A parte final do Festival foi dedicada ao Lions Innovation, uma programação especial de dois dias, em um espaço criado especialmente para acomodar uma programação voltada para a inovação em diversos aspectos. Um espaço circular, com quatro salas também circulares, sem paredes ? inovação, inspiração, descoberta e experiência. A movimentação intensa tinha a motivação óbvia de fazer a informação circular e despertar atenção para o conteúdo simultâneo. O resultado impressionou. E o balanço geral dessa overdose de conteúdo voltada para o futuro moldado a partir de pesquisas e tecnologias existentes, mostra um mundo onde a forma de pensar e de decidir dos consumidores e cidadãos sofrerá mudanças sensíveis.
O centro dessa mudança é a Inteligência Artificial, termo cunhado em 1956 por John McCarthy, cientista norte-americano. O progresso de sistemas de alta capacidade de processamento, análise e interpretação é acelerado atualmente. As indústrias financeira e de game são as líderes no desenvolvimento de sistemas e serviços baseados em IA. Reconhecimento facial, previsão climática, algoritmos de busca hoje incorporam noções de Inteligência Artificial, que, por sua vez, é a base do ecossistema de Internet das Coisas.
Uma apresentação notável no programa do Innovations ? ?Será que os marqueteiros precisam realmente se preocupar com a Internet das Coisas? ? por Jamie Conyngham e Andrew Davis, fundadores da Tapit, empresa especializada em soluções baseadas em NFC e visionários digitais, buscou ilustrar como o funcionamento da mente humana, equilibrando as duas formas de pensar ? os Sistemas 1 e 2, conforme pesquisa de Daniel Kahneman ? e o contraste sempre presente na elaboração de estratégias de comunicação: o apelo racional x o apelo emocional. A partir dessa premissa, os dois executivos conduziram a apresentação para o entendimento do processo de decisão: ?a mente humana tem a capacidade de recriar e completar informações com as quais já houve contato e condicionamento prévio?, disse Jamie. Esse tipo de ?comportamento? já é capaz de ser reproduzido por sistemas de IA. Um bom exemplo é o Apple Pay. Segundo Jamie, o sistema da Apple pode ser utilizado de forma muito eficiente em viagens ao exterior, num futuro breve: ?o Apple Pay tem inteligência para escolher sempre a melhor maneira e a melhor tarifa na hora da compra em moeda estrangeira?. Efetivamente, os sistemas de pagamento podem ?aprender? com os hábitos dos consumidores e poupá-los de decisões triviais, como, por exemplo, o lanche após uma sessão de exercício físico. ?Se você estiver fazendo uma trilha de bike, a IA pode detectar que o seu corpo, dada a intensidade, o tempo e a distância percorridos, necessita de reposição de carboidratos ou gorduras ou sais minerais. O sistema então ?encomenda? uma caixinha de barrinhas de cereal que podem ser entregues por drones ao final da trilha?. Desse modo, o usuário simplesmente ?terceiriza? a decisão para a Inteligência Artificial.
Nesse mundo hiperconectado, drones ocuparão o espaço aéreo, aprimorando a logística de entrega nas grandes cidades. Pequenos depósitos poderão ser criados no topo dos edifícios para agilizar processos de entrega de pequenos volumes.
As Inteligências Artificiais presentes nos dispositivos que formarão o ecossistema de Internet das Coisas irão aliviar os consumidores de suas decisões e tomarão por si a iniciativa de compra. Por onde então, vem a pergunta chave: se as Ias tomam as decisões, como então fazer propaganda para robôs? Entraremos na era do M2M? Vamos dizer que em tese de robôs só podem levar em consideração decisões baseadas em dados. Vamos ter de pensar em ser amigáveis para robôs. Machine friendly. Como dar subsidiários e comparações, para influenciar a decisão das máquinas.
A provocação final deste painel intrigante ficou por conta de um novo serviço sob demanda que agregue toda sorte de oferta: uma espécie de ?Liflix? ou Netflix da vida, uma assinatura para a sua vida, de acordo com seu poder aquisitivo.
A ascensão das IAs representa então o triunfo do código, dos dados sobre a intuição e acriatividade humanas? Essa pergunta, em tom de desafio foi o objeto de outropainel incrível no Lions Innovation: Creativity X Coders. Com direito a gongos e assaltos, 2 especialistas em código e dados e dois defensores da arte e da criatividade inatas defenderam suas posições: marketing x matemática, arte x ciência. A quem pertence o futuro? Gemma Milne, uma auto-definida ?nerd criativa, obcecada por design, tecnologia, inovação e start ups?, que é a ?tecnóloga do laboratório criativo? da Ogilvy, fez uma exposição sensacional sobre a vantagem dos ?coders?. E isso com apenas uma fórmula: . Essa éa fórmula que norteia a criação de praticamente todos os algoritmos nos quais se baseiam os robôs na internet e os sistemas de IA. E ainda enfatiza como o resultado de uma fórmula pode ser igual (ou igual a nada). Com paixão e ênfase, Gemma pergunta: como algo pode ser igual a nada? Reflitam: a base de toda a criação tem na ciência, ainda que influenciada pela inspiração, a sua resposta e a sua essência. E é pelo código que hoje podemos entender a natureza humana e desenvolver cada vez mais ideias e tecnologias. Não por acaso, hoje os melhores cérebros, comparativamente aqueles que há décadas e séculos faziam da arte sua forma de expressão, encontram hoje nos laboratórios de empresas como Apple, Google e Amazon e em pequenas start-ups disruptivas, o ambiente propício para o exercício da criatividade.
Nesse novo cenário onde o código e o dado triunfam, qual é o espaço da grande ideia? A polêmica não se encerra, mas se transfigura. O fato é que a figura do ?criativo? que conseguia um ?insight? maravilhoso a partir de uma inspiração obtida no jardim está dando lugar para uma nova classe de criador: aquele capaz de equilibrar arte e ciência, o insight com a matemática, a linguagem com a observação. A grande ideia tem dados em seu cerne. E ela pode ser expressa por um robô.
*Jacques Meir é Diretor de Conhecimento e Plataformas de Conteúdo do Grupo Padrão.