Elas começaram expressando suas opiniões e conhecimentos na internet, ganharam seguidores e hoje são consideradas influencers. Mas fizeram mais: conseguiram, a partir do espaço conquistado nas redes, criar negócios que levam seus nomes e rentabilizar o que produzem na internet. Não faz muito tempo que nomes como blogueira, vloggler, instablogler, youtuber entraram no vocabulário. E mal entraram já se tornaram profissões. Em painel disputado, que ocorreu neste segundo dia de BR Week, influenciadoras debateram o papel que as redes exerceram na construção do negócio delas. Sob a mediação de Leticia Menegon, coordenadora da Incubadora de Negócios da ESPM, elas mostraram que mais do que postar, sabem como construir marcas fortes.
A youtuber Niina Secrets criou, aos 16 anos, um canal no Youtube para dar dicas de maquiagem influenciada por outros canais que assistia. A partir do canal, ela criou um blog e marcou presença em outras redes. Hoje, o canal da youtuber tem mais de 2 milhões de inscritos. Para conquistar essa audiência, ela contou que aposta na proximidade e afinidade com o público. “As pessoas que me acompanham são próximas e é assim que me sinto como influenciadora e é assim que elas me veem também”, diz. Aproveitando essa influência e a experiência da mãe com confecção de moda, a influencer criou no ano passado a Niina Secrets Store, que vende de acessórios a camisetas.
Ao contrário do que se imagine, vida de youtuber não é fácil. Quando começou, a empreendedora não sabia o que fazer quando algumas marcas começaram a procurá-la. “Quando comecei, eu não tinha uma referência , um modelo a ser seguido e busquei ajuda de outras blogueiras”, afirma. “Há seis anos não fazia ideia de que estaria fazendo isso”, diz.
Karol Pinheiro, do Blog Karol Pinheiro, também não esperava que o seu blog virasse um negócio. Jornalista por formação, ela escrevia para uma revista focada no público adolescente, por meio da qual iniciou um blog, que cresceu e se tornou maior que a própria publicação. Quando recebeu um convite para fazer um intercâmbio em parceria com uma agência de viagens, ela decidiu que era hora de virar a chave. Hoje, ela está presente em todos os canais, e tem em cada um deles em torno de 600 mil seguidores.
Para ela, o cuidado com o que escreve e posta é um dos fatores que a tornou uma influenciadora. “Um ponto importante é a credibilidade. Eu apuro muito, pesquiso muito e tento transmitir a informação do jeito mais completo e sincero possível”, diz.
A necessidade de compartilhar o conhecimento sobre moda e de ter o nome reconhecido foi o que motivou Pamella Ferrari a criar o blog que leva o seu nome. Com 500 mil seguidores no Instagram, Pamella investe hoje na própria marca. “Em um ano percebi que meu público pedia algo mais sério e profissional e fiz virar um negócio”, conta. Formada em Direito, mas modelo de carreira, ela sabe a influência que exerce entre os seguidores. “Elas olham para gente, entram na nossa intimidade e o sucesso vem dessa proximidade. Sempre quis fazer a diferença na vida das pessoas. Eu poderia não ter encarado, mas entrei de peito aberto”, conta.
Quem também deu a cara a tapa foi Lênia Luz, criadora do blog Empreendedorismo Rosa, sobre empreendedorismo feminino. “O blog nasce como um projeto direcionado para mulheres e empreendedoras, sem formação em curso de administração. Nasce com o propósito de fornecer informações relevantes para empreendedoras. Com 700 mil seguidores, ela vê o blog como um negócio difícil de rentabilizar. Para chegar até aqui, Lênia passou por vários desafios: descobriu em 2002 um tumor cerebral, passou por um divórcio, e precisou se reinventar. Fonoaudióloga por formação, teve clínica, mas quando fez um curso na FGV viu uma lacuna a ser preenchida: o empoderamento feminino por meio do empreendedorismo. “Foi uma trajetória de empoderamento da Lênia também, porque tive de aprender novas habilidades, reconhecer as que eu tinha e não tinha”, diz.
Relação com as marcas
Na outra ponta, essas empreendedoras precisam lidar com grandes marcas – são elas que rentabilizam o negócio. “A maior dificuldade é a questão do patrocínio. Eu trabalho com conteúdo e o convencimento para chegar nas grandes marcas é mais complicado e tenho feito um trabalho para mostrar para as marcas que esse conteúdo agrega para elas, porque meu público é mulher e empoderada, ou seja, com renda para consumir”, revela Lênia.
No campo da moda e beleza, áreas onde atuam grande parte das influencers, a relação com as marcas às vezes é barrada por uma cultura mais engessada da grande indústria. “É tudo muito novo ainda e desconhecido, mas é impressionante como as empresas e as pessoas mudam rápido”, afirma Karol. Ela conta que a geração mais nova ajuda a abrir portas em grandes empresas, mas muitas vezes a burocracia para aprovação de um projeto mostra o quanto essas empresas ainda patinam ao lidar com o mundo digital. “A gente vê que lá fora as coisas acontecem mais rápido”, afirma Pamella. “Tem marcas que entram de cabeça e acreditam na gente. Tem marcas que a gente precisa explicar que aquele projeto ou produto não combina comigo”, diz
“É bacana acompanhar a evolução das marcas. Muitas entendem que o investimento que fazem com a gente é mais direto: eles vão falar com um público certo”, conta Niina. “Marcas mais antigas e multinacionais são mais difíceis de trabalhar. Às vezes a empresa pede aprovação de Snapchat….não tem aprovação de Snapchat!”, conta.
Conhecer o público é passo para influenciar
Para transformar o que produzem na rede em negócio, essas influenciadoras fazem muito bem o que muito varejo ainda patina: conhecer bem sua audiência. Elas fazem isso por meio de pesquisas e acompanhamento constante do impacto direto do que elas publicam e postam nas redes. “Acompanho de perto para saber o que meu público quer ver amanhã. Temos de responder as pessoas, caso contrário você perde essa ligação com elas. Temos de conhecê-las para saber como lidar com elas, para que elas confiem e acreditem no nosso trabalho”, afirma Pamella.
“Tem de estar ligado no que está acontecendo e manter o público perto para entender qual a necessidade dele”, afirma Karol. “Fazemos pesquisas para descobrir quem é meu público, o que ele quer e consome”, diz. “A gente faz uma pesquisa de seis em seis meses para saber sobre os temas que nossas seguidoras gostariam de ler, se estamos no caminho certo. Nossa métrica vai de pesquisa mesmo e fazemos essa coleta de dados. E a gente constrói a partir disso com cuidado”, afirma Lênia.