Entramos no último trimestre do inacreditável ano de 2017, que começou promissor, tornou-se um pesadelo e que se encaminha para um final em tom de deboche. Podemos comemorar o fim de uma recessão dolorosa, que ceifou empregos, lucros, empresas e esperanças e, enfim, podemos alimentar alguma esperança no futuro. O ano de 2018 desponta com promessas vãs de uma transformação nos costumes políticos embalados por mais uma Copa do Mundo.
No lado das empresas devotadas ao trabalho intenso, este 2017 coroou aquelas voltadas para a boa gestão, aquelas capazes de extrair valor de uma série de competências acumuladas ao longo dos anos e das experiências vividas e aprendidas. Felizmente, pudemos ver uma boa centena de empresas utilizando o melhor que as disciplinas atreladas à administração podem oferecer no sentido de tornar seus negócios mais robustos, mais competitivos, mas consistentes. Mais do que nunca, 2017 separou as empresas adultas, inteligentes e resilientes da maioria ainda perplexa e sem tônus para suportar uma crise severa.
Ainda assim, o momento é de mudança. E a mudança é o estado permanente de agora em diante no ambiente geral. Essa pressão evidentemente faz com que as empresas busquem desenvolver novas competências continuamente, em velocidade superior àquela que regrava o jogo competitivo. As mudanças vêm de todos os lados, mas têm dois vetores principais e intrinsecamente complementares: a evolução incessante do consumidor e a transformação digital, agora instalada no cerne da expansão da Inteligência Artificial e da Revolução Cognitiva.
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Consumidores que têm mais poder por conta de plataformas digitais de comunicação e que experimentam os limites dos sistemas de IA, que, por sua vez, captam e produzem um conjunto espantoso de dados, impõem às empresas novos desafios constantemente: como antecipar e perceber, no meio de tantas transformações, aquela que poderá desconstruir o meu negócio? E como proteger e gerar valor diante de tamanha imprevisibilidade? A inovação parece uma boa resposta, mas ela mesma traz riscos, pela sua própria característica: uma disciplina voltada ao erro, ao teste, ao aprendizado. A inovação que gera valor passa antes por muitas ideias que consumiram recursos e provavelmente desviaram o foco das atividades que a empresa conhecia bem. Mas esse conhecimento prévio é suficiente para gerar o resultado esperado? E podemos nos contentar apenas com o resultado esperado?
Durante mais de uma década, nossa cena corporativa esteve tomada por uma ilusão de crescimento fácil. A grande maioria das empresas dos mais diversos segmentos aplaudiu alquimias na economia e no mercado como se fossem uma saída tropical para os dilemas da modernidade e da competição que se ergueu após a crise financeira global. Mas a alquimia, como era de se esperar, não resistiu à realidade. O ouro produzido foi apenas o dos tolos, embevecidos pelas promessas de campeões nacionais e outras apostas que se mostraram frágeis e que culminaram na crise de valores vivida hoje.
Este é o lado bom do momento atual: o de podermos afinal rechaçar a solução de alquimistas e populistas e sermos atores de nosso próprio destino. Mais do que resultados que refletem lucros ocasionais, devemos construir negócios baseados na geração e multiplicação de valor, fundamentados em novas réguas de avaliação de performance e reputação. Nossa contribuição para essa nova mentalidade nasceu há cinco anos, com o estudo Mais Valor Produzido – MVP – que coordenamos em parceria com a DOM Strategy Partners. Não surpreende vermos a presença de dois grandes bancos comandando os rankings nesses cinco anos, bem como é um alento e um alerta verificarmos a expansão acelerada de um grupo de empresas transformadoras, basicamente de serviços digitais, que passam a gerar valor significativo, capturando negócios de empresas tradicionais na velocidade que é característica desses novos tempos.
Sim, em 2017 vivemos uma montanha-russa de sensações a partir das sandices de Brasília, mas foi também neste ano que se pôde prenunciar uma nova visão de mercado e de competição para as empresas. Quando nossos executivos mais competentes puderam enfim tomar as rédeas dos negócios com base em boa gestão, e novos profissionais conseguiram dar tração a negócios inovadores; o apelo à alquimia parece ter ficado para trás, felizmente.
A hora é de acelerar esse movimento. Boa gestão, baseada fundamentalmente na solução dos problemas dos consumidores é o caminho para criarmos mais valor, não apenas para acionistas e clientes. Mas para a sociedade e o País.