especialmente quando o assunto é o cuidado integral da saúde. A lei 9656/98 trouxe o conceito da integralidade da saúde, o que significa dizer que todos os cuidados devem estar contemplados na saúde suplementar. No nosso caso, estão contempladas todas as doenças do CID 10 (Código Internacional de Doenças) e as três segmentações, o ambulatorial, o hospitalar e o hospitalar com obstetrícia visam exatamente isso. Esses serviços são pontuais”.
“Esse serviço não cuida da saúde”
Solange afirma que o Dr. Consulta possui uma oferta de saúde pontual e que não necessariamente é novo. “Sempre tiveram clínicas que só realizam raio-x ou faz atendimento ortopédico. O que esses serviços oferecem é um preço reduzido e até menor do que a média de mercado. Mas ele não oferece a média e muito menos a grande a complexidade médica. Ou seja, ele não está cuidando da saúde. Cabe as entidades médicas verificarem se esses serviços estão atendendo aos princípios de saúde que o Brasil defende”, disse.
Evidentemente que a opinião do Dr. Consulta. A empresa afirma que essa discussão é inócua, uma vez que não estaria incluída em nenhum modelo de saúde privada existente no mercado. Na verdade, ela se define como um novo modelo de negócio tal qual a relação do Uber com o transporte privado – o que afasta a empresa de modelos de clínicas populares.
“Na essência, o Dr. Consulta não é uma rede de centros médicos populares. Inicialmente, nosso modelo era baseado apenas nas consultas e exames; hoje vamos além disso. Trabalhamos as informações que recebemos dos pacientes, desenvolvemos algoritmos, utilizamos uma robusta plataforma de Inteligência Artificial e desenvolvemos modelos preditivos que nos ajudam na gestão de saúde dos pacientes”, contou para à Consumidor Moderno Renato Velloso Dias Cardoso, investidor e membro do conselho do Dr. Consulta.
Gestão da saúde
Na opinião de Velloso, o Dr. Consulta é uma empresa de gestão de saúde. “Não olhamos apenas o episódio de um paciente, mas temos uma visão 360º da saúde dele. Olhamos a necessidade futura do consumidor. Temos aí um elemento chave, que é despertar no cliente a necessidade dele se tratar ao longo da vida. Com uma visão de prevenção, ele vai melhorar a vida dele e, consequentemente, trazer melhores indicadores”, disse.
O detalhe interessante é que a preocupação com a saúde primária e de baixa complexidade não necessariamente é ruim para à população. De certa forma, a empresa estaria alinhada com a recomendação da própria Organização Mundial da Saúde, que anda defendendo uma maior atenção a prevenção e o cuidado com a saúde primária – algo que o Dr. Consulta defende.
Projeto de lei
O debate sobre o modelo de negócio do Dr. Consulta invadiu até os corredores do Congresso Nacional. A Câmara dos Deputados tem discutido a aprovação (ou não) de um substitutivo ao projeto de lei que altera a atual legislação dos planos de saúde. Embora a proposta não fale sobre clínicas populares, o tema virou assunto entre os deputados.
Alguns deputados já falam em regulamentar as clínicas populares, muito embora não existam detalhes sobre como seriam essas regras. Na visão do Dr. Consulta, ela não entraria nesse debate, pois, de novo, ela não se enquadraria nesse modelo.
O curioso é que o consumidor parece aprovar o Dr Consulta, especialmente o preço oferecido pela empresa. Os elogios praticamente se sobrepõem as queixas existentes em alguns sites na internet. Mesmo assim, os parlamentares parecem dispostos a debater o tema em um futuro próximo. Mas será que conferir regras demais acabaria com esse modelo que parece ter caído nas graças do consumidor? E o que aconteceria com os preços tão atraentes desse serviço? A ver.