Não é novidade que a internet revolucionou a maneira de consumirmos música. Tudo é mais rápido, imediato e rotativo. Também afetou o “fora das telas”, pois a maneira de vivermos a experiência dos shows ao vivo mudou completamente. E começa na compra express de ingressos de shows: exige programação online, porque quase voam.
Em 2009, por exemplo, um show do Paul McCartney vendeu 600 ingressos por segundo – e esgotou-se em 7 segundos. Os anos seguintes viram um aumento expressivo desse fenômeno – hoje, a maioria dos shows internacionais no Brasil esgota em minutos ou poucas horas, para revolta dos fãs. O último caso foi o de Taylor Swift, cujos ingressos terminaram rapidamente nesta segunda, 12.
Leia mais:
App “traduz” confusão de rótulos de alimentos
Aos fãs que não conseguiram ingressos, valem as vias alternativas – e potencialmente ilegais – como cambistas e trocas. Existem diversas maneiras apontadas para a compra do ingresso pelos cambistas. Não faltaram nas redes sociais registros de fãs da cantora americana acampados na fila para comprar ingressos, e acusações de que muitas pessoas foram pagas para serem intermediárias de revendedores, e estas usariam de violência para garantir prioridade de compra.
Depois de comprarem os ingressos, os cambistas teriam duas opções: a primeira, revenderem sozinhos e diretamente para fãs, muitas vezes no mesmo local da compra. A segunda opção é mais sinistra, e deduz que esses cambistas na verdade fazem parte de um “esquema” das produtoras de show, que vendem os ingressos propositalmente para cambistas para estes revenderem em preços exorbitantes.
Se antes os “camelôs” de ingresso eram pessoas de casacos e boné cochichando na porta dos espetáculos, hoje são sites paralelos e alternativos revendendo ingressos por preços exorbitantes, mesmo se comprados por meio dos canais oficiais. O maior problema, no entanto, é que as produtoras são apontadas como facilitadoras da compra por cambistas, estes que revendem as entradas por preços até 10 vezes maior que o original.
Assine a nossa newsletter!
Fique atualizado sobre as principais novidades em experiência do cliente
A deputada Erika Hilton (PSOL-SP) acredita no esquema ilegal para venda de ingressos. Em fevereiro deste ano, ela abriu um ofício no Ministério Público para a ”investigação de esquema ilegal de vendas de ingresso”. Na época, ela investigava o show de RBD, outro evento cujos ingressos acabaram rapidamente e foram vendidos minutos depois em sites de cambistas. Ela fez um pedido para ampliar o escopo de investigação e incluir os eventos relacionados à Taylor Swift.
“Há relatos de cambismo, casos de violência envolvendo cambistas e até suspeitas de serviços digitais voltados à “furar filas” virtuais pra compra de ingressos,” escreveu a deputada. Também houve relatos nas redes sociais de agressões físicas nas imediações da bilheteria.
Procon está de olho na dinâmica de venda de ingressos
O Procon-SP enviou um comunicado à imprensa informando já ter notificado a Time For Fun, empresa responsável pela venda de ingressos para os shows da TaylorSwift no Brasil. O Procon reivindicaque a empresa explique o que aconteceu e adote as medidas necessárias para resolver os problemas apontados.
A maior crítica é à falta de organização da venda de ingressos. Nos pontos físicos e digitais há pessoas “furando fila” para obter entradas, além de um fornecimento sem ordem de serviços.
Leia mais:
Empresas não respeitam LGPD ao usar o WhatsApp
Caso haja provas de que houve alterações mal-intencionadas na ordem de compra de ingressos ou desvios de compradores, as empresas responsáveis pela produção dos eventos citados podem responder por agir contra o Código de Defesa do Consumidor (CDC), que poderá atuar em busca da harmonização dos interesses dos participantes das relações de consumo e compatibilização da proteção do consumidor com a necessidade de desenvolvimento econômico e tecnológico.
O que se pretende investigar é se a venda de ingressos está sendo realizada de acordo com a “boa-fé e equilíbrio nas relações entre consumidores e fornecedores” e a “ coibição e repressão eficientes de todos os abusos praticados no mercado de consumo, inclusive a concorrência desleal (…) que possam causar prejuízos aos consumidores”, como explica o CDC.
Procurada pela Consumidor Moderno, a Time For Fun preferiu não se pronunciar.
+ NOTÍCIAS
Quais são os limites que caracterizam venda casada?
Número de brasileiro com plano de saúde bate recorde em 2023