Um dos grandes temas para o universo do consumidor em 2022, sem dúvida, é o início da operação comercial do 5G no Brasil. Empresas vencedoras do leilão ocorrido em novembro começarão a oferecer uma internet 20 vezes mais rápida que o 4G e com uma latência (o tal delay) perto de zero.
As três grandes operadoras do País serão as responsáveis por levar a 5G para todo o País. Em um primeiro momento, isso deverá ocorrer nas capitais brasileiras e, depois, para o interior do País. A Consumidor Moderno, inclusive, falou sobre o impacto da internet de quinta geração na última edição.
Para entender a expectativa, a CM conversou com Leonardo Capdeville, CTIO da TIM, sobre o que o consumidor terá a partir do 5G, falou sobre o atraso na aprovação de leis municipais que autorizem a implantação de antenas – algo imprescindível para a nova tecnologia -, entre outros temas.
Capdeville foi diretor de uma operadora concorrente, é formado pela INATEL e possui extensões em Harvard e um MBA em gestão empresarial pela FGV. Ele, um dos líderes da implementação do 5G na companhia, deu a seguinte entrevista a CM.
Consumidor Moderno – Na visão da empresa, o que realmente muda na vida do consumidor? A empresa já projeta os primeiros serviços relacionados ao 5G?
Leonardo Capdeville – A chegada da 5G promete revolucionar o Brasil. Para o consumidor, no dia a dia, o 5G além de maiores velocidades de navegação poderá ser percebido especialmente pela baixa latência (tempo de resposta), com o tempo de download de um filme, videochamadas mais nítidas e jogos online com melhor experiência.
Contudo, o 5G será responsável por habilitar o uso de soluções de Internet das Coisas (IoT) de forma massiva, com altíssima velocidade e baixa latência. Para se ter uma ideia, uma boa conexão de 4G oferece hoje velocidades entre 30 e 40Mbps, chegando a 100Mbps em uma conexão excelente. O 5G, por sua vez pode alcançar velocidades de 1 a 10Gbps – ou seja, uma diferença de 10 vezes ou mais, em relação ao 4G. Se pensarmos em latência, o 5G reduz o tempo que a informação leva para percorrer a rede em até 10 vezes, saindo dos 50 a 70 milissegundos do 4G para uma ordem de 1 a 5 milissegundos.
CM – E o que muda para as empresas?
L.C – O 5G permitirá o avanço da chamada Indústria 4.0 e aplicações de IoT com eficiência, segurança, flexibilidade e sustentabilidade. O uso mais intenso de IoT (B2B2C) estimulará a geração de mais negócios e empreendimentos também em cidades inteligentes, saúde, energia, logística, telemedicina, tecnologia de informação e comunicação e economia criativa, em um processo de transformação digital de vários setores.
A TIM hoje é líder em iniciativas e projetos IoT pelo país, investindo em infraestrutura e inovação, além da cobertura 4G, alcançando mais de 4.300 cidades, e contando inclusive com a maior rede de Internet das Coisas. Tudo isso nos permite explorar mercados como o Agronegócio, a Indústria Automobilística, Mineração e Logística, entre outros.
A chegada do 5G nos permite ampliar projetos em setores essenciais da economia brasileira, como o agronegócio (com sensores de medição em lavouras e transmissão de dados em tempo real), energia, transportes, logística e mineração, por exemplo. Queremos ser a fornecedora de preferências de empresas que querem investir em Telecomunicações e 5G no Brasil.
CM – Você citou cidades inteligentes. Por que o 5G é fundamental para esse conceito de hiperconectividade dentro das cidades?
L.C – Quando falamos de transporte e mobilidade, por exemplo, o 5G suporta mais dispositivos conectados ao mesmo tempo, permitindo a atuação de sensores e câmeras dos carros e equipamentos instalados nas vias, auxiliando na navegação dos veículos e nas tomadas de decisões dos softwares. Um exemplo prático de como a evolução da conectividade revolucionou a mobilidade urbana no mundo é o uso de aplicativos de transporte de pessoas.
Algumas iniciativas voltadas para cidades inteligentes já estão em prática com parceiros TIM pelo país, ainda que em rede 4G. Soluções para gestão remota de redes e medição de energia elétrica estão disponíveis no Marketplace IoT TIM e fazem parte de um projeto de conectividade que permite acompanhar, em tempo real, o desempenho de toda uma rede implementada com iluminação LED, a partir da transmissão e recebimento de dados enviados por um controlador independente instalado nas luminárias. Redes elétricas inteligentes que identificam comportamentos e predição de defeitos, e que, enviados a um sistema gestor, permitem rápida atuação e análise de dados informados. Projetos de Logística e Monitoramento fim a fim também já estão disponíveis.
CM – Quais os gargalos devem ser superados para chegarmos lá?
L.C – Podemos dizer que existem três desafios principais. O primeiro está relacionado à infraestrutura e trata da conexão entre a fibra e a antena, no que chamamos de primeira milha, a as dificuldades encontradas para implementação especialmente pelas dimensões continentais e as diferentes realidades encontradas pelo país.
O segundo trata da necessidade da regulamentação da Lei das Antenas, assunto que ainda tem legislações obsoletas ou ausentes, e que impede a expansão da rede pelo país. O terceiro desafio está relacionado ao ecossistema: para aproveitar todos os benefícios do 5G é preciso conciliar a cobertura de rede, dispositivos com preços mais acessíveis (smartphones, por exemplo) e aplicações que façam usufruto dessa rede. Parte do nosso desafio hoje é mostrar os casos de uso possíveis com o 5G e as aplicações para os vários setores da economia, e assim, preparar desde já as oportunidades para quando a tecnologia estiver pronta.