A solicitação de impeachment da atual presidência com certeza tem impactos na economia afetada pela atual crise política. Os mercados e negócios especuladores durante este período inicial do processo de impeachment, já impulsionaram o mercado de ações e as cotações de moedas estrangeiras, o que favorece as empresas listadas e aquelas com participações ou investimentos estrangeiros. Porém, a maior parte do varejo será beneficiada em uma velocidade menor e fica à mercê de mudanças mais impactantes e de cunho mais amplo.
As pequenas e médias empresas comportam-se, em sua maioria, de acordo com uma das variáveis que são os consumidores. O consumidor altera o seu hábito de compra nestes cenários de recessão migrando de bem duráveis (carros, imóveis, etc.) para bens de consumo (roupas, móveis, eletroeletrônicos, etc.) ou bens de consumo para lazer/cultura e em muitos casos, reduzindo inclusive o consumo.
O varejo no Brasil sofre influências da crise política nos estados e cidades, que nem sempre estão ligadas à crise política atribuída à gestão presidencial. Existe uma miopia política que é ofuscada pelos holofotes dos grandes acontecimentos e reforçada pelo analfabetismo político que assola a maior parte dos habitantes do nosso país. Os desafios de mudança estão muito mais localizados nas governanças estaduais e municipais e em todos os níveis – governadores, prefeitos, deputados e vereadores.
De maneira ampla, há oportunidades que o varejo precisa aproveitar. Regiões como norte e nordeste do país e o interior dos grandes estados têm empresas locais que possuem participação expressiva e resultados satisfatórios. Ao mesmo tempo, acabam fechadas e restritas à profissionalização e oportunidades de fortalecer sua gestão e estrutura, garantindo sustentabilidade e resultados melhores do que os atuais, além de uma postura cada vez mais latente que é a continuidade dos negócios.
Toda a cadeia é afetada pela atual economia brasileira – indústria, atacado e varejo. Quanto menor o consumo, maior o nível dos estoques. Os consumidores têm acesso ao último elo e através dele orientam este desempenho do varejo. E fica para o negócio o desafio de ter método para gerir seus estoques, respondendo às seguintes questões: ter o produto, na hora certa, no local certo, no preço certo, na quantidade certa. Porém, como já tenho comentado em outros textos, o varejo não pode depender somente dos fatores externos para garantir seus resultados.
Qualquer mudança na economia não garante ao varejista melhora na sua eficiência operacional. Corre-se o risco de, em uma economia com situação mais adequada, os varejistas se iludem com a retomada das vendas e mais uma vez, como há cerca de 10 ou mais anos atrás, deixa de investir na eficiência e gestão da sua operação.
É o momento de tratar o negócio por dentro, buscar auxílio de especialistas para ter um olhar diferente e assim, identificar oportunidades e profissionalizar o que é feito. Estabelecer uma forma, estrutura e método de trabalho que constituam seu DNA, sua marca única e individual no mercado em que atua. Isso tudo determinará o que? Que sua empresa será menos alvejada pelos projéteis da guerra que a crise ocasiona.
Esperamos que com ou sem impeachment, as empresas de varejo acordem para a realidade que em médio/curto prazo. Quem não estiver estruturado, será engolido. O mesmo fenômeno que aconteceu com as instituições financeiras e com as indústrias, acontecerá também com o varejo. O consumidor já tem claramente bases suficientes para tomar suas decisões, uma vez que as informações comparativas – produtos e empresas – estão cada vez mais disponíveis e acessíveis.
Hoje o consumidor sabe o valor de venda dos produtos e serviços que quiser através de uma simples consulta na internet. Além disso, ele ainda pesquisa em sites de reclamação, se sua empresa está bem classificada ou não. Depois, vai em uma rede social para ver quantas curtidas sua página tem e quais são os comentários.
Para estar bem em relação a tudo isso, é preciso estar estruturado. Um varejo estruturado e inovador, tem maiores chances de estar do outro lado de uma crise econômica ou um cenário de impeachment, com raspões ao invés de furos.
Definitivamente, as palavras gestão, governança, eficiência e continuidade passam a fazer parte do dicionário dos donos de empresas e executivos, de hoje em diante.
*Anderson Ozawa é diretor de Prevenção de Perdas e Gestão de Varejo no Grupo Boucinhas