O principal setor da economia brasileira, um dos que mais amargam perdas com a crise e termômetro fundamental do consumo, o varejo registra uma grave hipotermia. A gravidade e a deterioração dos fundamentos estão jogando o País no abismo, no qual o professor Delfim Netto diz que o Brasil não cabe. Será mesmo, professor?
Onde está a agenda para a retomada do crescimento e do desenvolvimento? Há alguma razão para os empresários varejistas serem otimistas, depois de um ano tão amargo para o setor? Os números de receita e de volume de vendas, salários, desemprego, inflação e taxas de juros dão um recado sério aos políticos de Brasília e de todo o País: ajam o quanto antes, deixem discussões infrutíferas de lado e tomem uma atitude urgente!
A Pesquisa Mensal do Comércio (PMC) de setembro divulgada pelo IBGE mostra um resultado assombroso: queda de 3,3% do volume de vendas varejistas em comparação a setembro de 2014. E isto apenas para varejo restrito ? quando considerado o varejo ampliado, que inclui o setor automotivo e de construção civil, a queda é de 7,4% na mesma base de comparação. Queda no volume de vendas se traduz em queda de receitas, que implica mais corte de custos e, portanto, em mais demissões, menos investimentos e intensificação no encerramento de atividades. Ou seja, falências, recuperações judiciais, desemprego.
Da mesma forma que a negligência, omissão e irresponsabilidade de empresas e do governo resultaram na tragédia em Minas Gerais, com um mar de lama varrendo um distrito do mapa, a negligência do governo com a economia está varrendo do cenário econômico micro e pequenos empresários.
Números da Serasa Experian mostram que as micro e pequenas empresas lideraram os requerimentos de recuperação judicial de janeiro a outubro de 2015, com 765 pedidos. Comparando outubro deste ano com o do ano passado, a alta no número destes pedidos foi de 17,24%. Em termos de falências, de janeiro a outubro desde ano foram realizados 1.483 pedidos de falências no país, um aumento de 5,55% em relação a igual período de 2014. Não à toa, a confiança do empresário do comércio, medida pela CNC, caiu 26,5% neste mês de outubro, na comparação anual. E depois do resultado da PMC, a CNC também ajustou sua previsão para o comércio em 2015, projetando queda de 4% no varejo restrito.
QUEDA NAS VENDAS SE TRADUZ EM QUEDA DE RECEITAS,
QUE IMPLICA MAIS CORTE DE CUSTOS E, PORTANTO, EM MAIS DEMISSÕES,
MENOS INVESTIMENTOS E INTENSIFICAÇÃO NO ENCERRAMENTO DAS ATIVIDADES
Mas o final do ano está chegando e, com ele, o período de ouro do comércio: Natal! Mais investimentos, maior necessidade de crédito: apuração da Serasa Experian indica alta da procura por crédito em outubro em relação a setembro (+3,8%), mas é somente reflexo dos preparativos para as vendas de final de ano. O quadro real fica por conta da retração de 10,1% em outubro em relação ao ano passado, sinalizando um nível de atividade bem mais fraco neste final de ano. E como já fora alertado anteriormente, o consumidor está tão apreensivo para gastar que a Black Friday pode ser um golpe de misericórdia no Natal, graças aos descontos que oferece. Afinal, quem quer tomar mais crédito, isto é, contrair mais dívidas, com taxas de juros que passam de 400% ao ano?
Ainda de acordo com a Serasa, a demanda de crédito dos consumidores caiu 2,4% quando se compara outubro a setembro, e comparado a outubro passado, o recuo é maior, de 8,5%. Para ilustrar consequências deste movimento, a atividade comercial em shopping no mês de outubro registrou queda de 2,7% em relação ao mesmo período do ano passado, segundo o Ibope. Não apenas as taxas de juros abusivas explicam este movimento, mas também a elevação do desemprego e a perda real do rendimento mensal das famílias. Será um feliz Natal mesmo?
Sobram notícias ruins. Há razão de sobra para comemorar o fim deste péssimo 2015, e faltam muitas para celebrar a chegada de um 2016 carregado de maus agouros para o varejo, indústria, empresários, empregados e desempregados. Planejamento, agenda objetiva de crescimento e desenvolvimento, metas de curto e de longo prazo: empresários sabem o quanto isto é essencial nos negócios. Falta a mesma visão para o Brasil, que segue hoje à deriva.
Eduardo Bueno, do CIP ? Centro de Inteligência Padrão