Utilizado para confeccionar fios e moedas, o cobre pode ser uma boa-nova contra a dengue. Com propriedades antimicrobianas e inseticidas, pode controlar microrganismos (bactérias, fungos e vírus) e insetos. Pesquisadores das Universidades Federais da Grande Dourados (UFGD) e do Matos Grosso do Sul (UFMS) testam o uso de compostos organometálicos com o material para impedir a proliferação do Aedes aegypti. Conhecidas como metalo-inseticidas, essas substâncias estão provando-se eficazes no retardo do ciclo reprodutivo do mosquito, impedindo a eclosão de ovos e eliminando suas larvas.
?O cobre tem um impacto sobre as populações de Aedes aegypti. Estudos anteriores mostram que regiões de alta produção do metal têm baixa incidência do mosquito?, diz Lincoln Oliveira, professor do departamento de Química da UFMS. ?Dependendo da concentração, ele impede que os ovos se desenvolvam e mata as larvas pela destruição do sistema digestivo do inseto?.
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A pesquisa brasileira não é a primeira a considerar o metal para o combate ao vetor da dengue. Em 2011, cientistas da Universidade de Kobe, no Japão, publicaram estudo propondo o uso de fios de cobre e até moedas para reduzir os custos dos programas do governo da Indonésia no controle do Aedes aegypti. Testes de laboratório indicaram que a imersão de 533 gramas de fios de cobre em caixas d?água de 200 litros, comuns em banheiros naquele país, eram suficientes para mantê-las livres do mosquito.
Por aqui, os pesquisadores propõem uma abordagem diferente: em vez do uso do cobre puro, ele é misturado com ligantes orgânicos que também ajam sobre o mosquito, como derivados da castanha de caju.
?Nós potencializamos o poder do cobre sobre o Aedes aegypti e reduzimos a concentração necessária para o combate ao mosquito para menos de um miligrama por litro?, explica Eduardo José de Arruda, professor da UFGD e líder das pesquisas.
Dessa forma, explica o pesquisador, os efeitos dos metalo-inseticidas sobre a saúde humana e o meio ambiente são praticamente nulos. O cobre é considerado elemento essencial para o homem, com recomendação de ingestão de aproximadamente 2 mg/dia, mas em excesso ele pode ser danoso. As plantas também absorvem a substância.
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Arruda, que pesquisa o cobre para o controle de vetores de doenças tropicais desde 2007, quando houve uma epidemia de dengue em Campo Grande (MS), está otimista devido ao potencial do metal. ?O uso pode ser estendido para outros insetos vetores de ciclo reprodutivo similar ao do Aedes aegypti, que também transmite o vírus da febre chikungunya?, afirma ele.
Outro composto de cobre em teste pode ser adicionado a artefatos de cerâmica, como vasos, pedras e material de decoração para jardinagem. Em contato com a água, ele libera, controladamente, substâncias que afetam o ciclo de reprodução do inseto.
Considerado verde, o composto tem baixo impacto ambiental e, segundo o pesquisador, tem liberação do Ministério da Agricultura. ?O monitoramento doméstico é parte importante na redução dos criadouros e da população do vetor a fim de diminuir a incidência da doença?, conclui Arruda.
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O cobre antimicrobiano tem muitas outras aplicações na saúde. ?No mobiliário hospitalar, por exemplo, contribui para a redução da infecção hospitalar. Em corrimões e maçanetas de portas de locais com grande afluxo de pessoas, como escolas, restaurantes e transporte público, evita a transmissão de vírus e bactérias por contato com as mãos. O mesmo vale para carrinhos de supermercado?, informa Antonio Maschietto Jr., diretor executivo do Procobre, instituição sem fins lucrativos cuja missão é a promoção do uso do cobre, a fim de impulsionar a pesquisa e o desenvolvimento de novas aplicações.
Fonte: O Globo e Assessoria de Imprensa Procobre.