Em 2021, os raros consumidores que possuem um plano de saúde individual receberam uma notícia histórica: ao invés dos recorrentes aumentos, a Agência Nacional de Saúde Suplementar (ANS) aprovou um desconto de 8,2% nos planos de saúde. A boa notícia, no entanto, não vai se repetir este ano. Se as recentes projeções de especialistas se confirmarem, o brasileiro poderá precisará engolir nada menos que o maior reajuste da história do órgão regulador. O recorde foi de 13,57% em 2016.
De acordo com as recentes projeções, os reajustes estariam entre 15% e pouco mais de 18%, o que superaria com folga o recorde de 2016.
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O estudo mais recente é do IESS (Instituto de Estudos da Saúde Suplementar). De acordo com o levantamento, a variação dos custos médico-hospitalares feita pela IESS (VCMH-IESS), cálculo que verifica a média ponderada entre as diferentes categorias de preços do serviço, foi de 18,2% para o período de 12 meses, encerrado em junho de 2021.
“Observa-se uma retomada do crescimento do indicador em março de 2021, após oito meses de variação negativa. Destaca-se que nesse período a VCMH das terapias permaneceu positiva, ou seja, a despesa com esse tipo de procedimento cresceu. Também é importante notar que para internações e OSA (outros serviços ambulatoriais) o período de VCMH negativa foi curto (setembro de 2020 a novembro de 20 para internações e dezembro de 2020 a janeiro de 2021 para OSA) e a variação das despesas com esses itens tem permanecido positiva. Quanto a consultas a VCMH ainda está negativa e para exames ela ficou negativa até abril de 2021. Isso deveu-se exclusivamente a redução da frequência, pois os custos cresceram durante todo o período”, justifica a entidade no estudo.
Outra projeção de aumento está em um recente relatório do BTG Pactual. Eles apontam um crescimento menor que o IESS, porém acima do recorde de 2016: até 15%.
“O reajuste negativo de 2021 refletiu uma utilização anormalmente baixa (dos planos) em 2020, quando muitos procedimentos eletivos foram adiados na primeira onda de covid-19 no Brasil. Por outro lado, como as despesas médicas dispararam em 2021, enquanto a base de vidas nos planos de saúdes individuais encolheu, esperamos um forte aumento de preço para o ciclo de 2022″, informou o BTG.
ANS decide e ‘subtratamentos’
O próximo índice oficial começa a valer entre maio de 2022 e abril de 2023 e será definido pela ANS.
Segundo Rafael Robba, especialista em direito à saúde do escritório Vilhena Silva Advogados, é prematuro afirmar qual será a decisão da ANS, porém uma coisa é certa: haverá um aumento este ano, diferentemente do ano passado.
“De forma mais recente, o BTG Pactual divulgou uma previsão de 15% e agora o IESS soltou esse percentual de 18%. Eu vi ainda uma variação positiva de 12%. Por enquanto, eu penso que ainda é muito especulativo. A ANS vai fazer a apuração com base nos dados de todos os planos individuais do mercado, então ela tem uma análise mais ampla. Eu imagino que o índice não será negativo para este ano, mas não deverá chegar a 18%’, afirma.
Para Cláudio Tafla, presidente da ASAP, entidade sem fins econômicos criada para desenvolver uma gestão mais eficiente na saúde suplementar, a pandemia mudou a rotina nos cuidados com a saúde e resultou em “subdiagnósticos” e, consequentemente, ‘subtratamentos” no período.
“Toda essa inflação ainda tem uma demanda reprimida de casos em que, com a pandemia, as pessoas ficaram foram do ambiente de acompanhamento e gestão das suas doenças. Com isso, com certeza, nós vamos ter um ‘subdiagnóstico’ dessa população durante esse período, um ‘subtratamento’ das doenças crônicas não transmissíveis – hipertensão, diabetes – e um subdiagnóstico de cânceres, porque as pessoas não fizeram seus exames. Então tudo isso vai impactar num tsunami de casos que a gente vai ter que harmonizar junto com aqueles casos que vão acontecer naturalmente com a liberação da demanda”, afirma.
E os planos coletivos?
O futuro dos planos coletivos empresariais é outra incógnita quando o assunto é reajuste. No entanto, o aumento é quase certo e há quem aposte em um percentual bem superior aos planos individuais.
É o que afirma Daniela Scott Capanema, advogada do escritório Sarubbi Cysneiros Advogados Associados. “Enquanto os planos individuais apresentaram uma redução de valor no patamar de menos 8,19% em 2021, os planos coletivos tiveram um aumento de 16%, mesmo após um lucro de 50% de gastos no ano anterior em razão da pandemia. Ou seja, se mesmo com lucro histórico em 2021 as operadoras aumentaram 16% do valor das mensalidades dos planos coletivos, conjecturemos o enorme aumento que estar por vir com o retorno, em massa, dos usuários aos serviços. Certamente os consumidores dos planos coletivos deverão tirar o burro da sombra e esperar por significativo aumento das mensalidades em 2022”, afirma.
Era do Diálogo 2022
Este ano, A Era do Diálogo, que celebra 10 anos de existência, vai debater temas relacionados a planos de saúde em dois painéis imperdíveis.
O primeiro tema vai discutir os impactos da pandemia nos reajustes dos planos. No encontro, grandes especialistas vão apontar caminhos mais eficientes na gestão da saúde suplementar, além de discutir os cenários de reclamações e de ações na Justiça entre clientes e empresas. Vamos debater ainda temas como o modelo de saúde suplementar, o que inclui a atuação da ANS.
Outro assunto importante será o debate sobre uma possível retomada da oferta de planos individuais no mercado.
Hoje, pouco mais de 8% do total de usuários de planos de saúde são individuais. Se há pouco interesse de empresas mais tradicionais na oferta dos individuais, existem startups no setor que parecem dispostas a desbravar esse mercado. Qual o segredo delas e como elas lidam com o consumidor? As respostas estarão no evento.
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