Acabo de retornar de Portugal, onde estive por dez dias para realizar o lançamento do meu livro Perdão, a Revolução que Falta para o mercado europeu. Ao longo desse período, fiz palestras, conheci pessoas, troquei experiências maravilhosas e, já de malas prontas para casa, percebi quão rapidamente me adaptei à cultura local: sem nem me dar conta, estava usando expressões e coloquialismos típicos do país (e que soam tão estranhos no Brasil).
Não é a primeira vez que vivo essa experiência em solo português. A verdade é que, apesar de compartilharmos o mesmo idioma, nós, brasileiros, fazemos um uso bastante diferente da língua em relação a eles. Aliás, mesmo no Brasil, a depender de onde se está, até parece que a língua falada é outra, tamanhas são as variações!
Não sou linguista, mas, como especialista em #AUTOCONHECIMENTO, decidi compartilhar essa experiência para reiterar o quanto a comunicação é importante para todos nós, humanos.
Independentemente de quem somos, de onde estamos, de qual nossa profissão, formação, renda, idade, gênero, orientação sexual, enfim, todos nós temos a profunda necessidade de nos comunicar com o outro – nem que, para isso, tenhamos de ajustar a forma como nos comunicamos.
Veja o meu exemplo: quis tanto ser bem compreendida pelo meu público português que, sem me dar conta, passei a falar como eles. E, assim como eu, todas as pessoas do mundo desejam ser mais bem compreendidas (mesmo que inconscientemente). É basicamente uma necessidade vital.
Não à toa, um dos momentos mais marcantes da infância se dá, justamente, quando a criança começa a falar; que o digam os papais e mamães que, enfim, conseguem assimilar muito melhor o que, de fato, seus filhos querem, pedem, reclamam, enfim, comunicam.
Daí em diante, todos nós desenvolvemos particularidades na nossa forma de nos comunicar. No entanto, por pura falta de autoconsciência, frequentemente, entregamos a mensagem errada – o que causa discussões, desconfianças, mágoas e, enfim, resultados exatamente opostos aos obtidos num processo de comunicação eficiente. Então, a minha pergunta é: será que você também está falhando na sua comunicação?
Como você expressa suas dores e (seus amores)?
A comunicação funciona como um veículo, um “caminhão”, que transporta nossos sentimentos e emoções em direção ao outro da forma mais inteligível possível. Por exemplo: o outro não saberá que estou com dor se eu não lhe contar da minha dor. E, para lhe contar da minha dor, há muitos caminhos; eu posso gritar, reclamar, chorar ou, simplesmente, fazer ‘cara feia’. Todos esses recursos tendem a ser muito facilmente reconhecidos pelo outro que, ao receber a minha mensagem, consegue traduzi-la: “opa, acho que a Heloísa está com dor”.
Porém, evidentemente, nem todo mundo compartilha as emoções do mesmo jeito – e é aí que começam as confusões. De volta ao meu exemplo, diante da dor, há quem simplesmente prefira se calar, se esconder, ficar em silêncio mesmo.
E tudo bem fazer essa escolha, desde que ela seja consciente, ou seja, desde que eu saiba que é assim, em silêncio e reservada, que estou comunicando a minha dor ao outro. Do contrário, provavelmente, ficarei frustrada quando o outro reagir ao meu silêncio, seja porque ele me deu espaço demais (e, no fundo, o que eu queria era que ele insistisse em saber o que se passa comigo); seja porque insistiu e forçou a barra num diálogo que eu não desejava ter.
Isso é o que acontece quando praticamos a comunicação inconsciente: deixamos de dizer o que, no fundo, queremos e só transmitimos o raso, o superficial. E, daí, esperamos que o outro consiga interpretar nossas vontades como num passe de mágica. Percebe como a conta não fecha?
Assuma a responsabilidade pelo o que está expressando
A comunicação inconsciente machuca todas as relações – pais e filhos, marido e esposa, líderes e liderados, amizades, enfim, absolutamente toda a construção relacional que envolva duas ou mais pessoas. E o que nos leva a nos expressar dessa forma é o medo: medo de expor nossos verdadeiros sentimentos, medo de escancarar nossas fraquezas e vulnerabilidades, medo do que o outro vai pensar a nosso respeito quando souber que (preencha aqui com aquilo que considera suas maiores falhas).
Em suma, nós deixamos de nos expressar como um mecanismo de defesa. Porém, tendo em vista que o outro tem tão pouca informação sobre o que realmente se passa conosco, invariavelmente, sua reação ao nosso comportamento vai fazer com que nos sintamos agredidos, magoados, frustrados e irritados. Então, será que adiantou alguma coisa se defender tanto assim em primeiro lugar?
A minha proposta é que você, eu e todos ao nosso redor se comuniquem com mais consciência e responsabilidade. E, para isso, é nosso papel – seu, meu e de todos ao nosso redor – voltar os olhos para dentro.
O que é que eu estou sentindo?
Qual é a origem dessa emoção?
Há algo que alguém possa fazer a respeito? Aliás, algo que eu espero que alguém faça a respeito?
E como é que eu posso compartilhar essa informação com o outro – como é que eu posso contar da minha dor, alegria, tristeza, ansiedade etc. a partir de mim mesma?
Na comunicação responsável, eu sei de mim e entrego, ao outro, as informações que precisa ter em mãos e em mente se quiser estabelecer, comigo, um relacionamento amoroso e baseado em respeito.
E, daí, se mesmo assim o resultado for frustrante, eu também posso fazer uma escolha consciente a respeito disso.
Em suma, ao sair ‘do dito pelo não dito’, ao colocar tudo às claras, todos saem ganhando: você, por assumir a responsabilidade por sua parte da relação; o outro, por saber exatamente o que está em jogo (e, a partir daí, poder escolher de que forma lidará com a situação).