O Ministério da Saúde mostrou que os brasileiros estão mais obesos. Houve aumento de 67,8% nos índices de obesidade, o maior dos últimos 13 anos. A doença agora alcança 19,8% da população brasileira.
Já o número de pessoas com diabetes aumentou 60% entre 2006 e 2016, também de acordo com a pasta. A parcela de afetados pela doença era de 5,5% e chegou a 8,9% e os custos com a diabetes devem dobrar até 2030.
Ao mesmo tempo em que esses dados preocupantes são divulgados, há um movimento crescente que convoca as pessoas a se alimentar de maneira saudável. Blogs, empresas, influenciadores e produtores de conteúdo dão voz ao movimento. Alimentação saudável foi tema de debate do último dia do Whow! Festival de Inovação 2019, na quinta-feira (25).
Varejo e indústria entram nesse contexto, entendendo que os consumidores estão mais interessados em produtos saudáveis. Tanto é que o Carrefour lançou o Act for Food, movimento famoso para democratizar alimentos produzidos da maneira menos agressiva possível. A Seara, por exemplo, lançou a Nature, linha que tem frangos orgânicos.
É moda ou inovação?
Para Heloisa Guarita, sócia-fundadora e CEO da RGNutri, ter uma alimentação saudável é uma necessidade. “Há 20 anos as pessoas buscavam alimentação para ficarem mais magras ou fortes. Hoje, as pessoas pedem disposição, melhora dos níveis de estresse e melhora na qualidade de vida”, afirma.
“Mais do que a dieta individual a necessidade de mudança é do sistema alimentar como um todo”, diz Heloísa citando os dados de obesidade e diabetes no Brasil.
Flavia Machioni, autora do blog Lactose Não, destaca ainda o flexitarianismo, um jeito saudável de comer carne. A proposta é incluir a carne no cardápio de maneira controlada. “Isso te dá liberdade e acho que é nesse sentido que estamos caminhando, tanto consumidores como empresas”, diz Flavia.
Papel da indústria
Ainda que os consumidores se interessem mais por produtos saudáveis, a indústria precisa de retorno financeiro para desenvolver soluções mais sustentáveis e menos agressivas à saúde. “Vemos a indústria se movimentando aos poucos nesse cenário com a diminuição da quantidade de açúcar e sódio nos alimentos”, diz Gustavo Machado, consultor, professor de inovação e foresight da WK Prisma.
Heloísa é pragmática: “a indústria produz o que o consumidor compra, então para ela tanto faz”. Ela enxerga um delay entre o que a indústria começa a produzir em relação ao que os consumidores querem. Para ela, as empresas estão à frente dos consumidores e precisam se certificar que produzirão itens que vão gerar receita.
Machado fala sobre gestão da mudança. “O grande desafio é o timing. Não adianta entregar algo muito novo e que apenas uma pequena parcela esteja interessada, isso não vai ser rentável”.
Voltando às origens
Para os especialistas, é preciso mudar aos poucos. Isso vale para pessoas e empresas. Para Flavia, é necessário voltar a se conectar com o processo de produzir seu próprio alimento.” Se você faz o seu próprio doce tem mais consciência do que está colocando ali. Temos que resgatar isso”, opina.
Voltar a cozinhar pode ser a resposta para muitos de nossos problemas. Assim, os consumidores impulsionarão a mudança nas empresas, que também acontecerá aos poucos. “É uma questão de hábito cultural. A solução para a indústria em geral é que tudo seja feito devagar. Eu reduzo de 5% em 5% o sódio, não 30% de uma vez”, diz Heloisa.