Os algoritmos são ferramentas desenvolvidas pela tecnologia da inteligência artificial que operam por meio do reconhecimento de padrões de produção, interesse e consumo de ideias, produtos e serviços para indicar empresas que atendam a essas necessidades.
Ou seja, é o comportamento do usuário que irá definir o que será oferecido a ele mesmo, seguindo a lógica de sempre ofertar mais daquilo que o atrai. Ao executar essa tarefa muito mais rapidamente do que a mão de obra humana, os algoritmos, em seu início, representavam uma espécie de inovação em termos de presença de marca no dia a dia do usuário na jornada digital.
Porém, com a evolução do mercado e, consequentemente, dos aparatos tecnológicos, surge a discussão sobre até que ponto os algoritmos são positivos ao cliente, tendo em vista que há, de certa forma, a imposição de conteúdos. Afinal, o consumidor perdeu a sua liberdade?
As relações na era dos algoritmos
Demi Getschko, diretor-presidente do Núcleo de Informação e Coordenação do Ponto BR (NIC.br) e conhecido como um dos precursores da internet no Brasil, conta que o algoritmo é feito para atender as necessidades da empresa em termos de vendas de produtos ou atração do seu consumidor. Por isso, seu primeiro objetivo é manter o cliente em contato frequente com determinado tipo de conteúdo.
“Se o algoritmo não for malicioso, opera de forma não intencional, visando apenas acertar os interesses do cliente para que ele continue viciado nas mesmas coisas”, exemplifica. Contudo, o especialista elenca duas problemáticas oriundas desse modus operandi:
Limitação da visão de mundo ao oferecer sugestões repetidas, criando as famosas bolhas;
O consumidor fica inerte, se acomoda e não procura materiais sobre outros assuntos.
Hoje, para o profissional, houve uma inversão do que ocorria nos primórdios da internet: um dos principais trabalhos do usuário era conseguir achar o que queria, pois havia poucas plataformas on-line na época. Já atualmente, há informações de sobra no ambiente on-line e o desafio está em como administrar tudo isso para manter a saúde mental.
“Como perdemos a iniciativa de procurar conteúdo, nos restringimos a achar as coisas em pouco tempo e com quase nenhum esforço. Talvez devêssemos ter a opção e escolher que não nos seja sugerido nada, mas como estamos acostumados com a facilidade, isso provavelmente não vingaria”, relata Demi Getschko.
Para quem acha que os algoritmos são ferramentas distantes do cotidiano: ledo engano! Em sua maioria, estão presentes em mecanismos de busca – como o Google, ao elencar elementos por ordem de relevância, e em redes sociais, ao selecionar as publicações de mais interesse do usuário, uma vez que seria impossível acompanhar o que todos estão compartilhando.
Diante de tudo isso, com uma base sólida e que tende a crescer cada vez mais ao passo que o consumidor fornece dados a partir de suas escolhas no ambiente digital, os algoritmos vão ficando mais complexos, considerando mais variáveis ao definir o que será exibido.
Junto ao machine learning, a ferramenta pode gerar resultados interessantes em termos de estratégias de marketing, auxílio na escolha de canais de comunicação, produção de conteúdo de qualidade, acompanhamento de atualizações e por aí vai.
Os algoritmos possuem vieses?
Não e sim. Para o diretor-presidente do NIC.br, os algoritmos, em sua origem, no processo de programação, normalmente não são enviesados propositalmente. Entretanto, eles são capazes de aprender através dos dados que coleta e analisa, e é aí que está o problema.
Ou seja, se o indivíduo consome conteúdo sobre determinado assunto e está inserido em uma comunidade na qual os mesmos pontos são sempre reforçados, a inteligência artificial irá compreender que aquilo é importante, sem discernimento de que tal temática pode violar os direitos humanos.
“Se o gestor deseja que o algoritmo reflita uma realidade mais equânime, talvez ele deva definir o viés logo no início, pois a tecnologia não se comove: opera de forma fria e calculista, e não possui empatia para decidir quais situações seriam adequadas ou não. Por isso, inserir um viés humanístico em sua programação é a saída para que situações indesejadas ocorram”, explica Demi Getschko.
Desse modo, o especialista acredita que o algoritmo deveria ser uma ferramenta na qual o humano tivesse o controle das decisões finais. Até porque isso poderia evitar problemas éticos, em que o olhar subjetivo é necessário.
Exemplo disso é que para tarefas mais operacionais, como pesquisas com grande volume de dados, os softwares são aliados. Todavia, em certos casos que requerem análise de elementos mais específicos e decisões muito importantes, o indivíduo pode agir de forma mais adequada.
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Legislação vigente e privacidade
Não há, atualmente, no Brasil, uma legislação própria para o setor que obrigue as empresas a exporem como seus algoritmos funcionam. Logo, o diretor-presidente do NIC.br assume que esse é um território complicado, mas que pode ser atenuado com extensões da Lei Geral de Proteção de Dados (LGPD) em prol da defesa do consumidor, pois, muitas vezes, este não sabe o real impacto da tecnologia em seus hábitos de consumo.
Na prática, poderia haver a opção de o usuário selecionar quais dados quer resguardar, pois proteção e privacidade são essenciais. Além disso, existem diferentes níveis de interface entre o cliente e o provedor, que deveria determinar limites para o conhecimento de informações.
“Os algoritmos poderiam ser mais transparentes na divulgação, por parte das empresas, de quais dados são rastreados e como estes são utilizados. Entretanto, haveria um impasse, já que segredos de mercado podem estar concentrados nesta etapa de coleta”, finaliza Demi Getschko.
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