Mais de 150 toneladas de alimentos doados, impactando a vida de mais de 3 milhões de pessoas somente no ano de 2021. Esse é o resultado do trabalho realizado pela startup social Comida Invisível, que nasceu há cinco anos, fruto de uma indignação durante um momento de lazer. Quem nos conta essa história é Daniela Leite, fundadora e CEO da empresa, que tem como premissa conectar quem quer doar alimentos com quem precisa de doações.
“A busca por frutas frescas para fazer uma geleia com meu filho me levou a uma visita ao CEAGESP (Companhia de Entrepostos e Armazéns Gerais de São Paulo), onde me deparei com pilhas de frutas e vegetais que, por estarem no ponto ideal de consumo, tinham perdido valor comercial”, diz. “Naquele momento, passei a ver, nos alimentos que iriam para o lixo, os rostos das pessoas que poderiam ter acesso a eles. Após mais de um ano de pesquisas e mapeamento com executivos do CEAGESP e outros entusiastas, além da revisão das legislações, nasceu a base para o Comida Invisível, uma startup social certificada pela FAO/ONU com o selo Save Food, que tem por missão reduzir o desperdício, a má distribuição de alimentos e contribuir para a diminuição de gases de efeito estufa no planeta. Acreditamos que a tecnologia está a serviço do humano para a construção de uma economia mais sustentável, local e circular. Oferecemos uma plataforma completa, que conecta quem tem alimento para doar e quem precisa dele”, explica a CEO.
Hoje, são mais de 3.500 pessoas físicas cadastradas, 400 entidades (ONGs) e 150 empresas que utilizam a plataforma como forma de combater o desperdício, em todo o Brasil.
Fome x desperdício de alimentos
De acordo com o Índice de Desperdício de Alimentos 2021, elaborado pelo Programa das Nações Unidas para o Meio Ambiente (PNUMA), o mundo desperdiça 931 milhões de toneladas de alimentos por ano, o que representa 17% da produção total.
Enquanto isso, a fome no Brasil avança e atinge 19,1 milhões de pessoas — ou 9% da população brasileira com a insegurança alimentar —, segundo o levantamento mais recente da Rede Brasileira de Pesquisa em Soberania e Segurança Alimentar e Nutricional (Rede Penssan).
Como funciona o Comida Invisível?
Por meio do uso de tecnologia e geolocalização, o Comida Invisível conecta quem tem alimentos em condições de consumo com quem precisa deles. Portanto, o doador se cadastra na plataforma e informa qual alimento quer doar, além de dizer a data de validade do produto e informações sobre a data de retirada. Do outro lado, a parte interessada em receber o alimento, que também deverá se cadastrar na plataforma, dá um aceite nessa doação, confirmando com o doador os trâmites de entrega. O alimento inserido na plataforma demora, em média, oito minutos para encontrar um destino.
Para ter acesso à plataforma e participar desse processo, as partes (doadores e receptores) assinam compromissos de responsabilidade, que incluem a correta manipulação e armazenamento dos alimentos, além de um treinamento obrigatório que segue as normas da Anvisa. Dessa forma, há garantias de segurança a todos os envolvidos. “Além disso, temos a plataforma Comida Invisível Educa, a parte educacional do projeto, com treinamentos de Boas Práticas de Alimentação voltados para as ONGs e os restaurantes que realizam doações por meio da plataforma. Nesse ambiente — disponível a 100% das ONGs e cujo acesso se dá pela plataforma de doação de alimentos —, os assinantes têm à disposição cursos, receitas, informações e dicas de redução de desperdício. Enquanto o usuário aprende, acumula ‘Sementes’ — uma moeda virtual que poderá futuramente ser trocada por produtos e descontos”, comenta a fundadora.
Cinco anos impactando o planeta e a vida de quem tem fome
Fundada em 2016, a startup conquistou, ao longo de sua trajetória, avanços que vão além da doação de alimentos em si e contribuem para a geração de valor compartilhado.
“Somente este ano avançamos com os recursos de gestão disponíveis na plataforma e firmamos parcerias importantes para a ampliação do aspecto educacional da nossa iniciativa. Em 2021, o Instituto BRF (IBRF) nos ajudou a ampliar a atuação e impacto da plataforma e apoiou o lançamento do Comida Invisível Educa, assinando os primeiros treinamentos. Ainda em 2021, a Ajinomoto lançou uma campanha inédita e fará doações pela plataforma até dezembro de 2021. No que diz respeito aos avanços tecnológicos, a enorme demanda por gestão e reporte de informações relacionadas à agenda ESG fez com que passássemos a disponibilizar uma série de indicadores de gestão socioambiental para as empresas, que utilizam a plataforma para suas doações. Dessa forma, cada organização pode ver como a sua doação gera valor reduzindo emissões de carbono e transformando a vida de pessoas que necessitam daqueles alimentos”, pontua.
É proibido doar alimentos?
Nunca foi proibida a doação de alimentos, mas sempre houveram dúvidas em relação à responsabilidade civil neste ato. Um grande avanço nesse sentido aconteceu com a promulgação da Lei 14.016/20, que entrou em vigor em 25 de junho de 2020 e autoriza os estabelecimentos que produzem e fornecem alimentos a doarem gratuitamente os excedentes não comercializados e ainda próprios para consumo humano.
De acordo com a Lei, os estabelecimentos responsáveis pela doação (o doador) e o órgão ou empresa responsável por levar os alimentos até as pessoas (o intermediário) não são mais responsáveis por eventuais danos causados pelos alimentos. A exceção existe quando fica provado que qualquer dano encontrado no alimento seja proposital.
Essa proteção jurídica trazida pela lei de doação de alimentos é essencial para que empresas, restaurantes, supermercados possam realizar doações sem correr riscos.
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