Por mais amargo que seja o cenário do cacau, a paixão do brasileiro por chocolate parece resistir, ainda que com novas escolhas. Dois estudos recentes, um do Google e outro da Kantar, mostram que a crise de oferta da matéria-prima tem elevado os preços. Isso exige decisões mais racionais do consumidor nas compras. Mesmo assim, o consumo segue em alta, especialmente durante datas sazonais como a Páscoa. A diferença está no “como” e não mais no “quanto”.
Segundo levantamento do Google, 46% dos brasileiros declararam a intenção de gastar mais de R$ 100 com chocolates na Páscoa de 2025. Esse dado revela o apelo emocional da data e a resiliência da categoria. Ao mesmo tempo, as buscas por chocolates aumentaram 20% em relação ao ano passado, o que reforça o protagonismo do ambiente digital na jornada de compra. A antecedência na pesquisa (com 42% começando com pelo menos 15 dias antes da data) também indica um consumidor mais planejado e atento a oportunidades.
“Nos últimos anos, vimos o comportamento do consumidor mudar. Mesmo que mais exigente e menos impulsivo, em algumas datas, como a Páscoa, a tradição fala mais alto. Mesmo sabendo do aumento dos preços e da menor disponibilidade, os chocolates em formatos de ovos ainda têm o maior apelo para quem pretende presentear alguém na data”, comenta Camila Cardoso, líder de insights estratégicos do Google Brasil.
Oportunidades da Páscoa para as marcas
Entre os diversos formatos de chocolate, o ovo de Páscoa segue sendo o favorito dos consumidores. Segundo o estudo do Google, cerca de metade dos ouvidos planeja adquirir produtos nesse formato, especialmente na proximidade da data comemorativa. No entanto, a pesquisa também revela um aumento significativo no interesse por caixas de bombons, o que pode indicar uma preferência por alternativas mais econômicas ou ideais para presentear.
O levantamento destaca ainda que o ponto de venda físico continua com papel de destaque: mais de 50% dos entrevistados pretendem fazer suas compras em lojas físicas, especialmente em estabelecimentos especializados. Essa informação é estratégica para marcas e varejistas que desejam oferecer experiências de compra mais atrativas, tanto no ambiente digital quanto presencial. Ações integradas que criem senso de urgência e estimulem visitas às lojas físicas devem ganhar relevância nas campanhas deste ano.
O apelo comercial dos chocolates no Google mostra fôlego: os cliques em anúncios da categoria cresceram 25% no último ano. No Google Shopping, especificamente, os produtos de chocolate respondem por 30% dos cliques em anúncios, evidenciando o potencial da plataforma para impactar o consumidor no momento da decisão de compra. A busca por comparação de preços se mostra, assim, uma ferramenta valiosa tanto para os consumidores quanto para as marcas que desejam se destacar ao longo da jornada de compra.
“A Páscoa é um momento crucial para o mercado de chocolates, e os dados do Google revelam um grande interesse dos consumidores, que buscam não só por produtos, mas por inspirações”, afirma Cássio Brandão, head de indústrias do Google Brasil. “Para atender a essa demanda diversificada, as marcas precisam alcançar os consumidores em diferentes estágios da jornada, e hoje vemos inúmeras possibilidades para isso: televisões conectadas, cinemas, DOOH, áudio, metrô, relógios ou aplicativos, entre diversas outras opções. Estamos presenciando o melhor cenário para anúncios”.
Páscoa aquecida apesar do preço do chocolate
Apesar do aumento no preço do cacau, o consumo de chocolates dentro de casa continua em alta no Brasil e não deve sofrer impacto negativo na Páscoa deste ano, seguindo a mesma tendência observada em 2024. Segundo dados da divisão Worldpanel da Kantar, os brasileiros seguem buscando alternativas para manter o consumo da categoria sem pesar no orçamento. Esse comportamento é semelhante ao do ano passado, quando muitas pessoas optaram por opções mais acessíveis, como barras, bombons e caixas sortidas.
A Kantar mostra que, em 2024, as compras de chocolate durante o período da Páscoa (março e abril) cresceram 15% em comparação a 2023. Esse crescimento foi puxado principalmente pelos formatos regulares, especialmente barras (com aumento de 22,5%) e caixas, que representaram 45,3% do volume vendido na data. Ao todo, 44,4% dos lares brasileiros compraram chocolate nesse período, com destaque para os autosserviços como principal canal de aquisição. Entre os produtos mais presenteados, as caixas de chocolate lideraram, respondendo por mais da metade do volume destinado a presentes. Já os ovos de Páscoa registraram queda, caindo de 20% do total de vendas em 2023 para 12,6% em 2024.
Durante a pandemia de Covid-19, os ovos artesanais impulsionaram o consumo da categoria. Porém, em 2024, os industrializados voltaram a ganhar força, com um crescimento de 17,3% em relação ao ano anterior. As chocolaterias também têm ampliado a presença no mercado e são responsáveis por quase 30% do volume de vendas durante o período, graças aos preços mais atrativos em comparação com marcas tradicionais do varejo.
Alta do cacau exige novas escolhas
Ainda de acordo com a análise da Kantar, o segundo semestre de 2024 marcou o início de uma tendência de aumento nos preços dos chocolates, com um crescimento de 7% em relação ao mesmo período de 2023. Essa elevação refletiu em uma redução na intensidade das compras, o que impactou todas as classes sociais. Cada uma reagiu de forma distinta, mas com um objetivo em comum: buscar o equilíbrio do bolso para não abandonar a categoria de chocolates.
“Não esperamos um aumento em volume de ovos de chocolate este ano, mas o cenário pode se manter estável em relação ao ano passado. O consumidor deve apostar em chocolates em barra e caixas de bombons para equilibrar o bolso, assim como já está se habituando a fazer, com escolhas mais racionais para não abandonar a categoria”, frisa Juliana Kohler, diretora de contas da divisão Worldpanel da Kantar.
No último trimestre de 2024, consumidores de todas as classes sociais ajustaram suas estratégias para continuar comprando chocolates. As classes A e B optaram por marcas mais econômicas (alta de 8,4% no volume) ou migraram para produtos premium (crescimento de 10,6%). A classe C também demonstrou preferência por marcas premium (aumento de 9,4%), mas reduziu o volume total adquirido em 7,5%. Já as classes D e E priorizaram opções de menor custo, com um salto de 19,3% no volume de marcas econômicas. De forma geral, as marcas consideradas mainstream perderam espaço diante de um consumidor mais atento ao custo-benefício, reforçando a importância da diferenciação no momento da escolha.
Mesmo com o aumento de preços, os consumidores adquiriram 8,6% mais unidades por ida ao ponto de venda, embora tenham reduzido a frequência de compra em 4,8% em comparação com o último trimestre de 2023. Esse comportamento mostra uma adaptação do consumidor, que segue fiel à categoria de chocolates, mas tem adotado decisões de compra mais estratégicas.
“De acordo com o que acompanhamos na Kantar, o chocolate entrou nos lares brasileiros e não deve sair tão cedo. É uma categoria insubstituível no carrinho de compras. Então, em momentos de bolso mais apertado, o consumidor aposta em escolhas mais inteligentes, diminuindo a frequência dessa compra, ou optando por embalagens econômicas, por exemplo”, finaliza Juliana.
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