Ter conexão e conectividade em um país desigual como o Brasil pode ser uma das tarefas mais complexas dos últimos tempos. Isso porque, sobretudo após a pandemia, a maior parte das relações de consumo ficaram dependentes de uma parte digital que nem todo mundo tem acesso.
Nas favelas brasileiras, esse acesso é ainda pior. Com mais de 17,5 milhões de pessoas vivendo em comunidades, as antenas e internet de boa qualidade, com alta banda larga, ainda não chegam. A conexão de lá, dessa forma, é uma das mais lentas em todo o País.
Discutir o futuro da conectividade nesses lugares é fundamental para a ascensão das pessoas que vivem na região e já produzem uma série de riquezas. Assim, na última sexta-feira (15), o Expo Favela conversou com Christian Gebara, CEO da Vivo, para falar de conectividade no País. A conferência “Abordando a inclusão e a conectividade na favela e no asfalto” foi mediada por Preto Zezé, presidente nacional da CUFA e fundador do Laboratório de Inovação Social.
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O acesso à internet e a conectividade das favelas no Brasil
Logo no início do debate, Preto Zezé destacou a importância da conectividade para as comunidades. Por meio dela, em especial na pandemia, os alunos se mantiveram na escola, os empreendedores seguiram com seus serviços e os funcionários tiveram alguma oportunidade de trabalho remoto. Mas isso aconteceu bem mais no asfalto — locais fora das comunidades, centros urbanos — e não nas favelas.
“A CUFA distribuiu mais de 4 milhões de chips de internet e telefonia a várias mães da favela e vimos como isso mexeu na vida das pessoas, sobretudo na pandemia, vimos todo o acesso à informação e dificuldade da falta dele na favela. Como você, à frente de uma das maiores operadoras de telefonia, vê esse acesso ao digital?”, indagou Preto Zezé.
Para Gebara, a resposta é evidente: a digitalização só pode avançar se todo mundo tiver acesso a ela. Mas o caminho para isso é difícil. “O Brasil é desigual, é continental e a digitalização tem o poder de reduzir essa desigualdade. Mas ela não chega para todos”, inicia o CEO. “O acesso ao digital precisa ser explorado, precisa chegar nas regiões periféricas, mas as pessoas têm que ter as tecnologias certas, não basta só o smartphone. E tem mais uma dificuldade: a maioria das legislações de hoje, que definem onde eu posso colocar as antenas, é muito negativa para as comunidades e periferias”, explica.
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De acordo com o executivo, muitas das legislações aplicadas ao setor de telefonia são focadas em deficiências da favela, o que dificulta todo o processo. Alguns dos exemplos se atentam à exigência de comprovantes de posse de residência, detalhes específicos de largura das ruas, inclinação etc.
“A lei é obsoleta, estamos mudando para que tudo isso mude, porque as pessoas tenham capacidade de estar no mundo digital. Já tivemos alguns avanços quanto a isso, mas ainda é pouco. O preço também é algo que interfere bastante, porque a tributação sobre teles é uma das mais altas no Brasil. A cada 20 reais que um pré-pago tem recarga, 45% ficam com impostos. Ou seja, a carga tributária também dificulta a favela de ter acesso a digitalização”, completa Gebara.
Como fica com o 5G nas comunidades?
Dando seguimento ao debate, Preto Zezé também questionou se o tão famoso 5G chegará também às favelas ou será restrito às pessoas do asfalto. “Assim, a gente ouve muito falar do 5G e em como ele vai modernizar toda a conectividade. A favela nem tem acesso a conexão, imagina 5G. Quais mudanças acontecem nesse sentido?”, questionou o fundador do Laboratório de Inovação Social ao CEO da Vivo.
Gebara, por outro lado, informou que essa tecnologia ainda é muito nova e está chegando ao Brasil a passos lentos. Para ele, o “buraco é mais embaixo”.
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“Sobre 5G, as frequências foram vendidas e as primeiras obrigações são agora em julho. Os preços agora são muito elevados. Mas nesse primeiro momento, apenas. O que mais vai aumentar é a internet das coisas, vai permitir cidades mais inteligentes e todo o resto”, citou o executivo. “Mas o ‘buraco é mais embaixo’, porque nas favelas, antes de pensar no 5G, precisamos primeiro do acesso do 4G, que ainda é falho, não chega, não tem boa conexão”, complementa.
Ele destacou ainda, que a legislação ao 5G ficou bem mais específica após os episódios da pandemia, em especial pelo alto número de alunos que não realizaram as atividades ou assistiram às aulas online devido à falta de infraestrutura. Esse é um dos caminhos, citou o CEO, para a mudança nas periferias.
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