A Inteligência Artificial mudou a forma de aprender e disseminar conteúdos educacionais. Se antes havia uma certa resistência ou até mesmo uma baixa popularidade nos estudos por meio das tecnologias, agora elas estão no centro das atenções, ganhando destaque tanto entre professores quanto entre alunos. Amadas por uns e questionadas por outros, o fato inegável é que a IA revolucionou o sistema educacional.
De acordo com o A Chegg.org, organização sem fins lucrativos da empresa de tecnologia educacional Chegg apontou que, 50% dos estudantes de ensino superior no Brasil já fazem uso da IA para trabalhos acadêmicos e a vida pessoal e 40 % dos estudantes em todo o mundo dizem que usaram Inteligência Artificial Generativa em seus estudos universitários.
Para a professora-pesquisadora da Escola Politécnica de Saúde Joaquim Venâncio (EPSJV/Fiocruz), que integra o Grupo de Pesquisa Interdisciplinar Linguagem, Sociedade e Saúde (Liss), Carolina Dantas, levanta uma preocupação importante sobre a formação educacional e a utilização de ferramentas como chatbots em artigo publicado no site da Oswaldo Cruz.
“Minha maior questão é a defasagem em torno de uma formação que, de fato, forme sujeitos de conhecimento capazes de produzir e não apenas de reproduzir conhecimento. Os chatbots não criam conhecimento, eles juntam o conhecimento. Neste ponto, a gente pode pensar na questão do plágio, da autoria, e na repetição baseada em critérios obscuros para a seleção de fontes de informação, que vão alimentar essa ferramenta. Então, na verdade, a preocupação é para não formarmos repetidores de informação a partir dos chatbots e sim, produtores de conhecimento. Esse é o principal ponto”, conclui.
Inteligência Artificial como foco na educação
Segundo uma pesquisa da Coursera apontou que, em 2024, os alunos brasileiros estarão particularmente motivados a adquirir competências “obrigatórias” relevantes para o mundo digital e orientado por dados de hoje. Ainda de acordo com a pesquisa, o foco estará no desenvolvimento profissional, especificamente em áreas como tecnologia, ciência de dados e gerenciamento de projetos. Além disso, há uma ênfase no crescimento pessoal e no bem-estar. Essa tendência se alinha com o padrão global em que se percebe que alunos estão diversificando suas competências a fim de se manterem competitivos num mercado de trabalho em evolução.
“A inteligência artificial generativa já está transformando a educação e as carreiras. Estudantes de todo o mundo estão se preparando para o futuro. Acredito que 2023 é o ano que vamos considerar como um ponto de virada”, diz Marni Baker, Diretora de Conteúdo da Coursera.
“Olhando para o futuro, estamos entusiasmados em usar a IA para fornecer aprendizado personalizado, envolvente e inclusivo. Ter foco em aprendizado ao longo da vida, sobretudo em novas tecnologias e nas competências humanas, será a chave para a empregabilidade num mundo impulsionado pela inteligência artificial.”, complementa a executiva.
Proteção de dados na educação
Para Alexander Coelho, sócio do escritório Godke Advogados, especializado em Direito Digital e Proteção de Dados, a IA na educação não pode mais ser classificada como uma tendência passageira, mas sim um reflexo da evolução das tecnologias digitais. Mas é preciso ter em mente alguns cuidados.
“A IA, como ferramenta de auxílio ao aprendizado, oferece vantagens significativas em eficiência e personalização do ensino, tornando seu uso cada vez mais integrado às práticas educacionais e cotidianas. Entretanto, o uso dessa tecnologia na educação traz consigo questões éticas e práticas significativas. Isso inclui preocupações sobre privacidade de dados, viés algorítmico, e a necessidade de desenvolver uma compreensão crítica de como a IA funciona e de suas limitações”, explica.
Uma das grandes preocupações quando falamos de Inteligência Artificial é a falta de regulação. No ambiente escolar, ainda é um terreno cinzento pela falta de clareza nas normas. Para Alexander Coelho, a criação de regulamentos específicos para o setor educacional é “uma necessidade urgente”.
Atualmente, no Brasil, encontra-se em processo legislativo um projeto de lei destinado a regulamentos para a utilização de Inteligência Artificial em diversos contextos. Esse texto é influenciado pela legislação da União Europeia, refletindo uma busca pelo alinhamento das normas brasileiras aos padrões internacionais.
“Um aspecto técnico crucial é a ênfase na necessidade de supervisão humana no ciclo da IA. Isso se alinha com o conceito de “human-in-the-loop”, fundamental para garantir que as decisões automatizadas sejam passíveis de revisão e questionamento humano, um ponto essencial para prevenir abusos e erros sistemáticos.”, pontua.
“Outro ponto essencial é que o projeto de lei aborde a questão da privacidade e da segurança dos dados. A IA frequentemente processa grandes volumes de dados pessoais, e sua regulamentação deve ser compatível com a Lei Geral de Proteção de Dados. Além disso, o projeto deve primar pela exigência de transparência nos sistemas de IA. É fundamental que os usuários e afetados pelas decisões automatizadas entendam como essas decisões são tomadas, especialmente em contextos sensíveis como o educacional”, explica.