Inovação é fundamento para a sobrevivência de qualquer negócio atualmente. Este clichê normalmente vem acompanhado de outros chavões (“crença na inovação”, “metodologias ágeis”, “transformação digital”), mas retrata, no caso brasileiro, um cenário frustrante: reimaginamos empresas e modelos de negócio muito mais no discurso do que na prática. Anos de indecisão e mediocridade política destilaram o apetite real de muitas lideranças, empreendedores e acionistas por praticar inovação. Falar que se busca inovação é uma forma de gerar conforto e até mesmo de cultivo de autoengano – a simples menção e disposição de inovar substituem uma atitude mais incisiva de realmente buscar formas de gerar dinheiro novo.
Inovar normalmente significa sacrificar um recurso hoje em apostas que trazem incerteza. Como viver e trazer para o negócio ainda mais incertezas do que aquelas que temos em nosso país? Tarefa inglória, delicada, sensível, que exige mais do que resiliência. Nem todos os executivos e empresas dispõem-se a pagar esse preço.
Por isso, uma recorrência natural na busca por inovação é o relacionamento com as startups. No Brasil, vemos um espaço receptivo para o desenvolvimento de novos negócios a partir dos conceitos e ideias criadas pelas fluidas, leves e ágeis empresas jovens. Elas trazem frescor e dinamismo ao mercado, confrontando modelos de negócios e oferecendo alternativas que melhoram as ofertas conhecidas. Logo, muitas empresas incumbentes buscam alinhamento, parceria, aquisição ou contratação de startups para inocular metodologia, inovação em suas veias entupidas pelo colesterol da burocracia.
Por si só, essa característica das startups já constitui um ganho excepcional para mercados modorrentos como o brasileiro, travados por décadas de pensamento protecionista e anticompetitivo. Temos poucas empresas de destaque no panorama internacional de inovação, pouquíssimas marcas com projeção global, mas um bom contingente de talentos importados por grandes players transnacionais. Mas o grande ganho da atividade das startups no País está justamente no que voa abaixo do radar: a prática das startups, seu foco em gestão, governança, desenvolvimento de modelos de negócio com agilidade, modelos escaláveis e paixão pela conversão. São elementos transformadores e perturbadores da ordem entendida como “natural” nos diferentes mercados. Transformadores porque trazem um repertório excepcional de ferramentas e sistemas de gestão, com ganhos de eficiência e captura de valor em pontos ocultos dos diferentes negócios. Perturbadores porque desafiam regulações e demonstram como negócios podem trazer eficiência exponencial para clientes se eliminarem intermediários, regras anacrônicas e usarem a tecnologia como meio de aceleração.
O aprendizado mais valioso da aventura e da jornada das startups no País é a capacidade de escalar negócios com extrema velocidade. Aceleração é vital para mercados que precisam crescer de modo ambicioso. As empresas incumbentes normalmente são lentas e já sabemos que normalmente é o rápido que engole o lento e não o grande que devora o pequeno. Inovar é fundamental, mas a transformação vital é tornar empresas mais rápidas, velozes, voltadas para execução acelerada.
A inovação tem um tempo. Ela obriga empresas a saírem da zona de conforto e a mudarem seu ritmo de tomada de decisões. Quanto mais startups impactarem o mercado, mais competências e nível de exigência são incorporadas ao cotidiano das corporações. Startups estão na corrida pela geração de valor e não no caminho da sobrevivência e do apego ao que fizeram. Se for necessário mudar o negócio do dia para a noite, assim será. Essa é a transformação imperceptível, sorrateira, que gradualmente remodela a tomada de decisões e força as empresas a mudança. Olhe para o interior da sua operação e compare os processos e o nível de exigência, conhecimento e agilidade que eram demandados há três anos com o que é pedido agora. A régua foi para cima ou a empresa simplesmente sucumbiu à irrelevância.
Essa é a ironia desses tempos estranhos: a referência e a busca por modelos não passa mais pelo que grandes empresas fazem. Startups têm inovação, mas são ainda mais valiosas porque mostram onde as empresas tradicionais fraquejam e por que são pouco competitivas.