A maioridade do consumidor
Por Dorival Dourado Presidente da Boa Vista SCPC
A estabilidade monetária adquirida há 20 anos trouxe mudanças extraordinárias ao País, capazes inclusive de influenciar as relações do consumo, principalmente a partir da inédita inserção de mais de 50 milhões de pessoas no mercado consumidor.
O consumidor amadureceu muito nesse período. Em recorrentes pesquisas realizadas pela Boa Vista SCPC, temos observado que se compra cada vez menos por impulso, principalmente na classe C, ao mesmo tempo em que cresce a preocupação com o controle do orçamento e com a sua avaliação como tomador de crédito.
É um processo que teve (e ainda tem) espaço para muito aprendizado, já que o crédito foi por muito tempo pouco acessível à maioria dos consumidores. Mas o brasileiro parece assimilar rápidamente as novas lições.
Vários fatores contribuíram para esse aperfeiçoamento. E um dos destaques nesse sentido foram as ações voltadas à educação financeira, por parte de empresas, entidades e governo. Com mais informação, o consumidor foi melhorando sua percepção em relação ao crédito e aprendendo a lidar melhor com ele. E, a propósito, essa história foi acompanhada com pioneirismo pela revista Consumidor Moderno ao longo destes seus 20 anos.
Diversas outras iniciativas contam para termos um consumidor mais consciente, informado e ativo. Constatamos esse perfil cada vez mais claramente nos mutirões de negociação de dívidas realizados pela Boa Vista SCPC, tanto presenciais quanto on-line. Nesses eventos se consegue negociar diretamente dívidas em atraso, em ótimas condições, graças à maior aproximação entre consumidores e cedentes de crédito.
O que antes se resumia a uma ação de cobrança do devedor pelo credor, em muitos casos hoje toma a forma de um diálogo que preserva o relacionamento. A Boa Vista SCPC tem orgulho de ter sido pioneira na promoção de aproximações como essa, por meio da Campanha Nacional Acertando suas Contas, lançada em 2010.
Para citar mais um dado revelador dessa nova realidade do sistema de crédito, vale ressaltar que a inadimplência tem se mantido estável, em níveis inferiores aos do crescimento dos novos empréstimos nos últimos dois anos. Em 2014, por exemplo, o crédito cresceu 4,6% em termos reais e o Indicador de Registro de Inadimplentes do Consumidor da Boa Vista SCPC registrou alta de 2,3%.
Esse amadurecimento do consumidor também se evidencia a partir de outro dado das pesquisas que realizamos: o tempo médio de permanência da dívida no cadastro de inadimplentes, que tem caído progressivamente desde 2012.
Não faltam, enfim, evidências de que vivemos uma nova realidade e que as relações de crédito e de consumo estão hoje em um novo patamar, de maior qualidade. Ainda há um pedaço de caminho a percorrer, já que o cenário mudou muito em um espaço de tempo relativamente curto. No entanto, está mais do que demonstrado que o consumidor brasileiro tem grande capacidade de assimilação e vai continuar a evoluir, em sintonia com os cenários que forem se configurando.
Assim, daqui a 20 anos certamente teremos um quadro ainda mais positivo em relação ao crédito e consumo, sobretudo impulsionado pelo salto qualitativo que a efetiva incorporação das informações de hábito de pagamento (o Cadastro Positivo) trará para o sistema. Esse é o caminho para o crescimento sustentável do crédito, mola propulsora da economia e item indispensável para a construção de uma economia verdadeiramente desenvolvida.