Quais são os cenários para o futuro do consumo? Como é possível uma empresa crescer e conseguir receita em um cenário em que o endividamento das famílias segue alto? Quais são as estratégias, ações e práticas adotadas pelas empresas neste momento de retomada? Para responder a essas perguntas, especialistas e executivos se uniram em uma mesma roda de debate nesta manhã, em São Paulo, durante o Recover Money 2017. O encontro tem como eixo debater como as empresas podem recuperar crédito e conquistar um crescimento saudável mesmo neste cenário de incerteza.
O economista e articulista Alan Ghani mediou o debate sobre o futuro do consumo e o endividamento das famílias e logo perguntou: “até que ponto seremos dependentes dessa circunstância econômica?”. O fato é que o País cresceu forte por uma década e a agenda das empresas foi pautada para lidar com o crescimento imediato. Pouco se fez para o longo prazo e muitas não se preparam para lidar com uma possível queda na economia – o que estava previsto, diante das bases de crescimento do País, que eram frágeis demais para se sustentar.
“Já vivemos diversas crises e a grande diferença é o tempo de duração delas”, afirmou Carlos Donzelli, diretor executivo da Holding do Grupo Luiza, da rede de varejo Magazine Luiza. “A gente nunca tinha vivido uma crise tão profunda. Em 2015 tivemos um ano difícil, mas 2016 tivemos o melhor ano da história da companhia. O foco é em produtividade”, disse. Essa foi a palavra da rede dos últimos dois anos, sem contar os investimentos no digital, que não pararam. A aposta, afirmou o executivo, é em um Brasil melhor. “Temos de ser mais rápidos e produtivos para crescer”, afirmou.
Sem dívidas, sem consumo
O fato é que o brasileiro não vai deixar de comprar e para isso não vai deixar de se endividar, na avaliação de Marcelo Geraldi Velloso, diretor-executivo de Negócios da Atento. “Dos consumidores que estavam endividados no final do ano passado, 25% disseram que vão continuar se endividando”, disse. “O brasileiro é consumista e ele vai continuar se endividando. A crise fez a gente sofrer, mas também fez a gente aprender muito. O brasileiro não tem mais medo de ser buscado pelos cobradores. Ao contrário, eles preferem que o credor os busque para renegociar a dívida”, considerou.
Para o executivo, foi-se o tempo em que os clientes não gostavam das ligações dos cobradores. “Porque quando ele renegocia, ele replaneja e reconquista a sua estabilidade financeira e com isso ele volta a comprar”, disse. “Essa crise mostrou para nós que é possível sermos uma sociedade de consumo, recuperar dinheiro e ajudar as famílias a continuar consumindo”, explicou.
Novas ideias para recuperar crédito
Neste sentido, o executivo explicou que existe um alinhamento diferente entre as empresas agora. “Eu quero cobrar o melhor possível para o cara voltar a comprar. Estamos em um mundo em que a relação tem de ser de sócio”, disse Velloso. “Temos de ser parceiros na performance. É um aprendizado”, afirmou.
“As empresas precisam estar abertas a novas ideias e algumas até estão. Mas na hora do vamos ver, elas vão para o tradicional, que é cortar custos, demitir, ao invés de investir em inovação”, afirmou João Luis Olivério, fundador-diretor da Saales.Net. “Mas há um movimento positivo de criar novos negócios, produtos. E quanto mais as empresas puderem dar voz para os funcionários, melhor. Você tende a crescer bastante”, disse.
Com ou sem endividamento dos consumidores, agora a visão é de otimismo. “O que aprendemos junto aos clientes é o que fazer para continuar atraindo os consumidores para, na outra ponta, ele conseguir continuar vendendo geladeira”, afirmou o executivo da Atento. “O modelo de crédito é segmentado e o de recuperação é cada vez mais digital”.