A história já é conhecida: a Netflix nasceu em 1996 como uma empresa de delivery de DVDs, que evoluiu mais rápido que grandes players, como a Blockbuster, e se tornou o que é hoje: o maior serviço de streaming do mundo, com mais de 125 milhões de assinantes e um valor de mercado que já ultrapassou os U$ 100 bilhões. Marc Randolph é conhecido por ser um dos fundadores da companhia, mas diferente da história da Neftlix, sua trajetória é conhecida por poucos: Randolph é um empreendedor serial.
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Antes de sua grande empreitada, o norte-americano criou seis empresas – todas de tecnologia e muitas das quais foram adquiridas por gigantes do setor. Mesmo após sua saída da Netflix, em 2004, ele não parou: fundou a Looker Data Sciences, está no board de outras seis empresas, é mentor e investidor-anjo – papel que, segundo ele, desempenha muito mal: “Isso porque eu adoro todas as ideias”. Em visita ao Brasil, onde participou do VTEXDAY, ele falou sobre as transformações que impactam os negócios e, claro, sobre a Netflix.
CM – Como analisa a velocidade das mudanças nos negócios e o impacto da transformação digital?
De fato, as coisas estão se movendo cada vez mais rápido. Metade do mundo está apavorada com essas mudanças e a outra metade está vendo tudo isso como uma oportunidade. Uma forma de responder a essa pergunta é verificar de qual lado você quer estar. Estou passando a maior parte do meu tempo acompanhando empresas em estágios iniciais e posso dizer que as oportunidades não estão apenas em um único lugar. Um exemplo: há 20 anos, mais de 90% dos investimentos de venture capital estavam concentrados nos Estados Unidos. Há 10 anos, esse porcentual era de 80%. Agora, soma 53%. Isso porque o mundo está mudando e em muitos países há empresas que estão vendo tudo isso como oportunidade.
Por outro lado, também acompanho empresas que estão morrendo, porque elas são muito grandes, muito lentas e burocráticas. São empresas que vão do ponto “A”, para o “B” e depois para o “C”, enquanto seus competidores estão pulando para o “X”. Eu estou do lado de quem adora mudanças rápidas e essa é uma das razões pelas quais eu passo muito tempo conhecendo novos lugares, como o Brasil. Há muita coisa acontecendo por aqui também.
O senhor se arrepende de ter saído da Netflix?
A resposta imediata é sim e não. Quando você fica velho, você aprende algumas coisas importantes. Se você tiver sorte, você compreende duas coisas: você descobre o que você gosta e descobre no que você é bom. E eu descobri que eu adoro descobrir e iniciar empresas em estágios iniciais e sou bom nisso. Em termos de felicidade, eu me arrependo um pouco, por não poder mais me sentar naquela mesa e ter as conversas interessantes que tínhamos. Hoje, invisto 99,9% do meu tempo trabalhando com empresas em estágios iniciais e eu amo isso.
Qual é o maior desafio da Netflix hoje?
Acredito que seja manter-se relevante à medida que o mundo muda. Eu conheço o DNA da Netflix, sei que ela sempre pensa e investe no futuro. Eles sempre dão passos importantes, passaram de uma empresa de DVD para uma empresa de streaming; de uma empresa de streaming para uma empresa de conteúdo; de uma empresa local para uma empresa global. E todo passo que eles dão é de forma tão impressionante que acredito que eles vão conseguir encarar esse desafio.
Qual é o segredo da empresa para manter os preços baixos?
É uma questão de escala. Você tem um círculo virtuoso: quanto mais assinantes você tem, mais você pode investir em conteúdo; quanto melhor for o seu conteúdo, mais assinantes você atrai e quanto mais você atrai, mais fácil é para você manter o conteúdo. E isso permite a empresa criar novos e diferentes conteúdos que atendam a demandas da audiência. Eles são muito focados nisso.