Você provavelmente já ouviu um comentário irônico associando o alto preço de produto à aquisição de um produto feito a partir de um metal precioso. “Custa tudo isso? É feito de ouro?”, diz o famoso comentário. Da próxima que ouvir isso sobre o celular ou qualquer outro aparelho eletrônico, diga um sonoro “sim, literalmente”. Já vamos te explicar.
Uma das novidades das Olimpíadas de Tóquio, evento que começa no dia 23 de julho, estará no peito dos atletas premiados. A matéria-prima para a produção das medalhas de ouro, prata e bronze não vieram de uma mina de minérios preciosos, mas a partir da reciclagem de mais de 778 mil toneladas de lixo tecnológico. Ao todo foram extraídos 32 quilos de ouro, 3,5 mil quilos de prata e 2,2 mil quilos de bronze, sendo que tudo se transformou em 5 mil medalhas.
Celulares e afins
Ou seja, os metais preciosos vieram literalmente do lixo, mais precisamente dos pontos de descartes das lojas da NTT DoCoMo, a principal operadora de celular do Japão. Além disso, mais de 90% das autoridades municipais em todo o país (um total de 1.621) atuaram como pontos de entrega de dispositivos eletrônicos. Os dispositivos foram recolhidos entre abril de 2017 e março de 2019 em mais de 18.000 locais espalhados pelo Japão.
De acordo com a organização dos jogos, a maior parte dos metais foram encontrados nos mais de 6 milhões de telefones celulares descartados. O restante foi encontrado nas mais de 78 toneladas de computadores, tablets, monitores e outros aparelhos antigos ou quebrados. Dessa forma, a medalha, que pesa aproximadamente meio quilo, teve a seguinte composição:
- Ouro – 550 gramas de prata reciclada coberta por 6 gramas de ouro.
- Prata – 550 gramas de prata.
- Bronze – 450 gramas de bronze vermelho.
Como funciona a reciclagem
Mas onde estaria exatamente essa mina de ouro, prata e bronze do seu celular ou computador?
Os metais preciosos foram extraídos das placas de circuito impressa dos aparelhos (imagem abaixo). E aqui um detalhe curioso: você sabia que os aparelhos eletrônicos mais antigos possuem mais metais preciosos do que os dispositivos mais novos?
Se você se animou com a ideia de quebrar todos os aparelhos antigos da sua gaveta, temos uma notícia: a quantidade é muito pequena e o processo para encontrar não é nada fácil.
Essa dificuldade fica muita clara no processo de extração desses metais. Em linhas gerais, o processo se inicia a partir da transformação do circuito em pó. Depois, os metais são separados de outros materiais, tais como a sílica.
Em entrevista ao Jornal da USP, a professora Tereza Cristina Carvalho, do Departamento de Engenharia de Computação e Sistemas da Escola Politécnica (Poli) da USP, pesquisadora do Laboratório de Sustentabilidade (Lassu) e do Instituto dos Engenheiros Eletrônicos e Eletricistas (IEEE), afirma que o Brasil ainda não domina essa técnica.
“O Centro de Descarte e Reúso de Resíduos de Informática (Cedir) da USP faz a coleta do lixo eletrônico, mas os materiais são enviados para o exterior. Isso me chateia”, comenta a professora.
Cerca de 54 milhões de toneladas de lixo eletrônico são produzidos por ano ao redor do mundo. No Brasil, são 200 mil toneladas de resíduos de informática anuais. Segundo a professora, somente entre 2% a 6% desses resíduos têm o encaminhamento correto. “Isso é a primeira conscientização que nós precisamos fazer, que as pessoas procurem na internet informações sobre para onde destinar seu resíduo eletroeletrônico”, afirma. Além disso, é importante que as pessoas que têm equipamentos pouco utilizados deem uma destinação correta para contribuir com a inclusão digital.
Com informações da Agência USP de Notícias
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