Fenômenos e épocas vão e vêm, mas, às vezes, eles voltam, de forma cíclica, no tempo e espaço. Desta vez, olhamos para os automóveis. Não que os carros alguma vez tenham deixado de existir, mas seu papel de solucionador de problemas está para ser revitalizado.
Para entender isso, precisamos voltar a Nova York, perto do ano 1900. Naquela época, o tráfego era intenso, do mesmo jeito que hoje, mas os veículos eram puxados por cavalos, que defecavam nas ruas. Um cavalo produz cerca de dez quilos de fezes todos os dias, e havia mais de cem mil cavalos em Nova York. Isso significa que cerca de mil toneladas de fezes deveriam ser removidas diariamente, o que nem sempre era feito. A sujeira dos cavalos atraía moscas, que causavam sérios problemas de saúde.
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Londres tinha problemas similares, e um artigo no “Times” de Londres, de 1894, previa que, em cinquenta anos, a sujeira chegaria a dez pés de altura nas ruas. Não havia nenhuma solução à vista, já que a cidade dependia dos cavalos para funcionar.
A solução não veio da regulamentação do uso das carruagens, mas de novas tecnologias. Carros a motor fizeram sua entrada e, em poucas décadas, carruagens se tornaram raras. Com o tempo, todas as cidades do mundo ficaram cheias de carros e seu número cresceu.
Agora o desafio não são as fezes dos cavalos, mas partículas de poluição e fumaça e, mais uma vez, o trânsito causa problemas de saúde. O carro deixou de resolver o problema para se tornar um problema – um bem grande, em cidades maiores.
Congestionamento e barulho são altos e a fumaça do carro mata. Em Beijing, capital da China, as medições mostraram que, em dezembro de 2015, a qualidade do ar era 22 vezes maior do que o limite saudável, devido principalmente aos carros. Isso fez as autoridades proibirem metade dos carros de deixarem suas garagens. Outras megacidades tiveram experiências similares.
No entanto, como em 1900, a solução provavelmente não virá de regulamentação. Mais provavelmente, virá novamente de avanços tecnológicos – e, novamente, o carro pode ser a solução, por mais contraditório que pareça.
O carro 2.0 já existe e só esperamos sua disseminação em massa. Sua principal característica é ser autônomo. Isso significa que pode dirigir o tempo todo, o que torna possível dividi-lo entre diversas famílias ou indivíduos. Além disso, será mais eficiente, já que pessoas são piores motoristas do que robôs conectados e isso criará um tráfego mais fluido, com menos carros e menos fumaça. Outra coisa, carros elétricos substituirão motores a combustão. A produção de eletricidade pode até poluir, mas não tem que ser nas cidades, e eletricidade pode vir, por exemplo, do vento. Exatamente como quando substituiu os cavalos em 1900, o carro pode muito bem ser a solução para os problemas ambientais das cidades.
*Por Peter Kronstrom e Morten Grønborg, ambos membros do CIFS